SAÚDE

Gasto calórico e perda muscular: as vantagens (e os desafios) de correr na areia

Cada vez mais pessoas estão aderindo a esse tipo de corrida de aventura que tem as praias

Correr na areia tem seus benefícios, mas demanda cuidados - Freepik

O calor opressivo somado à instabilidade do solo pode transformar a experiência de correr na areia em um desafio que testa a resistência mental e física. Porém, cada vez mais pessoas estão aderindo a esse tipo de corrida de aventura que tem as praias, as dunas e o deserto como principais cenários para diversos tipos de competições esportivas.

O desgaste físico aumenta quase 15% quando corremos na areia. E é proporcional à distância: quando mais você trafega por esse tipo de solo, mais cansado seu corpo fica.

Diante de uma disciplina física de longo alcance, que será realizada em solo macio e sob temperaturas extremas, o coração é posto à prova. Você terá que enfrentar as consequências desse tipo de esforço físico e subjugação ambiental. A areia muito fofa que exige um grande esforço físico dos músculos.

"O coração vai precisar de maior bombeamento e maior entrega de sangue, responsável por fornecer nutrientes e oxigênio a esses músculos para a realização da atividade. Com alta temperatura e umidade, o corpo precisa eliminar o calor que é formado pela mecânica muscular em uso e por uma condição ambiental adversa. Isso implica que ele baterá mais rápido para tentar fazer o sangue passar pela pele com maior velocidade e, consequentemente, eliminar o calor com esta ação. Nesse sentido, a tarefa que o nosso coração exige é extrema" explica o cardiologista Luis Cicco, membro da Federação Argentina de Cardiologia (FAC).

Conscientes desta procura, os corredores que optam por este tipo de corridas preferem terrenos mistos, onde superfícies mais sólidas e com pedras permitem uma passada mais limpa e melhor amortecimento e desempenho. Embora nem sempre seja algo possível e viável de encontrar.

Em qualquer caso, na oferta de eventos existe uma escolha de acordo com os gostos pessoais, as distâncias preferidas e os destinos com estas propostas.

Competições no mundo
A Maratona des Sables (Maratona das Areias), realizada ininterruptamente no deserto do Saara marroquino desde 1986, é uma das mais conhecidas e desafiadoras. Embora a primeira edição tenha contado apenas com 23 participantes, hoje reúne cerca de 1.400 atletas de elite de todo o planeta, que enfrentam e se expõem a situações extremas para atingir a meta.

No total, eles deverão percorrer 250 quilômetros divididos em trechos durante uma semana. São cinco etapas de 20 a 40 quilômetros cada e uma etapa de cerca de 80 quilômetros. O caminho? Planícies, lagos secos, montanhas, restingas, trechos de rochas, com subidas e descidas e encostas íngremes. Mas o detalhe extra que este evento acrescenta é a amplitude térmica que ronda os 40°C durante o dia e cai drasticamente à noite.

Só para citar alguns eventos, no Chile existe um com formato semelhante. Os Quatro Desertos (RacingThePlanet), é uma prova autossuficiente, em que o competidor deve carregar a quantidade de água durante quase todo o percurso. Claro que possui postos de controle onde os corredores são avaliados por um médico e atendidos quando necessário.

Na Argentina, a Maratona do Deserto, que acontece ininterruptamente há 23 anos em Pinamar, já é um clássico de todo verão. A competição alterna um circuito de aventura, em que é preciso atravessar dunas e trilhas, a metros do mar, com trechos onde se corre na mata.

Tudo é organizado para que o corredor viva e aproveite a experiência do início ao fim. Equipe de emergência experiente, conhecimento do terreno, veículos 4x4 localizados em diferentes pontos para uma visualização clara dos participantes, comunicação e plano de evacuação planejado e coordenado com a área de saúde do município são alguns dos aspectos que são levados em consideração nos bastidores.

No ano passado, a vencedora foi a atleta argentina Valeria Sesto. Radicada em uma pequena cidade da Inglaterra, ela corria descalça e, aos 50 anos, levou 58 minutos para superar os 10km de dunas e correr na areia, rumo à Costa Esmeralda.

Complicações
O preparo adequado é essencial para evitar complicações e prevenir lesões. Os problemas mais frequentes neste tipo de corridas são geralmente a insolação e a desidratação. Nas que são mais extensas e em terrenos que combinam deserto e montanhas, a altura costuma ser um problema para quem não conhece a localização geográfica.

"Um competidor inexperiente, estando 2 mil metros acima do nível do mar, para dar um exemplo, sentirá a diferença de oxigênio em seu desempenho. Soma-se a isso que geralmente há falta de hidratação suficiente e o aparecimento das clássicas cãibras por fadiga muscular e perda de minerais pelo suor excessivo" acrescenta Manuel Gamboa, corredor chileno com experiência neste tipo de corrida.

Como lembra o cardiologista Luis Cicco, o ser humano é homeotérmico e lutamos para manter a temperatura entre 36 e 37°C, independentemente do que nos rodeia.

"É importante que o profissional explique ao paciente como o corpo vai responder, o que vai acontecer com o desempenho físico e qual a melhor forma de lidar com isso" finaliza.