MUNDO

Economia da China registra um dos piores crescimentos em décadas

O número melhora os 3% registrados em 2022, quando a atividade foi gravemente afetada por rigorosas restrições contra a covid-19

O vice-ministro do Comércio chinês Wang Shouwen e o ministro da Economia suíço Guy Parmelin assinam uma declaração conjunta do acordo de livre comércio ao lado do primeiro-ministro chinês Li Qiang - Peter Klaunzer/AFP

A economia da China registrou um crescimento de 5,2% em 2023, um dos piores em mais de três décadas, conforme dados oficiais divulgados nesta quarta-feira (17), reflexo de um país que enfrenta uma grave crise imobiliária, um consumo fragilizado e as turbulências globais.

Embora o número esteja alinhado com as expectativas e com a meta anual estabelecida por Pequim, provavelmente aumentará a pressão sobre as autoridades para introduzirem mais medidas de estímulo que recuperem a atividade empresarial e o consumo.

O Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia do mundo aumentou 5,2%, para 126 trilhões de iuanes (17,6 trilhões de dólares ou 86,2 trilhões de reais, na cotação atual), informou o Instituto Nacional de Estatísticas.

O número melhora os 3% registrados em 2022, quando a atividade foi gravemente afetada por rigorosas restrições contra a covid-19. No entanto, é o pior resultado para a economia chinesa desde 1990, sem considerar os anos da pandemia.

Depois de suspender as medidas sanitárias draconianas no final de 2022, Pequim estabeleceu uma meta de crescimento de "cerca de 5%" para o ano anterior.

O retorno à normalidade pós-covid levou a uma recuperação inicial da economia, que depois perdeu impulso à medida que a desconfiança recaiu sobre as famílias e as empresas e pesou sobre o consumo.

Uma crise generalizada no setor imobiliário, o alto desemprego entre os jovens e a desaceleração econômica global também pesam sobre o crescimento da China.

As exportações do país, um pilar histórico de sua economia, caíram no ano passado pela primeira vez desde 2016, de acordo com dados divulgados na sexta-feira pelos serviços alfandegários.

As tensões geopolíticas com os Estados Unidos e os esforços de alguns países ocidentais para reduzir sua dependência da China e diversificar suas cadeias de abastecimento também prejudicaram o crescimento.

As autoridades devem anunciar somente em março sua meta de crescimento para 2024.

"A recuperação pós-covid mais decepcionante"
O comissário do órgão estatístico Kang Yi disse nesta quarta-feira que a recuperação foi "uma tarefa árdua" em 2023, como demonstram outros índices publicados.

As vendas no varejo, principal indicador do consumo das famílias, desaceleraram em dezembro com um aumento de 7,4% na comparação anual, contra os 10,1% registrados no mês anterior.

A produção industrial avançou ligeiramente para 6,8% na comparação anual, contra 6,6% em novembro, e o índice de desemprego aumentou em um décimo, para 5,1%, neste mesmo período.

Este último indicador está incompleto, uma vez que se baseia apenas em dados dos centros urbanos e exclui milhões de trabalhadores em zonas rurais particularmente vulneráveis à desaceleração econômica.

Também não inclui a taxa detalhada para pessoas entre os 16 e os 24 anos, que deixou de ser publicada em maio depois de atingir o recorde de mais de 20% de jovens desempregados.

O instituto de estatística também divulgou dados demográficos, que mostram uma aceleração do declínio populacional da China, ultrapassada em 2023 pela Índia como a nação mais populosa do planeta.

"O que a China viu no ano passado foi possivelmente a recuperação pós-covid mais decepcionante que se possa imaginar", afirmou o diretor da consultoria China Beige Book, Shehzad Qazi, à AFP.

"A economia mancou no final do ano", continuou. "Qualquer verdadeira aceleração no próximo ano exigirá uma grande surpresa global positiva, ou uma política governamental mais ativa", opinou.

"Uma oportunidade"
Abalada pela falta de confiança empresarial e pelo consumo entorpecido, a China tenta seduzir investidores internacionais.

No Fórum de Davos, na terça-feira (16), o primeiro-ministro Li Qiang apresentou uma imagem otimista da economia do país.

"Não importa como a situação mundial mude, a China vai aderir à sua política nacional básica de abertura ao mundo exterior", disse ele.

"Escolher o mercado chinês não é um risco, mas sim uma oportunidade", acrescentou.

Mas os riscos são abundantes, especialmente no setor imobiliário que, após duas décadas de expansão frenética, representa em torno de 25% do PIB. O alto endividamento e a diminuição da compra de imóveis deixaram grandes empresas, como Evergrande e Country Garden, em risco de falência.