ARTE

Usina de Arte inaugura ''Fall of the Giants'' refletindo a ideia de fragilidade, neste sábado (27)

A dupla de arte francesa, Anne e Patrick Poirier, desenvolveram a obra

As esculturas são dispostas de forma teatral, trazendo colunas, setas e olho ao ar livre - Ricardo Pessoa de Queiroz/Divulgação

Inquietos sobre o mundo ao seu redor, a dupla de arte francesa Anne e Patrick Poirier desenvolveu a obra ''Fall of the Giants'' (Queda de Gigantes), a partir do pensamento crítico sobre a necessidade de reconhecer o passado para entender as circunstâncias do presente.

O conjunto escultórico de oito peças ganha residência permanente no Parque Artístico-Botânico da Usina de Arte, em Água Preta e marca a primeira inauguração do ano do projeto, neste sábado (27), às 16h, com acesso gratuito

Os artistas são também escultores, arqueólogos e arquitetos que têm como alicerce o pensamento científico, desde a etnologia à antropologia, promovendo o diálogo entre a memória e a fragilidade das civilizações, por isso utilizam como elementos de harmonia da arte o fragmento e a ruína das cidades imaginárias. Nesta sexta-feira (26), às 16h, na Biblioteca da Usina de Arte vai acontecer um bate-papo com os artistas Anne e Patrick Poirier.

''Nosso trabalho preocupa-se com a ideia de fragilidade. Seja ela da memória, culturas, natureza ou humanidade. Para expressar esse sentimento, usamos todos os tipos de materiais, imagens e metáforas. E entre as nossas metáforas favoritas estão as ruínas. Arquiteturas ou esculturas quebradas são as imagens mais evidentes dessa fragilidade'', explica o casal. 

A nova reflexão de Anne e Patrick sobre as heranças das civilizações, estimula o pensamento que confronta a noção linear da história (em direção ao avanço e ao progresso) com as experiências de sobrevivência nesses territórios, aspirando complexidades daquilo que nos antecede. Por isso, se alinha com a sociedade açucareira que marca a história e geografia da Usina de Arte, antes conhecida como Usina Santa Terezinha, a maior produtora de álcool e açúcar do Brasil nos anos 1950. 

''Fall of the Giants''
Desenvolvida entre 1988 e 1989 para a Storm King Art Center, depois compondo a Coleção Mallin de Nova York, e adquirida em leilão da Sothebys, a obra aterrissa na Zona da Mata Sul pernambucana, uma das principais regiões geopolíticas produtoras da cana-de-açúcar do País, que viabilizou o projeto colonial no Brasil.

Ainda que em novos tecidos geográficos e sociais, as esculturas são dispostas de forma teatral, trazendo colunas, setas e olho, estão em um ambiente para o qual foram pensados: ao ar livre, em meio e em sintonia à natureza. Para isso, foram construídas com materiais resistentes às condições expositivas, como aço inoxidável e mármore. Que, aliás, é uma marca do trabalho dos Poirier, conhecidos por instalações monumentais encontradas em locais públicos em todo o mundo, sempre criando pontos de diálogo entre as obras e a exuberância botânica. Na Usina de Arte, ''Fall of the Giants'' foi instalada em uma área de recém-expansão do Parque Artístico-Botânico, com atuais 40 hectares.

Outra marca do trabalho do casal é a presença de analogias com mitologias greco-latinas, e ''Fall of the Giants'' se relaciona com o mito grego de uma guerra entre deuses e gigantes. 

No enredo, Zeus, o rei dos deuses, fecha as portas do submundo para tomar o poder do universo. Para escapar da prisão, os gigantes iniciaram uma batalha em que lutaram com pedras enquanto os deuses os atacavam com flechas. 

''Para nós, a batalha é uma metáfora para a guerra despida entre as forças da razão (deuses) e as da irracionalidade (gigantes). Podemos dizer também que a violência e os perigos da história podem mudar o destino dos assuntos humanos. Como aqui, transformando uma antiga usina de açúcar num jardim de arte'', complementa o casal de artistas.

Dessa forma, os gigantes são representados pelo enorme olho de uma escultura quebrada, enquanto os deuses do Olimpo são materializados pelas suas setas. ''O grande portão, fechado por pedras, talvez seja a entrada do submundo'', finalizam.

Arte como plataforma de reflexão sociopolítica e histórica
Anne e Patrick Poirier vêm para estabelecer essa conexão com a Usina de Arte, nessa instalação estrutural que explora o mundo que caiu. ''Esse mundo de colunas quebradas e de raios que estão chegando na terra, em um estado que infelizmente não tem mais civilização e que trava uma luta contra os elementos. A obra ‘Fall of the Giants’ vai integrar muito bem, e completar esse percurso político que temos na Usina de Arte'', comenta o curador da Usina de Arte, Marc Pottier.

Para a presidente da Usina de Arte, Bruna Pessôa de Queiroz, enquanto um equipamento cultural, localizado na Mata Sul pernambucana, a Usina de Arte traz naturalmente nas suas proposições artísticas instrumentos para pensar criticamente esse território, esse contexto socioeconômico em que estamos inseridos. “‘Fall of the Giants’ se conecta com uma plataforma de obras do nosso acervo que revisitam esse debate civilizacional, em especial a do açúcar, pensando nos paradoxos da dinâmica do campo, do trabalho, das ruínas, do abandono”. São exemplos, os trabalhos ''Ligas Camponesas'' (José Rufino), ''Cabanos em Matas de Água Preta'' (Liliane Dardot), ''Claro-Escuro'' (Alfredo Jaar), ''Cabeça de Bandeirante'' (Flávio Cerqueira) e ''Átrio'' (Marcelo Silveira).

É, a propósito, considerando a noção de ruína como mecanismo de construção, resgate e debate histórico, que a Usina de Arte incorporou os antigos prédios da destilaria de álcool e usina de açúcar como espaços expositivos do seu acervo, como um anexo do Parque Artístico-Botânico. Em setembro do ano passado, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) deu início ao processo de tombamento do conjunto arquitetônico da Usina Santa Terezinha, incluindo a Área Operacional, que figura como um testemunho do processo de transição dos engenhos para as usinas de açúcar, com particular relevância quanto à história da economia canavieira em Pernambuco; e a antiga Vila Operária, que ainda preserva sua configuração urbanística, com casario remanescente da década de 1920.

Sobre a Usina de Arte
Instalado onde funcionou a Usina Santa Terezinha (maior produtora de álcool e açúcar do Brasil nos anos 1950), na cidade de Água Preta, Mata Sul de Pernambuco, o projeto Usina de Arte conecta arte, cultura e meio ambiente, a partir de um museu de arte contemporânea ao ar livre, dentro de um Parque Artístico Botânico. Nele, estão instaladas mais de 40 obras e instalações de nomes como Regina Silveira, Alfredo Jaar, Geórgia Kyriakakis, Saint Clair Cemin, José Spaniol, Claudia Jaguaribe, Matheus Rocha Pitta, Juliana Notari, José Rufino, Flávio Cerqueira, Bené Fonteles, Hugo França, Paulo Bruscky, Denise Milan, Marcelo Silveira, Liliane Dardot, Marcio Almeida, Frida Baranek, Artur Lescher, Carlos Vergara, Júlio Villani, Iole de Freitas e Vanderley Lopes. 

Em meio a um trabalho de reflorestamento com plantas de mais de 1.000 espécies, em uma área de 40 hectares, o Parque Artístico Botânico é eixo central da iniciativa que irriga outras ações de desenvolvimento para a criação de estruturas para geração de renda e valor para a comunidade de 6 mil moradores no entorno do projeto. São exemplos o Fab Lab Mata Sul - Usina de Arte com terminais de computadores conectados à internet, impressoras em 3D e cortadora a laser para projetos da comunidade, a Escola de Música, a Biblioteca e Centro de Conhecimento público com mais de 5 mil títulos, além de parceria com as unidades escolares no apoio de novas práticas pedagógicas.

O objetivo é estimular o turismo, e a consequente atividade econômica na região da Mata Sul de Pernambuco por meio do estímulo ao empreendedorismo na localidade, que viu nascer restaurantes, pousadas, pesque-e-pague, centro de artesanato, guias para passeios ecoturísticos, camping e a cultura de hospedagens domiciliares.

O grupo reúne mais de 40 membros de segmentos plurais da comunidade da Usina Santa Terezinha, sendo viabilizado a partir do apoio de pessoas físicas e jurídicas. 

Visitação
A cerca de 150km do Marco Zero do Recife, o Parque Artístico-Botânico da Usina de Arte é aberto à visitação do público, das 5h30 às 18h, e tem acesso gratuito. Saindo do Recife, os visitantes devem seguir pela BR 101 Sul, sentido Alagoas, até o centro da cidade de Xexéu. De lá, o público segue pela rodovia PE-99, que começa em frente à Paróquia de São Sebastião, e leva até a Usina, situada no Km 10. Entre as opções de alimentação, estão os restaurantes Jardim Botânico, Bodega de Alemão, Recanto Nordestino, Mandacaru Abacate, Ró Lanches, Pesque e Pague do Tio, Oxe Burguer, Pousada e Churrascaria Eucalípto e Restaurante Capim de Cheiro. 

Serviço
Inauguração da obra ''Fall Of The Giantes''

Quando: 27 de janeiro, 16h 
Onde: Parque Artístico-Botânico da Usina de Arte - Rua do Eucalipto Usina, Santa Terezinha, Água Preta, Pernambuco 
Aberto ao público
Informações: @usinadearte