Bombardeios

EUA atacam milícias pró-Irã no Iraque, ampliando temor de expansão de guerra

Bombardeio ocorre em meio à escalada de tensão no Oriente Médio, devido à guerra entre Israel e Hamas em Gaza e as agressões no Mar Vermelho diante os ataques dos rebeldes houthis

Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin - Stefani Reynolds / AFP

Os Estados Unidos realizaram bombardeiros aéreos contra instalações utilizadas por grupos pró-Irã no Iraque, informou o secretário de Defesa, Lloyd Austin, nesta terça-feira (23). Pelo menos duas pessoas morreram na ação, que ocorre poucos dias após os ataques contra funcionários norte-americanos no Iraque e na Síria, no fim de semana. 

O episódio desta terça soma-se ao cenário de tensão no Oriente Médio, alimentado pela guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, as ofensivas no Mar Vermelho diante os ataques dos rebeldes houthis, e o comportamento agressivo do Irã registrado na última semana.

"As forças militares dos EUA realizaram ataques necessários e proporcionais em três instalações usadas pelo grupo de milícia Kata'ib Hezbollah, apoiado pelo Irã, e outros grupos afiliados ao Irã no Iraque", disse o chefe do Pentágono em um comunicado, acrescentando que a ação é uma "resposta direta a uma série de ataques escalonados contra o pessoal dos EUA e da coalizão [internacional anti-jihadista] no Iraque e na Síria", criada em 2014 para combater o grupo Estado Islâmico (EI), "por milícias patrocinadas pelo Irã".

Austin também não descartou novos bombardeios, afirmando que estão "totalmente preparados para tomar novas medidas para proteger o nosso pessoal e as nossas instalações", e pediu que as milícias e seu patrocinador "cessem imediatamente os ataques".

O Comando Central dos EUA divulgou, em uma publicação no X (antigo Twitter) também nesta terça, que as forças americanas estavam "conduzindo ataques aéreos unilaterais", tendo como alvo "quartéis-generais do Kata'ib Hezbollah, armazenamento e locais de treinamento para foguetes, mísseis e capacidades de ataque unidirecional de UAV".

Um oficial de segurança e um líder dos antigos combatentes do Hashd al-Shaabi, uma facção iraquiana próxima ao Irã, afirmaram à AFP que os ataques atingiram a área de Jurf al-Sakhr, a 60 quilômetros ao sul de Bagdá, e a região de al-Qaim, na fronteira com a Síria, onde matou ao menos duas pessoas.

O porta-voz do Kata'ib Hezbollah, Jaafar al-Husseini, afirmou que continuará atacando "bases inimigas" até que Israel pare o conflito e suspenda o "cerco total" imposto à Gaza dois dias após o ataque terrorista do Hamas, também apoiado pelo Irã, em seu território. A ofensiva matou ao menos 1,2 mil pessoas e fez 250 reféns, segundo as autoridades israelenses. A publicação de al-Husseini também destacou o apoio americano ao Estado judeu.

Os EUA, por outro lado, afirmaram que as tropas são mandadas a convite do governo de Bagdá e que não teria sido notificado dos planos para o retorno.

Desde meados de outubro, as forças da coalizão, que contam 2,5 mil soldados americanos no Iraque e 900 na Síria, têm sido alvo de dezenas de ataques. De acordo com a rede de notícias CNN, foram pelo menos 151 ataques realizados por milícias financiadas pelo Irã desde o dia 17 de outubro, sete dias após o início da guerra entre Israel e Hamas em Gaza.

O mais recente ocorreu no sábado, quando grupos pró-Teerã lançaram mais de uma dúzia de mísseis balísticos contra a base de al-Asad, que abriga soldados americanos, no Iraque. Treze projéteis foram abatidos pela defesa antiaérea, mas dois caíram na base, deixando várias pessoas ficaram gravemente feridas. O chefe do Pentágono afirmou, nesta terça-feira, que quatro soldados foram diagnosticados com lesão cerebral traumática, mas disse que todos já voltaram ao trabalho, segundo a CNN.

No início desse mês, o gabinete do primeiro-ministro do Iraque, Mohammed Shia al-Sudani, anunciou que queria uma saída negociada e ordenada dos militares americanos do seu território. À Reuters, o premier disse que a medida era para que o país "não seja um alvo ou justificação para qualquer parte, interna ou estrangeira, interferir com a estabilidade no Iraque e na região".

Ainda segundo a agência de notícias britânicas, al-Sudani tem controle limitado sobre algumas das facções apoiadas por Teerã, e que, por ter precisado do apoio para chegar ao poder há um ano, formam agora um bloco forte no governo.