Polícia Federal ouve servidores da Abin sobre uso de programa secreto
Operação da última quinta-feira atingiu o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-chefe da agência no governo Bolsonaro, e policiais federais
A Polícia Federal (PF) colheu, nesta sexta-feira (26), depoimentos para obter mais informações sobre o monitoramento indevido dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de pessoas, incluindo autoridades, como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e deputados federais. A PF ouviu três servidores da Abin.
O inquérito foi aberto após reportagem do Globo revelar o uso do FirstMile, um programa secreto usado para identificar a localização de pessoas com base em dados de celular.
A ação ocorreu durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, na gestão do então diretor Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje deputado federal, e atingiu opositores do então presidente, segundo a investigação.
Na quinta-feira, a PF ouviu alguns dos alvos. Nesta sexta-feira, a polícia ouviu apenas testemunhas. Em relatório, a polícia apontou que Ramagem integrava uma organização criminosa que atuava “com intuito de monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas”. O relatório informa que sua atuação ocorreu entre 2019 e 2021
Em entrevista à Globonews na quinta-feira, Ramagem negou a existência da estrutura de uma “Abin paralela” sob a sua gestão, usada com “viés político” para investigar autoridades, como apontou a Polícia Federal na investigação. Segundo o deputado, ele e os policiais alvos da operação sequer tinham acesso à senha do sistema FirstMile.
— A Abin é enorme e seus departamentos são independentes para fazer seus trabalhos de inteligência. A gente queria organizar como a ferramenta (FirstMile) trabalhava e fizemos auditoria específica para isso. Quando fomos ouvir o diretor responsável pelas senhas e pela gestão para demonstrar como funcionava, quando se negaram a me informar como estavam trabalhando com a ferramenta, eu exonerei esse diretor que era o chefe e encaminhei o procedimento para a corregedoria — disse.
O parlamentar reclamou, ainda, que após a busca e apreensão, a PF não possuía uma intimação para ouvi-lo, e que por isso a oitiva não ocorreu:
— Não quiseram ter a minha oitiva.
FirstMile
Em março do ano passado, O Globo revelou que a Abin utilizou o programa FirstMile para monitorar a localização de pessoas pré-determinados por meio dos aparelhos celulares durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Após a reportagem, a PF abriu um inquérito e identificou que a ferramenta foi utilizada para monitorar políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo.
A ferramenta foi produzida pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint) e era operada, sem qualquer controle formal de acesso, pela equipe de operações da agência de inteligência.