ONU pede garantias para atividades da UNRWA em Gaza após acusações de Israel
Doze funcionários da UNRWA foram acusados de participação nos ataques de 7 de outubro contra o território de Israel
O secretário-geral da ONU pediu garantias à continuidade das operações da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês), depois que uma polêmica vinculada aos ataques do Hamas em 7 de outubro provocou a suspensão do financiamento por vários países.
Doze funcionários da UNRWA foram acusados de participação nos ataques de 7 de outubro contra o território de Israel que provocaram a guerra na Faixa de Gaza.
Neste domingo (28), o governo da França anunciou que não prevê nenhum "novo pagamento" à agência até julho. Estados Unidos, Austrália, Canadá, Itália, Reino Unido, Finlândia, Países Baixos e Alemanha anunciaram neste fim de semana a suspensão temporária do financiamento.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo no sábado aos "governos que suspenderam as contribuições para que, ao menos, assegurem a continuidade das operações da UNRWA".
"Dois milhões de civis de Gaza dependem da ajuda crítica da UNRWA para sua sobrevivência diária, mas o financiamento atual da UNRWA não permitirá cobrir todas as suas necessidades em fevereiro", insistiu.
Ao mesmo tempo, o Exército israelense informou neste domingo que os "combates intensos" prosseguiam no território palestino e que eliminou "terroristas", além de ter apreendido "grandes quantidades de armas"
- 'Atos abjetos' -
A guerra começou quando o grupo islamista atacou o sul de Israel em 7 de outubro, matou quase 1.140 pessoas, a maioria civis, e sequestrou quase 250, segundo um balanço da AFP baseado nos dados divulgados palas autoridades israelenses. Entre os mortos estavam mais de 300 militares.
Em resposta, Israel efetua uma ofensiva aérea e terrestre em Gaza que deixa até o momento 26.422 mortos, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Guterres confirmou que as "acusações extremamente graves" sobre 12 funcionários da UNRWA estão sendo investigadas internamente pela ONU. A agência demitiu nove deles, um foi "confirmado morto" e as identidades de outros dois estavam sendo "determinadas", acrescentou o secretário-geral.
"Os supostos atos abjetos destes funcionários devem ter consequências, mas não devem penalizar dezenas de milhares de homens e mulheres que trabalham para a agência", destacou.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, acusou Guterres de ignorar "as evidências" do envolvimento da UNRWA na "incitação e terrorismo".
O Hamas denunciou as "ameaças" israelenses contra a UNRWA. Na Cisjordânia ocupada, a Autoridade Palestina criticou uma campanha para "liquidar a questão dos refugiados palestinos".
- 'Condições de desespero' -
As relações tensas entre Israel e a UNRWA pioraram desde que a ONU denunciou um ataque na quarta-feira (24) contra um abrigo de deslocados em Khan Yunis, principal cidade do sul de Gaza e atual epicentro da guerra.
Os hospitais Nasser e Al Amal de Khan Yunis estão praticamente sem condições de atender pacientes e sob ataques intensos.
O Exército israelense acusa o Hamas de operar a partir de túneis construídos debaixo dos hospitais de Gaza, o que o grupo nega.
Os combates obrigam os palestinos a fugir para o sul, na direção de Rafah, perto da fronteira com o Egito, onde, segundo a ONU, estão concentrados 1,3 dos 1,7 milhão de deslocados em "condições de desespero".
As ruas por onde passa o esgoto estão lotadas com centenas de milhares de barracas, abrigos inúteis contra as chuvas torrenciais que caíram nos últimos dias, segundo correspondentes da AFP.
"Se a ajuda [da UNRWA] for suspensa, teremos fome. São eles que nos dão farinha, comida e bebida", disse, muito preocupado, Bassam al Masri, um morador do norte da Faixa de Gaza que se refugiou em Rafah.
- Conversas sobre trégua -
Na frente diplomática, os esforços prosseguem para tentar obter uma trégua.
O chefe do serviço de inteligência dos Estados Unidos, William Burns, se reuniu neste domingo em Paris com seus pares de Israel e Egito, e também com o primeiro-ministro do Catar, para negociar um possível cessar-fogo, informaram fontes próximas aos participantes.
Catar, Egito e Estados Unidos já atuaram na negociação de uma trégua estabelecida no final de novembro, que permitiu a libertação de uma centena de reféns em troca de prisioneiros palestinos.
De acordo com as autoridades israelenses, 132 sequestrados permanecem retidos no território palestino e o governo acredita que 28 estão mortos.
O jornal New York Times informou no sábado sobre um possível projeto de acordo para que Israel suspenda a guerra em Gaza por dois meses em troca da libertação de mais de 100 reféns.
Na manhã deste domingo, um grupo de israelenses protestou no ponto de passagem de Kerem Shalom, perto de Rafah, para exigir a libertação dos reféns, o que forçou o retorno dos caminhões com ajuda humanitária. Os manifestantes afirmam que a entrada de assistência contribui para a continuidade da guerra.