EQUADOR SOB ATAQUE

De Darwin ao narcotráfico, entenda em cinco pontos a história do Equador

Com 12 mortes e 70 suspeitos presos, país enfrenta 'Conflito Armado Interno'

Membros das Forças Armadas do Equador em operação nas ruas de Quito - STRINGER/AFP

Após o decreto do presidente Daniel Noboa que confirma "Conflito Armado Interno" em todo o território nacional, o Equador começou a contabilizar fatalidades e os danos causados pela atuação da maior facção criminosa num levante contra as forças de segurança do país. Nesta terça-feira, balanços preliminares apontam que 12 pessoas morreram e dezenas de pessoas foram presas, em incidentes relacionados aos atos de violência.

Confira abaixo cinco pontos sobre o Equador, um país estável da América do Sul que se viu, nos últimos anos, atingido pela violência extrema de grupos criminosos, um desafio ao governo, incluindo a invasão de um canal de televisão ao vivo.

Aumento do tráfico de drogas
Situado entre a Colômbia e o Peru, os dois maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador viu como a falta de segurança em seus portos transformou o território em um importante centro de distribuição da droga para a Europa e os Estados Unidos.

O presidente Daniel Noboa, eleito no ano passado para um mandato de 18 meses com a promessa de combater a crescente violência relacionada às drogas, anunciou estado de emergência na segunda-feira (8), após a fuga da prisão de um dos mais poderosos chefões do tráfico do Equador.

As gangues criminosas responderam invadindo um estúdio de televisão. Também fizeram vários policiais e agentes penitenciários de reféns, em uma onda de ataques que deixou pelo menos dez mortos.

Os confrontos entre grupos criminosos também levaram a repetidos chacinas nas prisões, com pelo menos 460 reclusos mortos desde fevereiro de 2021.

Este país andino com uma população de 16,9 milhões de pessoas vive a pior escalada de violência de sua história moderna. Os crimes relacionados com as drogas quadruplicaram a taxa de homicídios entre 2018 e 2022, subindo para 26 a cada 100.000 habitantes.

Povos indígenas em luta
Os mais de um milhão de indígenas de 14 nacionalidades reconhecidas lutam para defender seus territórios ancestrais ameaçados pela extração de petróleo e pela mineração.

Em 20 de agosto, coincidindo com o primeiro turno da eleição presidencial, um referendo decidiu suspender a exploração de um dos vários blocos petrolíferos da reserva natural Yasuní, no nordeste da Amazônia.

O último censo, que remonta a 2022, sustentou que os indígenas representam quase 8% da população, embora, segundo o líder e ex-candidato presidencial Yaku Pérez, constituam 25% com base em estudos antropológicos.

Os povos indígenas protagonizaram uma revolta histórica em 1990, após a qual o governo cedeu 2,3 milhões de hectares de terras em todo o país, com mais de um milhão de hectares correspondendo a comunidades na Amazônia, onde o petróleo é extraído.

A poderosa Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie) também participou de revoltas que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005. Liderou importantes protestos em junho de 2022, contra o aumento do custo de vida. As manifestações deixaram seis mortos e forçaram o governo Guillermo Lasso a reduzir os preços dos combustíveis.

Ex-protetor de Julian Assange
Durante sete anos, de 2012 a 2019, o fundador da plataforma WikiLeaks, Julian Assange, que publicou documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas dos Estados Unidos e de outros países no Iraque e no Afeganistão, encontrou refúgio na embaixada do Equador em Londres.

O país sul-americano retirou o asilo diplomático após a chegada ao poder de Lenín Moreno (2017-2021), mais próximo dos Estados Unidos do que seu antecessor esquerdista e ex-aliado Rafael Correa, hoje radicado na Bélgica.

Detido pela polícia britânica em abril de 2019, o australiano está, desde então, em uma prisão de segurança máxima perto de Londres, de onde recorreu da decisão de extradição para os Estados Unidos. Washington reivindica Assange para julgá-lo sob a acusação de divulgar documentos sensíveis à segurança nacional.

Petróleo, banana e camarão
A exploração do petróleo tem sido um pilar da economia equatoriana desde a década de 1970. O petróleo bruto, principal produto de exportação, gerou receitas de US$ 10 bilhões (R$ 49,1 bilhões na cotação atual) em 2022, cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB).

Os outros principais itens de exportação são camarão, cacau, rosas e bananas. É o principal exportador mundial dessa fruta, usada pelos traficantes para enviar cocaína para outros países. Espanha e Holanda, por exemplo, fizeram grandes apreensões dessa droga escondida entre bananas.

Ilhas Galápagos
Banhado a oeste pelo Oceano Pacífico, o Equador é um dos menores países da América do Sul com uma área de 256.370 km2.

As Ilhas Galápagos, que fazem parte de seu território e que inspiraram o naturalista britânico Charles Darwin em sua teoria da evolução das espécies no século XIX, são classificadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Mundial por sua fauna e flora, únicas no mundo.

Este arquipélago vulcânico, que deve seu nome às suas tartarugas gigantes, é um dos locais mais expostos à crise climática. Entre suas espécies ameaçadas estão iguanas marinhas, pinguins, biguás e leões marinhos.

Em maio passado, o Equador obteve a redução de aproximadamente US$ 1 bilhão de sua dívida externa, ao se comprometer a destinar US$ 450 milhões à proteção de Galápagos (R$ 4,91 bilhões e R$ 2,2 bilhões na cotação atual, respectivamente).