TECNOLOGIA

Especialistas explicam por que iPhone sobreviveu a queda de avião, mas pode se quebrar de mais baixo

Várias leis da física, um design robusto e uma dose significativa de sorte fizeram o 'milagre'

Foto fornecida por um passageiro mostrou a cena no avião, um Boeing 737-9 Max da Alaska Airlines, após pousar com segurança - NYT

Apenas 10 minutos tinham se passado desde que o voo 1282 da Alaska Airlines decolou do aeroporto de Portland, quando seus passageiros ficaram horrorizados ao ver que uma seção da fuselagem ficou solta, e causou a despressurização da cabine. As máscaras foram retiradas automaticamente e a aeronave iniciou o retorno à pista, declarando a emergência, com o buraco na fuselagem. Nesse pesadelo, que poderia ter terminado em tragédia, um iPhone ganharia grande destaque nas manchetes dos dias seguintes: sobreviveu intacto à queda da aeronave.

Sean Bates, cidadão de uma cidade perto de Portland, estava passeando por seu bairro quando seus olhos pousaram em um telefone celular em um jardim próximo à estrada. Ele foi até lá e encontrou um iPhone, em modo avião, mas mostrando o cartão de embarque do voo da Alaska Airlines. Momentos depois, ele ouviu falar deste voo na mídia e contatou as autoridades. Conforme Bates mostrou em suas redes sociais, o iPhone estava em perfeito estado, com alguns arranhões. Ele havia caído de uma altitude de 4,8 quilômetros.
 

Especificamente, era um iPhone 14 Pro, equipado com capa e película — dois detalhes importantes no desfecho do incidente. As autoridades entraram em contato com a companhia aérea, que rapidamente localizou o passageiro, que não havia encontrado o celular entre seus pertences. O aparelho foi devolvido totalmente operacional e com apenas alguns arranhões ao seu proprietário, enquanto este evento chocante ganhou destaque na mídia. Como um celular que cai de um avião em pleno voo pode sobreviver ileso?

Milagre?
Foi um milagre que não tenha quebrado? Não tanto. “Três elementos intervieram para que o telefone permanecesse intacto”, explica Luis Ángel Tejedor, professor de Engenharia de Comunicações Eletrônicas da Universidade Complutense, ao jornal El País. Segundo este especialista em física, em tese, não importa se o iPhone caiu de um avião a 5 quilômetros de distância ou do quarto andar.

— A segunda lei de Newton, a superfície de impacto e o design do dispositivo. Quanto mais tempo o telefone fica sujeito à força da gravidade, mais tempo atua a aceleração da gravidade 9,8 m/s², e atinge uma velocidade maior — explica.

Assim, se o celular cair de um avião, ele chegará ao solo com maior velocidade do que se cair do quinto andar.

Mas Tejedor refere-se a uma segunda força que intervém e retarda a velocidade do impacto: a força de atrito.

— Quanto mais rápido o telefone cai, maior é a força de atrito até chegar um momento em que a força de atrito se iguala à da gravidade e o objeto não acelera mais. Essa velocidade é chamada de velocidade limite — diz.

Desta forma, uma vez que a altura de queda do objeto seja suficiente para atingir a velocidade limite, não importa quão maior seja a altura, pois o objeto não acelerará mais. Então, na realidade, se o telefone cai de um prédio ou de um avião é irrelevante.

Soma-se a esta lei a massa e a área superficial do objeto:

— Em um objeto com muita área superficial e pouca massa, como uma bola ou uma pena, a força da gravidade é pequena e o atrito facilmente a equaliza em velocidades que não são muito altas — explica o especialista.

No extremo oposto encontraríamos um objeto com muita massa e pouca área superficial, como uma bala. O iPhone, plano e leve — principalmente em suas versões mais recentes — “desliza” com mais facilidade, atingindo uma velocidade máxima relativamente baixa.

Aterrissagem de sorte
Mas as leis da física, por si só, não seriam suficientes para explicar o que é inexplicável ao raciocínio de um mortal: apenas alguns arranhões num celular que cai de uma altura de 5 quilômetros. Este iPhone teve sorte, ou melhor, seu dono teve muita sorte: o aparelho caiu em um jardim bem próximo a uma estrada. A grama tornou as consequências mínimas.

Para além do bom senso, a ciência volta a entrar em jogo, desta vez com a energia cinética, como explica o professor:

— Essa energia, no momento do impacto, tem que ser dissipada de alguma forma. Se o telefone cair na grama, ele será dedicado a mover a grama macia, mas se cair no cimento ou no asfalto, que são rígidos, a energia será dedicada a deformar as diferentes partes do celular, destruindo-o.

Neste sentido, os fabricantes de dispositivos móveis abordam a espinhosa questão dos impactos de duas maneiras. Por um lado, podem desmontar completamente o celular — quem não se lembra dos primeiros Nokias pulando em mil pedaços —, mas sem sofrer um único dano. Por outro lado, podem apostar na durabilidade e resistência, como é o caso do modelo em questão, segundo José Hernández, do centro de reparação móvel Europa3G.

— O iPhone 14 Pro, um modelo particularmente durável em termos de quedas, tem um chassis de aço espacial — diz.

Hernández dá ênfase a outro elemento, além da sorte, da ciência e da qualidade dos materiais: a proteção adicional que possuía.

— Como pode ser visto nas imagens, o aparelho possuía uma caixa protetora e um protetor de tela de vidro temperado, o que reforça ainda mais toda a construção durável que tem em si.

Nesse aspecto, concorda Tejedor, além da atual resistência dos celulares de última geração...

— Eu colocaria um case.