ASSASSINATO

Caso Marielle: quem é quem na investigação do assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes

Pelo menos 13 pessoas aparecem como tendo algum envolvimento na trama do crime, incluindo intermediários, executores e suspeitos de atuarem na eliminação das provas

Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes - Reprodução

O acordo de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos contra a vereadora Marielle Franco (PSOL), pode ser o ponto final da investigação que já dura quase seis anos. Desde que a Polícia Federal assumiu o caso, em fevereiro do ano passado, vários personagens envolvidos na trama foram revelados. A lista dos nomes relacionados à morte e à eliminação de provas inclui, pelo menos, 13 pessoas. Confira abaixo o que se sabe sobre cada uma delas.

Os executores

Ronnie Lessa

Ronnie Lessa foi preso em março de 2019 pela participação nos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes. Na delação de Élcio de Queiroz, ele é apontado como autor dos disparos que mataram a vereadora e seu motorista. Lessa foi expulso da PM e condenado, em 2021, a quatro anos e meio de prisão pela ocultação das armas que teriam sido usadas no crime.

Élcio de Queiroz

Queiroz é ex-sargento da Polícia Militar e foi expulso da corporação em 2015. Na delação, afirmou que dirigia o carro que perseguiu o veículo onde estavam a vereadora e seu motorista, além da assessora Fernanda Chaves, que sobreviveu ao atentado.

Está preso desde 2019 e fez a delação premiada na qual apontou a participação de mais uma pessoa, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, nas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Investigações embaraçadas

Domingos Brazão

A primeira vez em que o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) Domingos Brazão se viu envolvido nas investigações do assassinato de Marielle foi após o depoimento do policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, que acusou o então vereador Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando Curicica como sendo os mandantes do crime.

A Polícia Federal desconfiou e concluiu, após investigação, que Ferreirinha e sua advogada, Camila Nogueira, faziam parte de organização criminosa cujo objetivo era atrapalhar as investigações sobre a morte da vereadora.

A Procuradoria Geral da República pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que Brazão fosse investigado por suspeita de ter utilizado um policial federal aposentado, que era funcionário de seu gabinete no TCE-RJ, para levar Ferreirinha ao falso testemunho.

Em 2019, a subprocuradora-geral da República denunciou Domingos Brazão ao STJ por tentativa de embaraçar as investigações no caso Marielle. Depois, o caso voltou ao Estado, e a Justiça do Rio de Janeiro rejeitou a denúncia contra o conselheiro do Tribunal de Contas pelo crime de obstrução de Justiça na investigação das mortes da vereadora e do motorista. A decisão foi do juiz Andre Ricardo de Franciscis Ramos, da 28ª Vara Criminal.

Brazão já havia sido investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio e pela própria Polícia Federal, mas nada havia sido efetivamente provado contra ele.

Procurado pelo Globo, o conselheiro Domingos Brazão disse estar confiante na Justiça:

— Depois das famílias de Marielle e Anderson, posso garantir que os maiores interessados na elucidação do caso somos eu e minha família. Tenho fé que, se houver mesmo essa delação, que, graças a Deus, isso termine logo.

Os intermediários do crime

Edimilson Oliveira, o Macalé

Edimilson Oliveira, o Macalé, foi apontado na delação do ex-PM Élcio de Queiroz como a pessoa que teria intermediado a contratação de Lessa para o assassinato de Marielle Franco. Segundo Élcio, ele também participou de uma tentativa frustrada de executar a vereadora em meados de 2017.

Ele foi executado em Bangu, em 2021. Mas, antes de ser morto, era considerado um dos braços direitos do bicheiro Bernado Bello e integrante da sua equipe de segurança. Bello é acusado de ser o autor intelectual do assassinato do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid, no carnaval de 2020.

José Carlos Roque Barboza

O policial militar da reserva José Carlos Roque Barboza foi apontado como um dos elos entre o mandante e executor do crime. Informações da delação do ex-PM Élcio de Queiroz dariam conta de que Roque teria sido o responsável por fornecer a Ronie Lessa, réu como autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, o Cobalt prata usado no crime.

O policial também foi apontado um dos chefes da segurança do bicheiro Bernardo Bello.

Tentativa frustrada

Maxwell Simões Correa, o Suel

Ex-sargento do Corpo de Bombeiros, Maxwell Simões Correa, também conhecido como Suel, foi preso no ano passado. Apontado como cúmplice de Lessa, é acusado de ter cedido um carro para a quadrilha, esconder as armas após o crime e auxiliar no descarte delas.

Segundo Queiroz, ele também participou da tentativa de matar a vereadora em 2017. Naquela ocasião, Maxwell, que estava dirigindo, não teria conseguido emparelhar com o táxi onde estava Marielle na hora que Lessa mandou. Suel alegou que deu um problema no veículo, mas Ronnie teria dito a Élcio que "não acreditava que teve problema, que foi medo, refugou”, segundo consta na delação.

Eliminação das provas

Elaine Pereira Figueiredo Lessa

Mulher de Ronnie Lessa, chegou a ser presa na operação Submersus, da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio, em outubro de 2019. Contra ela havia a suspeita de que tenha comandado as ações para sumir com as armas do marido e apagar vestígios da quadrilha.

Edilson Barbosa, o Orelha

Foi procurado por Maxwell, em Rocha Miranda, para tratar do descarte do Cobalt usado na emboscada que vitimou Marielle e Anderson, segundo a delação de Élcio de Queiroz.

Bruno Figueiredo

Irmão de Elaine Lessa, Bruno também foi alvo da operação Submersus, acusado de ter ajudado a irmã na ocultação de provas. Ele teria auxiliado Márcio Gordo a entrar em um condomínio do Pechincha para recolher armas guardadas por Ronnie Lessa.

José Márcio Mantovano, o Márcio Gordo

Outro alvo da operação que prendeu os irmãos Elaine e Bruno. Ele foi flagrado em vídeo retirando uma caixa, supostamente com armas, que estava em um apartamento que Ronnie Lessa mantinha no Pechincha, onde morava sua sogra.

Josinaldo Lucas Freitas, o Djaca

Teria recebido as armas recolhidas por Márcio Gordo e alugado um barco para se livrar delas em alto mar. Entre essas armas estaria a submetralhadora HK MP5 usada para matar Marielle e Anderson.

João Paulo Vianna dos Santos Soares, o Gato do Mato

Apontado como amigo e ex-sócio de Ronnie Lessa, teria recebido a submetralhadora MP5 usada pelo ex-PM no crime.

Aviso sobre operação de 2019

Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o Mauricinho

O PM teria recebido de Jomar Duarte informações sobre uma operação no caso Marielle, em 2019, e repassado para Ronnie.

Jomar Duarte Bittencourt Junior, o Jomarzinho

Apontando como tendo passado a Mauricinho a informação sobre uma operação que teria Ronnie Lessa como um dos alvos.