PGR

Gonet demite funcionário da PGR que compartilhou mensagens golpistas pelo WhatsApp

Antônio Rio Palhares foi flagrado fazendo ataques ao STF em conversas com dono o Tecnisa, Meyer Nigri

Funcionário demitido da PGR após mensagens flagradas pelo Polícia Federal - Reprodução Youtube

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, demitiu, ainda na primeira semana do ano, o funcionário do órgão que compartilhou mensagens golpistas e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo WhatsApp. A exoneração de Antônio Rio Palhares, publicada no Diário Oficial no dia 2 de janeiro, foi divulgada pelo portal UOL e confirmadas pelo Globo. Palhares foi flagrado pela Polícia Federal em trocas de mensagens de teor golpistas com dono o Tecnisa, Meyer Nigri, e citado em relatório enviando ao STF.

De acordo com as investigações, Palhares, ao comentar um possível encontro do então presidente Jair Bolsonaro com ministros do Supremo em 2021, afirmou que ‘apenas uma ação das Forças Armadas poderia enquadrar o STF’. Ele também compartilhou um vídeo do ministro Luiz Fux sobre a reunião, que acabou não acontecendo, e escreveu que “foi só os militares baterem os coturnos mais forte e o presidente do STF Luiz Fux foi pedir ‘penico’ a Bolsonaro”.

"A investigação também identificou a atuação direta de Meyer Nigri na divulgação de conteúdos demonstradamente falsos, os quais, conforme mensagens expostas ao longo do relatório, seriam sequencialmente difundidas por Niko Palhares, servidor comissionado da Procuradoria-Geral da República", diz o relatório da Polícia Federal.

As mensagens foram encontradas após Nigri ser alvo de um mandado de busca e apreensão por ser integrante de um grupo de empresários que discutia teses golpistas. Palhares também teria tentado intermediar o encontros de Nigri com outros membros da Procuradoria. Ele estava lotado na Secretaria de Segurança Institucional da PGR, com um salário de R$ 5,2 mil.

Investigação contra Nigri
A Polícia Federal apontou que um contato apontado como do então presidente Jair Bolsonaro solicitou ao empresário, em troca de mensagens por um aplicativo, que "repassasse ao máximo" uma mensagem que insinuava, sem provas, uma fraude do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições do ano passado. O texto ainda continha ataques ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF.

Relatório da PF mostrou ainda que a mensagem de Bolsonaro foi recebida por Nigri em junho de 2022. O ex-presidente tinha o hábito de mandar a mesma mensagem para diversos contatos, o que indica que possa ter sido enviado para outras pessoas.

Na época, um contato identificado como "Pr Bolsonaro 8" — que a PF afirma ser do ex-presidente — enviou a Nigri uma mensagem afirmando que Barroso cometeu "interferência" e "desserviço à democracia" por atuar contra a adoção do voto impresso. O texto ainda afirma, sem provas, que o instituto de pesquisa Datafolha estaria "inflando" os números do então pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva para "dar respaldo" ao TSE.

Ao final, a mensagem dizia: "Repasse ao máximo". Nigri, então, respondeu: "Já repassei pra vários grupos!". O trecho da conversa entre Bolsonaro e Nigri foi utilizado como justificativa pelo ministro Alexandre de Moraes para prorrogar a investigação contra o empresário.

O ministro concordou com um pedido da PF e considerou que o órgão "ratificou a existência de vínculo entre ele (Nigri) e o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito".

Através de nota divulgada pelo seu advogado, Meyer Nigri reafirmou "que jamais foi disseminador de notícias falsas, mas apenas, de forma eventual e particular, encaminhou mensagens de terceiros no aplicativo WhatsApp para fomentar o legítimo debate de ideias". O texto acrescenta que o empresário "sequer possui contas em redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram, nem em qualquer outra plataforma de disseminação em massa". "Por fim, com serenidade e respeito, reforça confiar na Justiça e ter plena certeza de que ficará devidamente demonstrado que não praticou crime algum", diz a nota assinada pelo advogado Alberto Zacharias Toron.