EQUADOR

Brasileiro sequestrado no Equador saiu para comprar carro e não voltou

Investigadores apuram se vendedor do veículo tinha intenção criminosa ou se Thiago Allan Freitas foi raptado no meio do caminho

Forças de segurança equatorianas entram nas instalações do canal de televisão TC do Equador depois que homens armados invadiram o estúdio, em Guayaquil - AFP

O brasileiro que foi sequestrado no Equador negociou a compra de um carro e marcou um encontro com o vendedor para ver o veículo antes de perder contato com a família. Irmão de Thiago Allan Freitas, Daniel Augusto Freitas disse ao Globo que o parente saiu de casa para ver o veículo e não voltou mais. Os criminosos entraram em contato com parentes no Equador, na manhã desta terça-feira, anunciaram o rapto.

Daniel diz que o sobrinho Gustavo, filho da vítima, relatou o caso a outro tio, Eric, que havia morado no Equador e de quem é mais próximo.

"O Eric começou a conversar com os sequestradores, tentou negociar. Inicialmente, eles pediram 8 mil dólares, mas depois disseram que a gente pode confiar que vão libertar o meu irmão se a gente chegar no valor de 3 mil, 4 mil" afirmou Daniel.

De acordo com o irmão da vítima, as investigações apontam, até o momento, que o sequestro de Thiago nada tem a ver com o "conflito armado interno" no Equador. O país vive um estado de exceção há dois dias, após a fuga da prisão do líder da maior facção criminosa local.

"O Eric me ligou ontem e disse que devido à divulgação, que ficou grande, parece que a polícia de lá e o Itamaraty estão dando maior atenção ao caso. Tudo indica que não tem a ver. Só que a gente ainda não sabe se a pessoa que ia vender o carro tinha essa intenção ou se [o sequestro] foi no meio do caminho. Acho que meu irmão estava no lugar errado, na hora errada" afirma.

Eric é o irmão mais novo de Thiago e Daniel. Ele tentou resolver a situação sem avisar a família no Brasil, para não preocupá-los. Como não conseguiu, alertou os parentes, que começaram a divulgar o caso.

Em um vídeo postado nas redes sociais, Gustavo, filho de Thiago, relatou que a família teria conseguido apenas parte do valor do resgate.

"Meu nome é Gustavo, eu sou filho de Thiago. Meu pai foi sequestrado nesta manhã. Já enviamos todo o dinheiro que tínhamos. Não temos mais. Por isso recorro a vocês, que me ajudem com o que têm, com qualquer valor, é muito bem-vindo. Se é US$ 1, US$ 2. Precisamos de verdade. Estamos desesperados. Não temos como fazer. Já pagamos US$ 1,1 mil, mas estão pedindo US$ 3 mil. Peço que nos ajudem. Muito obrigado" disse o jovem em um vídeo postado no Instagram.

Segundo o Itamaraty, as autoridades brasileiras estão em contato com a família de Thiago e apuram as "circunstâncias do ocorrido" junto às autoridades equatorianas.

"O Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada em Quito, acompanha com atenção denúncia de sequestro de cidadão brasileiro no Equador, mantém contato com seus familiares e busca apurar as circunstâncias do ocorrido junto às autoridades locais", diz o texto.

Natural de São Paulo, Thiago cita vive em Guayaquil, cidade que abriga o presídio de segurança máxima de onde o líder da principal facção criminosa do país, Fito, fugiu no domingo. A fuga foi o estopim para a escalada da crise de segurança pública no país.

Nas redes sociais, o perfil de Thiago é privado. No entanto, ele compartilha com os seguidores um pouco da vida e do trabalho como churrasqueiro profissional.

Thiago oferece o preparo de assados à moda brasileira e guarnições a domicílio. "Faça sua festa ou reunião na sua empresa com o melhor da parilla brasileira. Temos diversos cortes e guarnições", afirma a descrição da conta do negócio, denominado "La Brasa".

Desde outubro passado, o brasileiro também é dono de um estabelecimento "La Brasa" no Bamboo Plaza. "Venha desfrutar de um pedacinho do Brasil em Guayaquil", diz ele, numa postagem.

Em 48h, o presidente do país, Daniel Noboa, decretou estado de exceção e o cenário de conflito interno armado, medidas que, entre outras coisas, impuseram toque de recolher por 60 dias e autorizaram as Forças Armadas a "neutralizarem" membros de 22 grupos criminosos, que passaram a ser considerados "organizações terroristas".

Em entrevista à GloboNews, uma amiga da família relatou, sob condição de anonimato, o estado de angústia para arrecadar o valor pedido pelos sequestradores.

"Em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros", disse o ministério, em nota.