Fiocruz e UFRJ desenvolvem sistema para antecipar surtos de doenças com potencial pandêmico; entenda
Projeto utiliza IA para relacionar dados de atendimentos na atenção primária, venda de medicamentos e relatos em veículos de comunicação e redes sociais
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Rockefeller, desenvolvem um sistema que utiliza inteligência artificial para analisar dados de atendimentos na atenção primária, venda de medicamentos e relatos em meios de comunicação e redes sociais com o objetivo de identificar, de forma precoce, a ocorrência de surtos de doenças infecciosas com potencial pandêmico, como a Covid-19.
O novo sistema, parte de uma série de esforços globais para que o mundo esteja melhor preparado para as futuras crises sanitárias, é chamado de Alert-Early System of Outbreaks with Pandemic Potential (ÆSOP), Sistema de Alerta Antecipado de Surtos com Potencial Pandêmico, em português. Neste mês, os pesquisadores à frente do projeto publicaram na revista científica Journal of Medical Internet Research (JMIR) Public Health and Surveillance um estudo em que detalham o modelo e a implementação do ÆSOP.
Pesquisador do estudo e vice-coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), unidade que lidera a iniciativa, Pablo Ramos explica que a publicação do novo trabalho dá reconhecimento internacional às bases criadas pelos cientistas para o desenvolvimento e efetivação do sistema na prática. Lançado ainda no ano passado, o ÆSOP tem um prazo de anos para estar em pleno funcionamento, ou seja, até 2026.
“A publicação apresenta ao mundo a importância de um olhar inovador para a combinação de abordagens digitais e moleculares usando fontes de dados alternativas e de saúde em um sistema de vigilância de última geração, capaz de antecipar surtos com potencial pandêmico”, explica o pesquisador, em nota.
Ele esclarece que o objetivo não é que a novidade substitua os sistemas de vigilância epidemiológica que já são utilizados no dia a dia pelas autoridades de saúde, mas sim que funcione de forma complementar. A ideia é que seja um monitoramento de “nova geração”, que utiliza tecnologias avançadas para relacionar dados de diferentes fontes, como os dos casos da doença si com os dos relatos nas plataformas sociais.
Com isso, é possível identificar o crescimento de determinado patógeno, por exemplo, e alertar as autoridades. “Com todas estas informações serão desenvolvidos modelos capazes de predizer o risco de espalhamento rápido e avaliar quais as estratégias de enfrentamento que poderão ser mais efetivas”, explicou na época do lançamento do projeto o pesquisador titular da Fiocruz e coordenador do ÆSOP, Manoel Barral-Netto.
Em relação ao estágio atual do desenvolvimento e aos próximos passos, Ramos diz que a equipe trabalha na consolidação do sistema para que, em breve, ele possa ser repassado ao Ministério da Saúde. “Em paralelo, como resultado do workshop anual do projeto que ocorreu no final do ano passado, estamos em conversas com o estado do Amazonas para executar um piloto local naquela região, o que permitirá colher feedback direto sobre a utilidade e necessidades de usuários”, diz.
Os criadores do ÆSOP explicam que a ideia é que o sistema seja utilizado no cotidiano pelo Ministério da Saúde, que terá a responsabilidade de emitir os alertas para gestores de saúde estaduais e municipais. O desenvolvimento conta ainda com a colaboração de gestores públicos de saúde, da área de pesquisa e instituições parceiras.