Mercado

Com Petrobras, Ibovespa resiste à queda da Vale e sobe 0,28%, aos 128,1 mil

Do meio para o fim da tarde, contudo, como nesta quarta-feira (24), o Ibovespa perdeu fôlego, e mais uma vez por conta de Vale

Bolsa de valores - Canva

A combinação de PIB bem acima do esperado no quarto trimestre nos Estados Unidos - em alta de 3,3%, ante mediana de projeções a 2% para o período - e de núcleo da inflação ao consumidor pelo PCE (métrica preferida do Fed) em desaceleração a 2% ao ano no mesmo intervalo deu suporte a que os investidores voltassem a comprar ações moderadamente, no Brasil e no exterior, nesta quinta-feira (25).

O cenário de que a economia americana continua resiliente ao prolongado período de juros altos, e de que a inflação enfim parece convergir para a meta do BC dos Estados Unidos, dá suporte adicional ao apetite por risco desde o exterior, no momento em que ações de tecnologia já surfavam o entusiasmo da IA, em Nova York.

Do meio para o fim da tarde, contudo, como nesta quarta-feira (24), o Ibovespa perdeu fôlego, e mais uma vez por conta de Vale, a ação de maior peso no índice e entre as que mais recuaram no fechamento desta quinta-feira. Até o meio da tarde, Vale ON cedia em torno de 1,5%, e aprofundou a correção com a notícia de que a Justiça Federal condenou a mineradora, a BHP e a Samarco a pagar multa de R$ 47,6 bilhões como indenização por danos morais coletivos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Hoje, faz cinco anos da ruptura de outra barragem ligada à Vale, a do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).

A mineradora brasileira é sócia da BHP na Samarco, que explorava a mina de Mariana - cabe recurso da decisão. O juiz federal substituto Vinicius Cobucci determinou que os recursos da multa sejam destinados a um fundo administrado pelo governo federal para ser aplicado nas áreas impactadas pelo rompimento.



Assim, no cabo de guerra entre os dois carros-chefes da B3, Vale (ON -2,20%) e Petrobras (ON +4,64%, PN +3,70%), o Ibovespa obteve leve alta de 0,28%, aos 128.168,73 pontos, colocando os ganhos da semana até aqui em 0,42% que, preservados amanhã, podem constituir a primeira progressão do ano. No agregado das três semanas inaugurais de 2024, o índice da B3 apenas caiu, colocando as perdas do intervalo, até a última sexta-feira, em 4,88%.

Agora, cede 4,48%, contido ainda pela fraca perspectiva de demanda chinesa por commodities e, também, pela postergação das expectativas de corte de juros nos Estados Unidos, de março para maio.

Nesta quinta-feira de feriado municipal em São Paulo, o Ibovespa andou pouco, e sem tropeços até que o noticiário sobre a Vale voltasse a assustar os investidores. Quase no fim da sessão, o índice chegou a mostrar perda de 0,01%, na mínima do dia, aos 127 803,05, tendo chegado no melhor momento, mais cedo, aos 128 696,68 pontos - de toda forma, uma variação estreita, de menos de 900 pontos, entre o piso e o teto do dia. Mesmo com o feriado dos 470 anos da cidade, o giro foi de R$ 19,9 bilhões, pouco abaixo ao de ontem.

O desempenho positivo do Ibovespa era assegurado desde a manhã por Petrobras, com ambas as ações da estatal à frente do petróleo na sessão, após terem perdido contato no dia anterior: hoje, Brent e WTI fecharam em alta de cerca de 3%. Na ponta da carteira teórica na sessão, além de Petrobras ON, destaque também para Magazine Luiza (+7,81%), Azul (+6,03%) e Assai (+4,87%). No lado oposto, Yduqs (-4,41%), Gol (-3,16%) - após a empresa ter dado início à reestruturação financeira na Justiça dos Estados Unidos -, Pão de Açúcar (-2,61%) e Vale.

Após ter limitado ganhos ontem - em dia que havia sido muito positivo para o setor metálico -, Vale ON mais do que devolveu, hoje, a alta de 1,01% que havia computado na quarta-feira - na contramão do minério de ferro na China, que subiu nesta quinta-feira 1,6% em Dalian, perto de US$ 138 por tonelada. Além das dúvidas sobre o nível de preços da commodity e da demanda chinesa pela matéria-prima - somadas agora a uma multa bilionária recomendada pela Justiça -, a gestão da empresa segue sob os holofotes do mercado, com a expectativa para a definição, na próxima semana, da permanência ou não de Eduardo Bartolomeo no comando da companhia.

Hoje, em post na rede social X, a presidente do PT, Glesi Hoffmann, entrou na discussão. Ela argumentou que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega - que estaria sendo defendido para o comando da Vale pelo presidente Lula por intermédio do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em contatos com acionistas de referência - é um bom nome para o conselho de administração. O cenário de Mantega com assento inicial no conselho da mineradora, e de que Bartolomeo continue por um tempo na presidência executiva, é o que prevalece até agora, no mercado.

No quadro mais amplo, o desempenho das bolsas mundo afora foi favorecido, hoje, pela boa leitura do PIB americano, acompanhada por inflação em arrefecimento, no momento em que os agentes de mercado já tinham colocado na conta de que os juros americanos vão demorar um pouco mais para cair - provavelmente, não antes de maio. "O Fed tem mantido a perspectiva de que sua ação sobre juros dependerá do comportamento dos dados econômicos, mas a leitura de hoje sobre o PIB, com a atividade ainda aquecida nos Estados Unidos enquanto a inflação mostra arrefecimento gradual, ajudou as bolsas", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

Com a agenda macro doméstica relativamente esvaziada nesta quinta-feira, os negócios acabaram sendo direcionados pelos sinais sobre os juros no exterior: na zona do euro, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu, pela manhã, manter a orientação da política monetária e o nível atual das taxas de referência no bloco.

Em nota, Robert Schramm-Fuchs, gestor de portfólio de ações europeias na Janus Henderson Investors, avalia que o resultado da reunião deste mês do BCE é positivo para o mercado de ações - e vê possibilidade de cortes nas taxas de juros pelo Banco Central Europeu em abril; antes, portanto, do que o mercado tem precificado recentemente para os juros do Federal Reserve, nos Estados Unidos. Ele menciona a desaceleração da inflação anualizada na zona do euro, e antecipa que a inflação deve atingir a meta de 2%, do BCE, no segundo semestre.