Biden, o 'anti-Trump': uma estratégia com futuro?
Diversos eleitores de Trump têm preocupações legítimas sobre temas como a imigração
A estratégia do presidente americano, Joe Biden, para um segundo mandato parece centrada no fato de ele não ser Donald Trump, mas será suficiente para que ele permaneça na Casa Branca após as eleições de novembro.
A esmagadora vitória de Trump nas primárias de Iowa abriram o caminho do ex-presidente para uma revanche com Biden da qual o democrata parece gostar muito.
Apesar dos seus baixos índices de popularidade e de intenção de voto nas pesquisas, nas quais está empatado ou atrás de Trump, o líder democrata dá a entender que seu antecessor é seu rival favorito.
Biden centra-se em dizer aos eleitores o que não é, mas alguns democratas prefeririam que ele falasse sobre o que fará caso permaneça na cadeira por mais quatro anos.
Em seus comícios, tem retratado Trump, sobre quem pesa vários processos criminais e civis, como um ditador.
Diz que o magnata republicano está obcecado com as represálias, enquanto ele é o único que pode vencê-lo e salvar as instituições dos Estados Unidos.
“Essas eleições serão, em última instância, entre Donald Trump e Joe Biden. E isso traz clareza”, disse à AFP Abou Amara, advogado e estrategista democrata.
“Não será apenas um debate sobre políticas, será uma luta sobre a democracia em si”, acrescentou.
Aterrorizada
O entorno de Biden também recorre ao fator medo para atrair os eleitores.
A vice-presidente Kamala Harris disse que está “assustadíssima” diante da possibilidade de que Trump volte à Casa Branca, enquanto a ex-primeira-dama Michele Obama reconheceu estar “aterrorizada”.
Trump, que afirmou falsamente que a vitória eleitoral de Biden em 2020 foi um “roubo”, contra-ataca dizendo que Biden é quem ameaça a democracia.
As vozes críticas, especialmente os democratas mais jovens e progressistas, reclamam que o atual presidente não explica como pensa em melhorar suas vidas em um segundo mandato.
Os estrategistas de sua campanha deixaram de se vangloriar de seu grande plano econômico conhecido como “Bidenomics”, porque muitos eleitores disseram ter dificuldade para chegar ao fim do mês por causa da inflação.
Em vez disso, atacam Trump, e é possível que essa estratégia dê resultado.
As últimas pesquisas mostram Biden atrás nos principais estados, mas em uma realizada na Universidade de Quinnipiac em 10 de janeiro, o democrata ganha por pouco do republicano na decisiva Pensilvânia, com 49% contra 46%. Em outubro, Trump vencia por 47% a 45%.
E, segundo as pesquisas, os eleitores consideram que “preservar a democracia” é o mais importante, à frente da segurança fronteiriça e da economia.
Depois da esmagadora vitória de seu antecessor em Iowa sobre seus rivais republicanos Ron DeSantis e Nikki Haley, Biden insistiu em que ele “ainda era a única pessoa que derrotou Donald Trump”.
O presidente também utiliza o magnata como desculpa para arrecadar fundos. Conseguiu 1,6 milhão de dólares (7,9 milhões de reais) durante as 24 horas anteriores às primárias de Iowa.
“Vai ser uma eleição entre duas pessoas cujas histórias e estilos de governo os eleitores não têm o que especular”, afirmou à AFP William Galston, pesquisador da Brookings Institution.
“Discurso negativo”
Mas pôr os holofotes em Trump e o fato de que os democratas qualifiquem seus partidários de “extremistas MAGA” (em alusão ao slogan Torne a América Grande de Novo em sua sigla em inglês) pode ser contraproducente.
“Acredito que esse discurso negativo sobre o MAGA vai prejudicar a campanha eleitoral de Biden”, declarou Jamie Dimon, conselheiro delegado do banco americano JPMorgan Chase, à rede MSNBC.
Diversos eleitores de Trump têm preocupações legítimas sobre temas como a imigração, indicou.
Os ataques de Biden a ao republicano relegaram a segundo plano alguns assuntos importantes.
“É certo que tem que ter algo mais do que essa mensagem”, concorda Amara.
Entre esses temas da campanha dos democratas estão, por exemplo, os direitos reprodutivos, tendo em conta que a indicação de magistrados conservadores para a Suprema Corte durante o mandato de Trump contribuiu para anular o direito constitucional à interrupção voluntária da gravidez.
Também deveriam transmitir “mensagens” selecionadas aos jovens, aos afro-americanos, às mulheres e aos idosos, opinou Amara.