ELEIÇÕES

Favorita de Lula para vice de Boulos, Marta Suplicy tem patrimônio 630x maior do que líder da chapa

Embora acordo por aliança esteja avançado, acerto ainda não é confirmada pela pré-campanha do psolista

Marta Suplicy - Gervásio Baptista/Agência Brasil

A ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy (sem partido) aceitou o convite do PT para ser pré-candidata a vice de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Se confirmada a aliança, que é patrocinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a chapa será formada por candidatos com uma discrepância financeira de R$ 13,3 milhões na declaração de bens fornecida ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor declarado por ela é cerca de 632 vezes maior do que o por Boulos.

Em 2016, ano de sua última candidatura, Marta informou ter R$ 13.319.274,83 em bens. Já Boulos declarou possuir R$ 21.055,07 em 2022, quando disputou um assento no Congresso Nacional e elegeu-se deputado federal. Os dados estão disponibilizados na plataforma Divulgacand, da Justiça Eleitoral.

Os bens de maior valor declarados por Marta foram quotas de uma empresa avaliada em R$ 6,3 milhões e um apartamento no Jardim Paulistano (R$ 1,8 milhão). Ela também possui ações da Petrobras (R$ 502 mil) e da Vale do Rio do Doce (R$ 700 mil), além de fundos de investimento no Banco do Brasil no valor de R$ 1,7 milhão e R$ 591 mil.

Já Boulos declarou ter R$1.051,07 em saldo bancário e um automóvel avaliado em R$20.004,00. O Celta foi um dos protagonistas da campanha do psolista para a Prefeitura de São Paulo em 2020. O carro virou até tema de jingle, sendo chamado de Celtinha, e foi atração na região de Campo Limpo, bairro da zona sul da capital paulista onde fica a casa do candidato.

Atualmente secretária de Relações Internacionais do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Marta se encontrou com o presidente Lula em Brasília nesta segunda-feira (8), onde recebeu o convite para se filiar de novo ao PT e ser vice de Boulos. O marido da ex-prefeita de São Paulo, Márcio Toledo, e o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) estiveram presentes.

Boulos afirmou nesta terça-feira que não conversou com Marta sobre ela compor sua chapa nas eleições. A decisão sobre a definição de sua vice deve ser tomada exclusivamente pelo PT, afirmou ele.

— Vamos dar tempo ao tempo. O processo da definição da vice está sendo conduzido pelo Partido dos Trabalhadores. Não conversei com a Marta após o encontro dela com o presidente Lula — afirmou Boulos.

Nos bastidores, dirigentes do PT atribuem o convite pessoal do presidente da República ao fato de Nunes ter se aproximado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Dentro do PSOL, o nome da ex-prefeita, depois de ela ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff e se aliado ao ex-presidente Michel Temer, causa desconforto.

No entanto, o acordo entre PSOL e PT, selado em 2022 quando o líder sem-teto se retirou da disputa pelo governo de São Paulo para se aliar a Fernando Haddad — em troca do apoio de Lula a Boulos em 2024 —, é que os petistas teriam carta branca para escolher o nome para a vaga. Marta surgiu mais como alguém da vontade de Lula do que de uma construção coletiva na sigla que comanda o Planalto.

Reação de Nunes
Diante da informação de que Marta seria vice de Boulos numa chapa para concorrer às eleições municipais, Nunes marcou um encontro com a secretária no fim da tarde desta terça-feira. Segundo aliados, o emedebista deve demitir Marta da pasta que ela ocupa há três anos.

O Globo apurou com dois aliados próximos do emedebista que o ato de exoneração foi assinado pelo prefeito na tarde desta terça-feira (9). 

O motivo alegado por ele é a "quebra de confiança" da secretária. Segundo aliados, os dois marcaram de conversar pessoalmente no fim da tarde de hoje.