rio de janeiro

"Não podemos perder essa oportunidade geopolítica", diz Paes sobre presidência do Brasil no G20

Rio vai sediar eventos do grupo em 2024. Prefeitura mapeou cerca de 40, entre reuniões diplomáticas e encontros paralelos, de entidades empresariais e científicas

Eduardo Paes na abertura da agenda do G20 - Reprodução

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, destacou nesta segunda-feira (29) a importância de ter a cidade como sede do G20, e afirmou que o Brasil não pode perder a oportunidade geopolítica que se abre ao país. O Brasil assumiu a presidência do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, mandato que vai exercer durante este ano. Com isso, um extenso calendário de eventos está programado para a capital fluminense, estimulando o turismo.

"O Brasil teve, há cerca de uma década, as oportunidades mais importantes de sua História, quando conseguimos trazer a Copa do Mundo e os Jogos 2016. Por motivos que conhecemos, perdemos essa oportunidade. Quando o Brasil parecia que ia, nós não fomos. Retrocedemos, voltamos atrás" disse Paes, que participou nesta manhã da abertura da reunião do B20, o fórum que reúne representantes de empresas das nações que integram o G20.

Paes frisou que ao longo dos últimos dez anos viveu uma crise, com volta da pobreza, da fome, “de tudo que não queríamos”.

"O apelo é que não podemos perder essa oportunidade geopolítica mais uma vez dada ao Brasil. Todos os atores de todas as áreas, sem exceção, vão estar com seus olhos voltados para o Brasil no ano de 2024. E, mais uma vez, não podemos perder essa oportunidade" frisou o prefeito.

Cerca de 40 eventos diplomáticos ou paralelos associados ao G20 no Brasil estão na agenda da Prefeitura, antes da reunião de cúpula, prevista para novembro.

Além do fluxo de visitantes – as delegações incluem diplomatas, negociadores, autoridades de segundo escalão, seguranças – que ocupam hotéis, gastam em restaurantes e também buscam algum lazer, eventos do tipo têm a visibilidade internacional como legado, mas especialistas e empresários do turismo alertam para a necessidade de uma política permanente de promoção.

O Rio tem tradição em receber grandes eventos internacionais. Foi sede da final da Copa do Mundo de 2014 e recebeu os Jogos Olímpicos de 2016, como lembrou Paes. Encontros diplomáticos – como a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, e a Rio+20, em 2012 – têm ênfase no aumento da visibilidade.

No caso do G20, as reuniões preparatórias ao longo do ano têm o efeito de elevar a demanda das atividades turísticas por vários meses. Antes da cúpula de chefes de estado – que deverá reunir os principais líderes do mundo, como o presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping – marcada para 18 e 19 de novembro, os encontros terão autoridades de alto escalão, representantes de empresas e organizações da sociedade civil.

Segundo Lucas Padilha, presidente do Comitê Rio G20, vinculado à Prefeitura, apenas as discussões entre representantes de governos, das chancelarias e ministérios de finanças, somam cem reuniões preparatórias. Desse total, 23 serão no Rio – os demais, principalmente as reuniões iniciais, até abril, envolvendo diplomatas e negociadores, serão em Brasília.

"Este ano terá um dos maiores números de eleições da história" afirmou Padilha, citando o pleito presidencial nos EUA, as eleições em Taiwan e a escolha de membros para o Parlamento Europeu. – Muitas dessas eleições serão em países do G20 e afetarão a diplomacia. Isso vai trazer um olhar grande para os eventos no Rio, que vira um palco da diplomacia.

Para além das discussões entre os governos, o G20 mobiliza também outros tipos de reuniões, como as dos chamados “grupos de engajamento”, disse Padilha. Esses grupos são estabelecidos em parceria ou incentivados pelos governos, mas reúnem também representantes da sociedade civil, como empresas e instituições de pesquisa e ensino.

Janeiro: Encontro do Negócios 20 (B20, na sigla em inglês), fórum que reúne representantes de empresas dos 20 países mais ricos do mundo. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) é representante do B20 no Brasil e organiza o evento, marcado para o próximo dia 29. Fevereiro: Após o carnaval, nos dias 22 e 23, haverá o encontro político mais importante antes da cúpula de novembro – a primeira reunião de chanceleres, que será na Marina da Glória. Abril: Em paralelo ao Rio Web Summit, evento de empreendedorismo e tecnologia que terá sua segunda edição este ano, ocorrerá o Startup 20, grupo criado ano passado para debater tecnologia, inovação e novos negócios. Junho: A Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizará o encontro do Ciência 20 (S20), grupo responsável pelas propostas de política científica do G20. Julho: O Ministério da Fazenda organiza o encontro de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais (BCs), para debater os rumos da economia global. No mesmo mês, o Ministério das Relações Exteriores promoverá a reunião da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Outubro: Haverá o encontro do Mulheres 20 (W20), grupo de engajamento do G20 que discute equidade de gênero, e a reunião do T20, que reúne os principais think tanks do mundo. Novembro: No mesmo mês da cúpula de chefes de estado, haverá uma reunião do grupo de engajamento Sociedade Civil 20 (C20), que reúne organizações da sociedade civil, e do Urban 20 (U20), que congrega prefeituras das principais cidades dos países do G20 – as prefeituras do Rio e de São Paulo dividirão a presidência do U20.

Depois do evento do B20, realizado hoje na sede da Firjan, haverá o primeiro evento com representantes de governo, a reunião de chanceleres, que será na Marina da Glória, e deverá reunir o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, que tem representado o presidente Vladmir Putin nos fóruns internacionais desde o início da invasão russa na Ucrânia.

Veja abaixo os principais eventos ao longo do ano:

Preparação e visão de longo prazo
Segundo a consultora Gabriela Otto, presidente da HSMAI Brasil, associação global de executivos de marketing em turismo, e professora da ESPM, eventos como os encontros do G20 têm “inúmeros benefícios”, mas é preciso “muita preparação, visão de longo prazo, estudo de estratégias anteriores em diversos destinos e, claro, investimentos assertivos”.

Na Índia, que exerceu a presidência do G20 no ano passado, antes de passar o posto para o Brasil, houve um aumento de 40% na procura por viagens para Nova Delhi, após a passagem dos encontros diplomáticos por lá, informou Gabriela. Para a especialista, isso foi resultado de um trabalho adicional, não apenas do fato isolado de que a cidade foi sede da maior parte dos encontros:

"O setor do turismo foi considerado um motor chave para o crescimento económico inclusivo no país, envolvendo as populações locais e a sustentabilidade ambiental. Foi o ano do “Visite a Índia”, um projeto consistente do Ministério do Turismo local" disse Gabriela, ressaltando que houve investimentos em infraestrutura, embelezamento da cidade e políticas de desenvolvimento do turismo local. – Sob o ponto de vista turístico, o pós G20 transformou Delhi em uma cidade ainda mais atrativa para os viajantes mundiais.

Trabalho que faltou após Jogos Olímpicos de 2016
Segundo Gabriela e Alfredo Lopes, presidente da HotéisRIO, entidade que representa o setor hoteleiro carioca, esse trabalho permanente e posterior faltou após os Jogos Olímpicos de 2016, em que pese o fato de que o turismo também foi afetado pelos anos de crise política, recessão econômica e pandemia que se seguiram ao evento esportivo.

O fluxo de turistas no verão seguinte aos Jogos Olímpicos, em 2017, “bombou”, lembrou Lopes, mas não se sustentou nos anos seguintes. Para o representante do empresariado, as políticas de promoção do destino turístico devem ser feitas antes, durante e depois de eventos, incluindo os diplomáticos, como os encontros e reuniões do G20:

– O evento sozinho não sustenta a demanda maior. No ano que vem já tem uma outra sede dos encontros do G20 e esqueceram do Rio.