Currículo de promotora do caso Marielle impresso por "Abin paralela" foi recuperado pela CGU
Documento estava em servidor utilizado por funcionários na sede da Agência Brasileira de Inteligência
Entre uma série de documentos impressos na sede da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) recuperados pela Controladoria-Geral da União (CGU) estava o currículo de uma promotora de Justiça do Rio responsável por investigar o homicídio da vereadora Marielle Franco. O material resgatado ajudou a embasar a investigação da Polícia Federal (PF) sobre o suposto esquema de espionagem ilegal no órgão.
De acordo com a CGU, foi identificado no servidor o resumo do currículo de Simone Sibilio, que coordenava o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e atuou na força-tarefa do inquérito sobre o assassinato da parlamentar, ocorrido em 2018. A promotora deixou o caso em 2021.
No relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF aponta que o documento “tem a mesma ausência de identidade visual nos moldes dos Relatórios apócrifos da estrutura paralela”.
A investigação sobre a Abin teve início com a apuração sobre a utilização do FirstMile logo após O Globo revelar o caso, em março do ano passado. Na época, a pasta solicitou acesso a uma sindicância da Abin sobre a ferramenta israelense que permitia monitorar a localização de pessoas por meio de dados de celulares.
Com o avanço das apurações, a CGU descobriu que impressões feitas na Abin deixavam um rastro, pois geravam o chamado “log”, espécie de registro no sistema que mostra a identidade do usuário do equipamento. A partir daí, 120 gigabytes (GB) de documentos foram recuperados e compartilhados com a PF.
É nesse conjunto de documentos que está o currículo da promotora.
A investigação da CGU também apontou que foram produzidos relatórios sem a logomarca da Abin sobre pessoas que não tinham qualquer relação com as atribuições da agência ou que não eram alvos de trabalhos em curso. Parte desses documentos foram elaborados pelos policiais federais levados para atuar na agência pelo então diretor, Alexandre Ramagem (PL-RJ), atualmente deputado federal e alvo da operação da PF ontem.
Em entrevista à GloboNews, Ramagem afirmou que cabe à Polícia Federal verificar quem foi o servidor que incluiu o currículo da promotora no sistema Abin.
— Quando chegou a mim a questão da Marielle eu fiquei: “como é possível?”. Aí eu verifiquei que não tem nada a ver com o sistema. É o currículo da promotora e parece que é uma informação que circulou aí. A inteligência é a coleta de dados e de informações. Se tem um servidor, e eu não sei quem acessou, tem que verificar, Polícia Federal, quem alimentou e quem é a pessoa que colocou o currículo da promotora. E perguntar a essa pessoa o porquê — disse.