EUA, Egito, Israel e Catar se reúnem em Paris para discutir possível trégua em Gaza
ONU implora para que EUA, Grã Bretanha e Alemanha mantenham financiamento a agência de ajuda humanitária aos palestinos
O diretor da CIA, William Burns, e autoridades do Egito, Catar e Israel se reuniram neste domingo (28) em Paris para discussões sobre um possível acordo de trégua na guerra de Gaza, segundo fontes próximas aos participantes das reuniões. De acordo com o The New York Times, as negociações lideradas pelos EUA estão cada vez mais próximas de um desfecho positivo para a libertação de mais de 100 reféns mantidos pelo Hamas e a suspensão da guerra em Gaza por cerca de dois meses.
Egito, Catar, Estados Unidos e Israel também entraram em contato com as autoridades francesas, informaram as mesmas fontes, com o objetivo de avançar em direção a um acordo.
Segundo o The New York Times, que ouviu fontes do governo dos EUA, ainda há divergências importantes a serem resolvidas, mas os negociadores estão otimistas de que um acordo final está próximo. O presidente Biden conversou por telefone na sexta-feira com os líderes do Egito e do Catar, que serviram como intermediários com o Hamas, para que as divergências sejam contornadas.
Numa declaração em Israel neste sábado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reafirmou o seu compromisso em garantir a libertação dos reféns que não foram libertados no primeiro acordo, mais limitado, em Novembro.
— Até hoje, devolvemos 110 dos nossos reféns e estamos empenhados em devolvê-los todos para casa. Estamos lidando com isso 24 horas por dia, inclusive agora.
Os reféns estão em cativeiro desde 7 de outubro, quando homens armados do Hamas invadiram Israel e mataram cerca de 1.200 pessoas e capturaram outras 240, no pior ataque terrorista da história do país. Desde então, a retaliação militar de Israel já matou mais de 25 mil pessoas, a maioria delas mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Não está claro quantos dos mortos em Gaza eram combatentes do Hamas.
ONU pede que países mantenham doações para ajuda humanitária
Neste domingo, o secretário geral da ONU, António Guterres, implorou aos Estados Unidos e a outros grandes doadores que continuem a financiar a agência da ONU que ajuda os palestinos. Ele explicou que, sem o apoio, o dinheiro da agência acabaria em um mês. Cerca de dois milhões de moradores de Gaza dependem da ajuda humanitária para abastecimento de alimentos, água e serviços essenciais.
Pelo menos oito países, incluindo os Estados Unidos, disseram que suspenderiam parte do financiamento da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados da Palestina (UNRWA), depois de uma dúzia dos seus funcionários terem sido acusados por Israel de participar nos ataques de 7 de Outubro. Nem Israel nem as Nações Unidas tornaram públicos os detalhes das acusações contra os funcionários da UNRWA, o que segue sob investigação.
António Guterres disse que nove dos 12 funcionários acusados foram despedidos, um foi confirmado como morto e que as identidades dos outros dois ainda precisam ser “esclarecidas”.
— Qualquer funcionário da ONU envolvido em atos de terror será responsabilizado, inclusive através de processo criminal — disse ele, em comunicado neste domingo.
Saiba o que é a agência da ONU para a Palestina e por que ela é crucial para a vida em Gaza
Guterres disse estar “horrorizado” com as acusações e que compreende as “preocupações” dos países doadores, mas destacou que “o financiamento atual da UNRWA não permitirá cumprir todos os requisitos” para apoiar os moradores de Gaza em fevereiro.
— Apelo veementemente aos governos que suspenderam as suas contribuições para, pelo menos, garantirem a continuidade das operações da UNRWA — disse o secretário geral. — Os supostos atos repugnantes desses funcionários devem ter consequências. Mas as dezenas de milhares de homens e mulheres que trabalham para a UNRWA, muitos deles em algumas das situações mais perigosas para os trabalhadores humanitários, não devem ser penalizados. As terríveis necessidades das populações desesperadas devem ser atendidas.
O chefe da agência de ajuda humanitária do Conselho Norueguês para os Refugiados repetiu esse sentimento em uma publicação nas redes sociais, escrevendo: “Doadores, não deixem as crianças passar fome pelos pecados de alguns trabalhadores humanitários individuais”.
Israel pede o fim das doações
Já o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, rejeitou a declaração do secretário-geral e apelou a todos os países doadores para suspenderem o seu apoio à UNRWA enquanto se aguarda uma investigação “abrangente”.
Os Estados Unidos – que são o maior doador da agência com centenas de milhões de dólares nos últimos anos – disseram na sexta-feira que iriam reter o financiamento para a UNRWA. Grã-Bretanha, Alemanha e pelo menos quatro outros países seguiram o exemplo no sábado.
O pedido de Guterres veio depois que o chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmar no sábado que era “chocante ver uma suspensão de fundos” para sua agência em resposta a acusações contra um pequeno grupo de funcionários. A agência tem cerca de 13 mil funcionários em Gaza, dos quais 3 mil continuam trabalhando, disse ele. Grupos de ajuda humanitária afirmam que pelo menos 167 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza desde 7 de Outubro, incluindo muitos da UNRWA.
Lazzarini também alertou sobre a crise humanitária em Gaza, dizendo que “o tempo corre em direção a uma fome iminente”.
Quase 600 mil residentes palestinos do território enfrentam fome catastrófica e inanição em Gaza, de acordo com o Programa Alimentar Mundial, outra agência da ONU.
Durante décadas, a UNRWA prestou uma série de serviços sociais à população de Gaza, que está sob bloqueio israelita. O papel da agência tornou-se crucial quando Israel iniciou a sua campanha em outubro para derrotar o Hamas em Gaza. Desde o início da guerra, mais de 80% da população da região foi deslocada e o abastecimento básico de alimentos, água e serviços médicos foi interrompido.