Agricultores franceses preparam "cerco" a Paris após 11 dias de protestos
Manifestantes bloquearam estradas e despejaram esterco em frente à prefeituras e escritórios de políticos; pelo menos mil tratores são esperados ao redor da capital
Agricultores franceses, que há 11 dias iniciaram uma série de protestos no país, ameaçaram bloquear as estradas ao redor de Paris nesta segunda-feira (29). A expectativa é que ao menos mil tratores sejam mobilizados para interditar as sete principais vias que levam à cidade até o início desta tarde. A medida ocorre após a resposta do governo para amenizar as recentes manifestações não surtir efeito. Desde sexta-feira (26), o primeiro-ministro Gabriel Attal tem prometido mais apoio aos trabalhadores.
"Nosso objetivo não é aborrecer ou arruinar a vida dos franceses, [mas] pressionar o governo para garantir que encontremos soluções para acabar com a crise" disse o presidente do sindicato FNSEA, Arnaud Rousseau, à rádio francesa RTL nesta segunda. Segundo ele, enquanto as ações acontecem “longe de Paris” não há uma “recepção da mensagem”.
Conforme publicado pelo Le Monde, em toda a França, criadores, agricultores de cereais, horticultores e viticultores bloquearam estradas, despejaram toneladas de esterco em frente à prefeituras, escritórios de políticos, mercados ou do Escritório Francês de Biodiversidade (OFB). Eles exigem preços mais justos para os produtos, a continuação dos subsídios para o diesel agrícola (usado em tratores e outros veículos) e ajuda financeira para agricultores orgânicos.
Em poucos anos, diz a publicação, pressões econômicas e calamidades climáticas se abateram sobre o campo, culminando no aumento das taxas de juros e preços de energia, insumos e alimentação animal. Além disso, há a pressão de indústrias, concorrência de países com regras sanitárias mais flexíveis e flutuação dos preços mundiais. As denúncias começaram em novembro com o sindicato Jovens Agricultores do Tarn, mas agora o governo foi pego de surpresa com a intensidade dos protestos.
Mobilização na Europa
Os agricultores têm bloqueado estradas por mais de uma semana. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, ordenou no domingo uma presença policial “significativa” em Paris para evitar bloqueios em aeroportos e no mercado atacadista de alimentos Rungis, um dos maiores do mundo e que abastece a capital com produtos agrícolas. Ele afirmou, ainda, que 15 mil policiais foram mobilizados para impedir a entrada dos tratores em Paris e manter o acesso aberto.
Vários líderes de sindicatos do setor pediram aos membros que exerçam pressão máxima sobre o governo nesta semana, especialmente antes do discurso de Attal no parlamento, marcado para ocorrer nesta terça-feira. Os protestos, que abordam questões como aumento dos custos de combustíveis e redução de subsídios, se espalharam da Polônia e Romênia para a Europa Ocidental. Na Bélgica, os agricultores também bloquearam estradas do país, sendo algumas ao redor de Bruxelas.
No domingo (28), a França realizou uma reunião interministerial de emergência para discutir a situação. No mesmo dia, Attal prometeu medidas para abordar o que os manifestantes veem como uma concorrência desleal e questões relacionadas à transferência de propriedades agrícolas. Antes, ele já havia se comprometido a reverter um plano de aumento de impostos sobre o diesel e aplicar multas a empresas que não respeitem as regras de negociação de preços.
Presidente do principal sindicato agrícola, Rousseau afirmou que a campanha e os bloqueios continuarão pelo menos até quinta-feira, quando o presidente Emmanuel Macron se encontrará com outros líderes para uma reunião do Conselho Europeu.