conflito

Equador retoma controle de prisões do país e liberta 150 reféns de facções criminosas

Exército enviou militares fortemente armados para enfrentar facções criminosas que se rebelaram na semana passada

Militares revistam presos no pátio da prisão de Machala - Forças Armadas do Equador/AFP

O Equador recuperou, nas últimas horas, o controle de todas as prisões do país. O Exército enviou militares fortemente armados para as unidades penitenciárias, em uma operação que começou no fim da semana passada, e libertou as mais de 150 pessoas que permaneciam como reféns, incluindo guardas e pessoal administrativo. Ao menos um funcionário foi morto durante as operações, que foram concluídas sem um banho de sangue generalizado.

Os presos foram colocados nos pátios, em filas e sentados, com os braços atrás da cabeça, em imagens que lembram as compartilhadas pelo presidente Nayib Bukele, de El Salvador, para demonstrar a derrota das gangues de seu país.

As facções criminosas do Equador, dedicadas ao tráfico de drogas em aliança com os cartéis mexicanos, até agora exerciam o controle "de fato" das prisões, de dentro delas, onde até recentemente estavam detidos seus principais líderes. A administração das organizações era feita do sistema prisional, cujas unidades funcionavam como um posto de comando.

Alguns acontecimentos sugerem que o controle das prisões pode não ser tão eficaz como se supõe. Do presídio de Esmeraldas, localizado na região de mesmo nome, absolutamente cooptado pelo crime organizado, escaparam 48 presos. Dois morreram durante uma perseguição. Na madrugada de domingo, outros seis escaparam da penitenciária do Litoral, em Guayaquil, quando se presume que as autoridades já haviam recuperado o controle.

A onda de violência iniciada há oito dias começou com a fuga de dois dos mais importantes líderes criminosos do país, José Adolfo Macías Villamar, vulgo Fito, líder de Los Choneros, considerado o criminoso mais perigoso do Equador, e a de Fabricio Colón Pico, membro do Los Lobos. Seguiu-se uma cadeia de ataques com os quais o crime organizado tentou subjugar as autoridades.

Em um dos eventos mais emblemáticos, homens encapuzados atacaram o canal público TC Televisión, ameaçando jornalistas com armas e explosivos durante uma transmissão ao vivo. O propósito desta ação é um mistério. Dezena de agressores, jovens, renderam-se assim que a polícia chegou ao local, sem oferecer resistência.

O presidente equatoriano, Daniel Noboa, declarou estado de conflito armado interno, o que implica a suposição de que há uma guerra dentro do país. Foi estabelecido toque de recolher, das 23h às 5h, e o Exército patrulha as ruas. Neste momento, segundo dados oficiais, existem mais de 1.500 detidos, incluindo 158 acusados de “terrorismo”. Noboa decretou que as gangues sejam vistas como organizações terroristas, o que agrava as penas e oferece mais margem para as autoridades enfrentá-las. Além disso, foram realizadas 41 operações contra estes grupos, durante as quais morreram cinco supostos criminosos e foram libertadas 27 pessoas sequestradas.

A Presidência equatoriana, em comunicado, assegura que as operações continuarão em todo o território nacional “com um objetivo claro” de ser implacável com aqueles que "assustaram e tiraram vantagem dos cidadãos.”

Noboa tem o enorme desafio de frear a escalada de violência que tomou conta do país nos últimos três anos. Até agora, dois outros presidentes, Lenín Moreno e Guillermo Lasso, testemunharam impotentes (ou negligentemente, dependendo de como se vê) uma deterioração da segurança em tempo recorde. No ano passado, a taxa de homicídios foi de 40 por 100 mil habitantes, uma das mais altas do mundo. Na gestão do esquerdista Rafael Correa, de 2007 a 2017, era de 5,78, uma das mais baixos da região.

Em muito pouco tempo, com a chuva de dinheiro que recebem por terem convertido o Golfo de Guayaquil no principal porto exportador de cocaína do mundo, com sua saída para o Oceano Pacífico, as gangues conseguiram uma preocupante infiltração nos principais Poderes do o Estado. Juízes, promotores, policiais, políticos e militares de alto escalão estão na sua folha de pagamento das organizações. Eles controlam portos, bairros, mercados.

Noboa tem que lidar com tudo isso com um orçamento muito limitado. Por isso, propôs aumentar o imposto para combater a escassez de polícias e militares. O fato de não ter maioria no Congresso obriga-o a negociar com o resto das forças políticas, que não veem com bons olhos um aumento de alíquota.

O presidente também propôs a organização de um referendo, na última semana de fevereiro ou na primeira semana de março, para aprovar a extensão das penas para crimes graves como homicídio e tráfico de armas, assim como ampliar as funções de segurança do Exército.