8 de Janeiro

8 de janeiro: veja o que a imprensa internacional está dizendo sobre o atentado

NY Times comparou a invasão da Praça dos Três Poderes com o ataque ao congresso americano em 6 de janeiro de 2021; El País destacou a desconfiança de Lula em relação aos militares

Ato golpista 8 de Janeiro - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Faz um ano que manifestantes bolsonaristas invadiram a Praça dos Três Poderes, em Brasília, na esperança de impedir a posse do presidente Lula. As imagens de depredação do Congresso, Supremo Tribunal Federal e Palácio Presidencial chocaram o Brasil, mas também causaram consternação no exterior. Muitos veículos estrangeiros cobriram os eventos do 8 de janeiro de 2022 e retomaram a pauta nesta segunda-feira (8), aniversário desse ataque à democracia.

O New York Times comparou a invasão da Praça dos Três Poderes à invasão do congresso americano, em Washington, no dia 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores do ex-presidente Donald Trump tentaram impedir a posse do atual presidente, Joe Biden. O veículo identificou que ambos os eventos representaram desafios semelhantes à democracia de cada país, mas provocaram respostas políticas completamente opostas.

"Nos Estados Unidos, o apoio à campanha de Donald Trump para regressar à Casa Branca está aumentando. Trump defende a ideia de que a sua derrota nas eleições de 2020 foi a verdadeira insurreição e chamou o dia 6 de janeiro de “um belo dia”", observou Jack Nicas, do NY times.

"Ao mesmo tempo, o seu homólogo no Brasil, o antigo presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, rapidamente desapareceu em irrelevância política. Seis meses depois de deixar o cargo no ano passado, as autoridades eleitorais proibiram-no de concorrer novamente até 2030, e muitos líderes de direita o evitam", continuou Nicas.

O jornal americano cita algumas razões para essa diferença de desdobramento. Enquanto os líderes da direita brasileira condenaram enérgicamente a invasão de 8 de janeiro, os políticos do partido Republicano dos Estados Unidos votaram contra a posse de Biden após os atos de 6 de janeiro.

Além disso, muitos brasileiros estavam vivos durante a ditadura civil-militar de 1964-1985 e não desejam retornar a um regime parecido. Por sua vez, os Estados Unidos não tiveram experiência semelhante, de forma que os Republicanos se sentem confortáveis em tentar reformular a invasão do congresso americano como um "ato patriótico" ou até mesmo um "autoatentado da esquerda".

Outra razão listada pelo NY Times é que "a fragmentação política do Brasil – 20 partidos diferentes estão representados no Congresso – torna os políticos mais dispostos a confrontar-se e a expressar uma gama mais ampla de opiniões, enquanto os conservadores americanos estão em grande parte confinados ao Partido Republicano".

Já o jornal El País ressaltou a "relação tensa e delicada entre Lula e militares um ano após a tentativa de golpe de Bolsonaro em Brasília". O veículo citou o jornalista Fabio Victor, autor do livro Poder Camuflado, que escreveu que, após o 8 de janeiro, "a desconfiança de Lula em relação aos militares aumentou exponencialmente".

"O jornalista dá dois exemplos: o presidente decidiu não decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, que teria mobilizado os militares para pôr ordem no caos, mas sim uma intervenção de segurança sob controle civil. Três horas e mais de mil prisões depois, a ordem foi restaurada", escreveu Naiara Gortázar do El País.

"Depois veio a segunda decisão. Demissão fulminante de dezenas de soldados que serviram como assistentes de ordens na Presidência. Lula colocou sua segurança nas mãos da Polícia Federal", continuou Naiara.