RIO DE JANEIRO

Consequências das chuvas de janeiro escancaram falta de resiliência das maiores cidades brasileiras

No Rio, maior volume foi registrado no bairro de Anchieta, na Zona Norte, com teve 259,2 mm em 24 horas. É menos que o acumulado, por exemplo, na Rocinha em 2019

Avenida Brasil alagada na manhã deste domingo - Foto: Márcia Foletto

As chuvas deste fim de semana no Grande Rio e as que têm atingido São Paulo este mês escancaram a falta de resiliência das maiores cidades brasileiras ao clima. E não é preciso haver tempestades extremas. A chuva vira desastre sob a forma enchentes e deslizamentos, mesmo não sendo generalizada nem tão intensa.

Choveu muito desde a noite de sábado em vários bairros do Rio de Janeiro e de municípios do Grande Rio, mas a chuva não foi tão excepcional assim. Anchieta, por exemplo, teve 259,2 mm em 24 horas. É muito. Mas nem de longe perto das chuvas que caíram, por exemplo, na Rocinha, em abril de 2019, quando o acumulado em 24 horas foi de 343,4 mm, segundo o Alerta Rio.

O recorde da cidade é do Sumaré, em abril de 2010, com 360,2 mm. E, de 2019 para cá, o município do Rio registrou nove episódios de chuvas superiores a 289 mm em 24 horas, de acordo com o Alerta Rio.

A título de comparação, um volume semelhante ao máximo em 24 horas da chuva deste fim de semana caiu em apenas três horas em Petrópolis, em 15 de fevereiro de 2022, matando 233 pessoas. Na ocasião, foram registrados 250 mm em três horas.


Em 20 de março de 2022, Petrópolis teve 534,4 mm em 24 horas. Isso é um evento monstro. Mas não o maior que já tivemos. Estamos em tempo de mudança climática. Rio e São Paulo acabam se receberem o volume registrado em 18 de fevereiro de 2023 em Bertioga (SP): 715 mm em 24 horas, o maior acumulado do Brasil.

Temos tido chuvas extraordinárias. Mas em tempos de extremos climáticos exceção é regra. E anomalia é o novo normal. E esperada. Extremos do tipo “nunca antes”, “uma vez a cada 500 anos” se multiplicam ano após a ano.

E vale notar que o El Niño traz muito calor, mas não está relacionado ao aumento de desastres com chuvas no Sudeste.

Sirene e alerta meteorológico salvam vidas, mas não fazem milagre e estão longe de serem suficientes. Os problemas vão desde povoamento de áreas de risco à precariedade das redes de escoamento, passando pela falta de robustez da rede de energia e dos transportes. Este é ano de eleição e aumentar a resiliência — de fato, a sobrevivência urbana — é uma emergência.