Netanyahu inflexível contra 'soberania palestina' em Gaza após guerra contra o Hamas
Israel deve garantir que Gaza "deixe de representar uma ameaça" e esta condição "contradiz a exigência da soberania palestina", afirmou Netanyahu
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reiterou neste sábado (20) sua oposição a uma "soberania palestina" na Faixa de Gaza, cenário de intensos combates contra o movimento islamista palestino Hamas em uma guerra que já dura mais de 100 dias.
Israel deve garantir que Gaza "deixe de representar uma ameaça" e esta condição "contradiz a exigência da soberania palestina", afirmou Netanyahu durante uma conversa com o presidente americano, Joe Biden, informou o gabinete presidencial israelense.
O primeiro-ministro de Israel já havia afirmado na quinta-feira (18) que seu país deveria controlar a segurança "de todo o território a oeste do rio Jordão", uma região que engloba a Cisjordânia ocupada e Gaza.
O conflito começou em 7 de outubro com um ataque sem precedentes contra o território israelense lançado por este grupo islamista, considerado uma organização "terrorista" por Estados Unidos e União Europeia.
Os milicianos do Hamas mataram 1.140 pessoas, majoritariamente civis, segundo contagem da AFP com base no balanço oficial israelense, e sequestraram outras 250, das quais uma centena foram libertadas durante uma trégua em novembro.
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva aérea e terrestre que já deixou quase 25 mil mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas desde 2007.
Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, pediram nas últimas semanas uma redução das vítimas civis em Gaza e defenderam a criação de um Estado palestino como garantia de segurança regional.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou neste sábado que "a negativa em aceitar uma solução de dois Estados para israelenses e palestinos, e a negação do direito do povo palestino a ter um Estado são inaceitáveis".
Esta postura "prolongaria indefinidamente um conflito que se tornou uma grave ameaça para a paz e a segurança mundiais, exacerbaria a polarização e incentivaria os extremistas em todo o mundo", advertiu Guterres na cúpula do Movimento de Países Não Alinhados, realizada em Uganda.
No entanto, a solução de "dois Estados" entra em conflito com a visão de futuro do governo israelense.
Biden ainda acredita "na perspectiva e na possibilidade" de um Estado palestino, mas "reconhece que será preciso muito trabalho para chegar lá", informou a Casa Branca.
"A ilusão que Biden apregoa a favor de um Estado da Palestina (...) não engana nosso povo", reagiu, neste sábado, em um comunicado, Izzat al Richiq, membro do escritório político do Hamas.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou na sexta-feira que a solução "de dois Estados deve ser imposta do exterior para trazer a paz" e acusou Netanyahu de estar "boicotando" esta via.
"Para impedi-la, chegaram eles mesmos a criar o Hamas. O Hamas tem sido financiado pelo governo de Israel para tentar fragilizar a Autoridade Palestina do Fatah", afirmou.
Um correspondente da AFP informou sobre tiros de artilharia e bombardeios no sul de Gaza, especialmente na região de Khan Yunis, epicentro das operações militares.
Segundo o Exército, tropas israelenses destruíram "infraestruturas terroristas" em toda a faixa costeira.
O Hamas também relatou intensos combates no norte do território devastado de cerca de 2,4 milhões de habitantes.
As forças israelenses divulgaram no sábado panfletos em Rafah, com fotos dos reféns, e pediram aos moradores desta cidade na fronteira com o Egito que comunicassem qualquer informação sobre o seu paradeiro. Israel estima que ainda haja 132 cativos em Gaza.
Conflagração regional
Além de sua operação militar, Israel mantém, desde 9 de outubro, um "cerco completo" a Gaza e exerce um bloqueio praticamente total da entrada de água, alimentos, medicamentos e combustível.
A Organização Mundial da Saúde lamentou as "condições de vida desumana" dos habitantes deste território devastado.
O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) alertou que 375 mil pessoas enfrentam "desnutrição grave" no pequeno território de 362 km2.
O conflito em Gaza também agrava as tensões entre Israel e os grupos armados na região apoiados pelo Irã, como o Hezbollah libanês ou os huthis do Iêmen.
Neste sábado (20), os Guardiões da Revolução iranianos anunciaram a morte de pelo menos cinco de seus membros em um "ataque aéreo executado pelos aviões de combate" israelenses que destruiu um prédio residencial em Damasco, capital da Síria.
A imprensa iraniana afirmou que no ataque morreram o chefe de inteligência para a Síria dos Guardiões e seu adjunto.
O Exército israelense, contactado pela AFP, não quis comentar as informações.
Na sexta-feira, os Estados Unidos voltaram a bombardear posições dos rebeldes huthis no Iêmen, depois de eles terem reivindicado a autoria de um ataque contra um petroleiro americano no Golfo de Áden.
E na fronteira israelense-libanesa, outro ponto quente, o Exército israelense bombardeou posições do Hezbollah no sul do Líbano, depois que o movimento islamista atacou Israel.