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Por desabastecimento, Cremepe interdita Hospital Barão de Lucena para internações programáveis

Determinação vale, em um primeiro momento, por 30 dias, mas pode ser ampliada a depender das próximas vistorias

Hospital Barão de Lucena, no Recife - Maíra Arrais/SES-PE

O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) interditou, na noite dessa quinta-feira (18), serviços do Hospital Barão de Lucena (HBL), no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife. Em entrevista coletiva de imprensa nesta sexta (19), o Cremepe explicou que a decisão foi tomada após vistoria no local constatar diversos problemas, como desabastecimento grave de medicamentos e insumos básicos.

A interdição cautelar ética parcial suspende o trabalho médico nos internamentos para cirurgias eletivas programáveis, com exceção das oncológicas, para pacientes com câncer. Com isso, todas as cirurgias que possuem a possibilidade de serem adiadas ou transferidas para outras instituições não devem mais ocorrer no HBL. As demais operações devem ser notificadas ao Cremepe, acompanhadas das justificativas para serem realizadas.

Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) realiza coletiva de imprensa para falar sobre a situação do Hospital Barão de Lucena. Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

De acordo com o conselho, condições de trabalho precárias também foram identificadas, com relatos, inclusive, de cotinhas para compras de medicamentos.

"Conversamos com pacientes e identificamos diversas irregularidades. Dentre elas, estava falta de antibióticos e de medicamentos básicos. Isso demonstra uma fragilidade enorme da unidade médica. Também nos foi relatada a existência de uma cota de médicos para compra de medicamentos para os pacientes do SUS. De acordo com o corpo clínico da unidade, isso era rotina. Segundos alguns pacientes, eles mesmos chegavam a comprar medicamentos para tratamento no hospital", contou o presidente do Cremepe, Mário Jorge Lôbo.

Para o presidente do Crempe, um motivo para essa "insegurança" seria a rotatividade na gestão hospital. "Apenas em 2023, seis pessoas passaram pelo gestão de recursos e abastecimento na unidade. Isso pode ter agravado muito o processo de desabastecimento para que chegássemos até aqui agora", completou.

A decisão do Cremepe havia sido notificada à diretoria do hospital ainda em dezembro do ano passado. À época, foi dado um prazo de 30 dias para que a autarquia solucionasse os problemas. Após mais uma visita, no entanto, as medidas não teriam sido acatadas, o que resultou na interdição. 

O Cremepe notificou a Secretaria de Saúde de Pernambuco e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Em 15 dias, eles irão retornar ao HBL para verificar se os problemas persistem.

"Essa interdição tem um teor de 30 dias. Caso os problemas persistam após novas fiscalizações, esse período pode aumentar. Esperamos que os entes responsáveis pela saúde de Pernambuco tomem as medidas cabíveis para que situações como essas não aconteçam mais", explicou o presidente do Cremepe.

"Relatos de angústia"
De acordo com o Cremepe, as justificativas apresentadas pelo Hospital Barão de Lucena consistem nas mudanças recentes de gestão. Ainda assim, de acordo com relatos, os profissionais tentavam, acima de tudo e de todos, desempenhar seus papéis e resolverem os problemas dia após dia.

"São relatos de angústia. Nós desempenhamos uma profissão que envolve muito amor da nossa parte. Ouvimos casos de compras não só de medicamentos, mas até de pagamento, dos próprios médicos, para realização de biopsias. É um caso revoltante, porque são pessoas que precisam fazer de tudo para salvar as outras e, nesse momento, não estavam conseguindo", começou o presidente do Cremepe.

"Para se ter uma noção, havia uma falta de tubos de respiração para recém-nascidos. A situação é grave. Claro que sabemos que interdições não salvam bebês, mas esse é um caso extremo que precisava dessas medidas para estabelecimento de um compromisso do hospital", completou Mário Jorge Lôbo.

Na última terça-feira (16), pacientes do Hospital Barão de Lucena fizeram diversas reclamações sobre as condições da unidade, como grandes filas e falta de vagas para agendamento. 

Hospitais fiscalizados
Além do Hospital Barão de Lucena, foram fiscalizados diversas unidades médicas em Pernambuco. De acordo com o Cremepe, no entanto, nenhum chegou a apresentar problemas de estrutura como o HBL. "Nós não identificamos casos tão graves de desabastecimento como o Barão de Lucena, por isso essa foi a nossa primeira medida", disse.

Em nota, a Secretaria de Saúde de Pernambuco informou que os atendimentos na urgência e emergência estão mantidos normalmente na unidade.

Confira o comunicado na íntegra:

"A diretoria do Hospital Barão de Lucena, vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, informa que os atendimentos na urgência e emergência estão mantidos normalmente na unidade, além dos procedimentos eletivos de cirurgia vascular e oncológicos.

Uma força-tarefa já foi montada para otimizar a compra de insumos e evitar o desabastecimento no HBL.A diretoria decidiu na data de ontem (16/01) que casos específicos de cirurgias eletivas de baixa e média complexidade estão sendo reavaliados e se for necessário pacientes serão redirecionados para outras unidades da rede de saúde. 

A diretoria informa ainda que a decisão não afetará a assistência a estes pacientes e que com a regularização dos estoques o atendimento das eletivas será normalizado."