Venezuela e Guiana apoiam diálogo e Maduro quer Brasil à frente de grupo para resolver disputa
Comissão de ministros de Relações Exteriores teve reunião por cerca de sete horas no Itamaraty
Após encontro mediado pelo Brasil, os ministros de Relações Exteriores de Venezuela e da Guiana reafirmaram nesta quinta-feira a necessidade de apoiar a diplomacia e o diálogo para tratar da disputa territorial de Essequibo, região rica em petróleo. Depois de quase sete horas de discussão, os dois países reforçaram a declaração de Argyle, assinada em dezembro do ano passado em São Vicente e Granadinas, na qual as duas nações se comprometem a não usar a força.
Já a Venezuela deu o recado de que deseja que a comissão de chanceleres, reunida no Itamaraty e sob a liderança do Brasil, possa ser uma espécie de árbitro para resolver, no futuro, questões relacionadas à fronteira e à soberania do território. Há mais de um século a região pertence à Guiana.
— (Na reunião) repetimos a mensagem do presidente Nicolás Maduro de que essa comissão, no futuro, possa ser transformada em uma instância em que possa ser resolvida qualquer diferença entre Venezuela e Guiana e buscar uma solução mutuamente satisfatória — disse o chanceler da Venezuela, Yván Gil Pinto.
A comissão de ministros das Relações Exteriores, que inclui o brasileiro Mauro Vieira e enviados do secretário-geral das Nações Unidas, bem como da Comunidade do Caribe (Caricom), foi idealizada em dezembro.
Para tratar da questão territorial, a Guiana, por sua vez, continua a defender as leis internacionais e compromissos assinados entre os dois países. No Acordo de Genebra, assinado em 1966, ambas as partes se comprometeram a rediscutir as fronteiras. Se não houvesse consenso, o secretário-geral da UNO indicaria a instância que faria a mediação.
Como não houve avanço, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) foi indicada, mas não é reconhecida pela Venezuela. É lá que a Guiana pretende, desde o início da crise, defender os seus limites territoriais.
— A Guina acredita nas leis internacionais. Acreditamos em resolver todos os problemas de forma pacífica. Estamos confiantes de que, na próxima reunião, vamos avançar na discussão e diálogo, com o compromisso de paz em todo o continente — disse Hugh Todd, chanceler da Guiana.
Já o ministro Mauro Vieira afirmou que as delegações da Venezuela e da Guiana expressaram os compromissos de diálogo. Como informou O Globo, o objetivo da reunião, para o Palácio do Planalto, era continuar a baixar a "temperatura" da crise.
— As delegações comprometeram-se, reconhecidas as diferenças de lado a lado, a continuar dialogando com base nos parâmetros estabelecidos pela declaração de Argyle. Nossa região tem a vontade política e todos os instrumentos necessários para avançar em seus projetos de desenvolvimento social justo, em um ambiente pacífico — disse Vireira.
O conflito na região do Essequibo não foi o único tema abordado. Os representantes de Guiana e Venezuela também falaram sobre possibilidade de cooperação na área ambiental e de desenvolvimento social e econômico da América do Sul.
Em fala dirigida à imprensa, o chanceler da Venezuela disse que a reunião foi "franca" e transparente, ocasião em que ambos os lados falaram sobre suas posições. Segundo ele, um "triunfo diplomático".
— Quando o mundo enfrenta múltiplas crises, como bem disse o ministro Mauro Vieira, que não são resolvidas pela via diplomática, na América Latina podemos trabalhar com as divergências que surgem na disputa entre Venezuela e Guiana — disse o venezuelano, que acrescentou: —Vamos continuar dialogando pela via diplomática e afirmar que nenhuma das partes recorrerá a ameaças ou invocação da força.
No mesmo sentido, o representante da Guiana reforçou o compromisso com a paz
— Sem paz não há prosperidade. Nós estamos comprometidos com o processo de diálogo e as leis internacionais. Trabalhamos para ter um continente integrado. Esse foi um bom começo porque fomos capazes de dialogar e trocar ideias. Vamos continuar trabalhando para avançar (no entendimento) — disse o chanceler.
A comissão conjunta deve realizar uma próxima reunião, ainda sem data, também no Brasil.