Rio de Janeiro

Férias na Disney e críticas na web: chuvas no Rio expõem fragilidade política de Cláudio Castro

Levantamento da Arquimedes aponta que chefe do Executivo fluminense foi responsabilizado em 80% das postagens; articuladores reconhecem "percepção de abandono" causada pela ausência

Claudio Castro, governador do Rio de Janeiro - Tomaz Silva/Agência Brasil

Enquanto fortes chuvas inundavam o estado do Rio de Janeiro deixando doze mortos, pessoas sem casa e ruas alagadas principalmente na Baixada Fluminense, o governador Cláudio Castro (PL) coordenava a atuação de sua gestão à distância. Isto porque Castro estava de férias em Orlando, na Flórida, até este domingo quando embarcou de volta para casa — o Palácio da Guanabara estava sendo chefiado pelo vice-governador, Thiago Pampolha (MDB).

De acordo com a gestão, desde 2021, mais de R$ 4,3 bilhões foram investidos em projetos de prevenção aos desastres ambientais. Nesta segunda-feira, o Corpo de Bombeiros atua com 2,4 mil militares, drones, aeronaves, cães farejadores e especialistas em resgates. No total, foram realizados 268 resgates desde sábado e 186 atendimentos nas últimas 24 horas.

Apesar de já estar de volta ao trabalho nesta segunda-feira, a ausência do governador em um momento de crise teve grande repercussão negativa. Articuladores ouvidos pelo GLOBO afirmam que Castro estava acompanhando toda a movimentação, mas reconhecem que sua ausência pode ter causado uma percepção de abandono para a população. Outro fator apontado é a presença de Pampolha que, apesar de ter sido deputado estadual e ter seu reduto eleitoral em Realengo e Bangu, não é conhecido por todos os cidadãos fluminenses.

Por este motivo, ao longo do dia de domingo, o nome de Cláudio Castro ficou entre os assuntos mais comentados do X (antigo Twitter), sendo responsabilizado por políticos e cidadãos pela demora na resolução de conflitos.

Levantamento da consultoria Arquimedes, feito com exclusividade para o Globo, mapeou 36 mil publicações que mencionaram o governador até às 16h desta segunda-feira. 80% delas, segundo a pesquisa, de cunho negativo.

Um dos pontos chaves ocorreu em relação ao bolsão de água na rodovia estadual Washington Luís, que bloqueou a estrada formando uma retenção de seis quilômetros. No domingo, motoristas chegaram a enfrentar dez horas de congestionamento, até que uma pista de reversão foi aberta pela Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora Rio (Concer) às 14h45.

Neste meio tempo, a pressão nas redes foi tão grande que chegou a respingar no prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). De acordo com a Arquimedes, Paes foi citado em 43 mil postagens no X, sendo 68% contrárias ao prefeito — uma rejeição menor do que a alcançada por Castro.

— Eduardo Paes fez vídeos presenciais trabalhando, enquanto o Claudio Castro estava de férias, fora do país. O prefeito deu respostas mais adequadas às demandas, sobretudo no debate digital — avalia Pedro Bruzzi, pesquisador da Arquimedes.

Adversário de Castro, Paes chegou a alfinetar o governador, sem citá-lo nominalmente. Em um tuíte, o gestor municipal relembrou que esta concessão não é de sua responsabilidade. "Só para lembrar: a BR 040 é uma concessão e não fica na cidade do Rio. Antes que me culpem", disse o prefeito. Em seguida, afirmou que seu papel havia sido cumprido logo pela manhã com a liberação das rodovias localizadas na cidade.

A alfinetada, contudo, não foi a postagem de maior repercussão do prefeito. O post campeão de engajamento relatou uma ligação entre Paes e o presidente Lula (PT), na qual o chefe do Executivo teria colocado recursos federais à disposição da gestão municipal.