França

Macron reforça seu novo governo com referências da direita na França

Uma das mudanças mais significativas foi a nomeação como chanceler do eurodeputado e líder do partido presidencial

Presidente da França, Emmanuel Macron - Ludovic Marin / POOL / AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou, nesta quinta-feira (11), figuras da direita, como a ex-ministra da Justiça Rachida Dati, ao gabinete de seu novo governo com o objetivo de relançar seu segundo mandato e tentar frear a ascensão da extrema direita.

"O que quero é ação, ação, ação" e "resultados, resultados, resultados" para "responder aos problemas dos franceses", disse o primeiro-ministro, Gabriel Attal, em uma entrevista à rede TF1.

Dois dias depois de indicar Attal, de 34 anos, como o primeiro-ministro mais jovem da França e o primeiro abertamente homossexual, Macron confirmou a primeira série de nomeações, mantendo o núcleo duro de seu governo.

Uma das mudanças mais significativas foi a nomeação como chanceler do eurodeputado e líder do partido presidencial, Stéphane Sejourné, de 38 anos, que sucederá a diplomata Catherine Colonna a quatro meses das eleições europeias.

Sejourné, que foi casado com Attal, passou parte de sua infância e juventude na Espanha e na Argentina. A crise argentina de 2001 o levou a militar politicamente, primeiro no Partido Socialista e depois com Macron.

Contudo, a principal surpresa foi a entrada de Rachida Dati, de 58 anos e atual prefeita de um distrito de Paris, como ministra da Cultura, e de Catherine Vautrin, de 63 anos, como titular da pasta do Trabalho e Saúde.

Ambas são rostos conhecidos da direita e já exerceram cargos governamentais durante os mandatos dos presidentes conservadores Nicolas Sarkozy (2007-2012) e Jaques Chirac (1995-2007), respectivamente.

O nome de Vautrin inclusive foi especulado em 2022 como o de primeira-ministra. No entanto, seu passado de oposição ao casamento homoafetivo arruinou suas chances. Macron acabou escolhendo Élisabeth Borne como chefe de governo.

A nomeação de Dati foi acompanhado de polêmicas: seu partido, Os Republicanos (LR, oposição, direita), anunciou sua exclusão e Attal teve que defender a "presunção de inocência" da nova ministra, acusada de corrupção.

"Ancoragem direitista" 
Os analistas apontam um giro à direita do novo governo do presidente centrista, que perdeu a maioria absoluta nas eleições legislativas de 2022 e se apoia na direita do LR para suas reformas-chave.

"A entrada de Dati no governo confirma a ancoragem direitista do 'macronismo', que já era muito clara para os franceses, sobretudo após as duas simbólicas reformas da Previdência e da imigração", disse o analista Mathieu Gallard.

Mas o diretor de estudos no instituto de pesquisas Ipsos duvida que isso permita ao governo conseguir "um acordo mais amplo e mais duradouro com o LR". "Tudo dependerá da mensagem que Macron transmitir quando falar", disse.

Para além dessas mudanças, o mandatário reforça o núcleo duro do gabinete em um ano crucial: Paris sediará as Olimpíadas entre julho e agosto e a extrema direita lidera as pesquisas para as eleições do Parlamento Europeu de junho na França.

Os ministros da Economia, Bruno Le Maire; do Interior, Gérald Darmani; e da Defesa, Sébastien Lecornu, que abandonaram, em 2017, o LR para se unir às fileiras de Macron, seguirão em seus cargos, assim como Éric Dupon-Moretti, à frente da Justiça.

A ministra dos Esportes e Jogos Olímpicos, Amélie Oudéa-Castéra, assumirá também a pasta da Educação Nacional e Juventude deixada por Attal e considerada uma prioridade para Macron.

A midiática Prisca Thevenot, de 38 anos, será a nova porta-voz de um governo paritário de 15 membros - embora sejam esperadas novas nomeações nos próximos dias -, mas que conta apenas com homens nos ministérios considerados de Estado.