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Resistência Islâmica no Iraque: Quem é o grupo acusado do ataque que matou soldados dos EUA?

Termo é utilizado para designar várias milícias apoiadas pelo Irã e suas operações, mas indícios sugerem que Guarda Revolucionária do Irã tem interferido em suas agendas

A base conhecida como Tower 22, em que soldados americanos foram mortos em ataque rebelde - Planet Labs/AFP

Ao prometer retaliação ao ataque a drone que matou três militares americanos e feriu outros 30, o presidente dos EUA, Joe Biden, admitiu não ter a identificação exata do inimigo responsável pelo pior atentado contra posições americanas desde o início da guerra entre Israel e Hamas. O democrata disse que os EUA estavam "investigando os fatos", fazendo uma referência aparentemente genérica a "grupos militantes radicais apoiados pelo Irã que operam na Síria e no Iraque".

A descrição — imprecisa à primeira vista — pode ser a descrição mais aproximada do rival em questão. A Resistência Islâmica no Iraque, grupo descrito por fontes ocidentais como uma espécie de "cabide de milícias" que atendem aos interesses do Irã, assumiu a autoria do atentado, horas após o ataque.

De acordo com um relatório do ano passado do Washington Institute para o Oriente Próximo, um think tank com sede nos EUA, o termo Resistência Islâmica no Iraque não designa um grupo homogêneo ou com coordenação própria, mas sim a todas as milícias apoiadas pelo Irã no país vizinho e suas operações, incluindo ataques contra outros países, como a Síria.

"As milícias podem ver benefícios em ocultar quais grupos exatos estão atacando as bases dos EUA. A utilização de uma marca genérica e sem logotipo é talvez a extensão final da “estratégia de fachada” que o Irã e os seus representantes têm usado desde 2019 para evitar a responsabilização pelos ataques aos americanos", explicou o perfil do grupo elaborado pelos pesquisadores Hamdi Malik e Michael Knights.

Ainda de acordo com o mesmo relatório, a forma de operação da Resistência Islâmica iraquiana e seu comportamento durante o conflito Israel-Hamas "sugere fortemente" que as Forças Qods da Guarda Revolucionária do Irã estejam pressionando as lideranças dos grupos locais a agirem de forma coligada — impedindo, por exemplo, divergências internas.

O Atlantic Council, outro think tank ocidental, aponta que a identidade exata de quem compõe ou está por trás das estratégias do grupo é propositalmente vago. "A opacidade da marca proporciona a cada grupo armado um nível de negação plausível", aponta a organização.

Conforme a pesquisadora iraniana Sara Bazoobandi, do GIGA para Estudos sobre Oriente Médio, afirmou ao jornal O Globo em entrevista recente, o Irã investe no uso de grupos armados em outros países — como os houthis do Iêmen, que atualmente disparam contra a navios comerciais no Mar Vermelho — como parte de uma estratégia para manter os conflitos regionais longe de Teerã.

"A estratégia do Irã é construída para evitar conflitos e guerras em solo iraniano, uma decisão muito influenciada pela guerra com o Iraque, nos anos 80. Eles querem evitar um conflito direto a todo custo" explicou Bazoobandi.

Após ser apontado por autoridades americanas — incluindo representantes do Partido Republicano — como um tipo de "mandante intelectual" do ataque, o regime iraniano rebateu as acusações, dizendo que as acusações foram feitas com objetivos políticos específicos para reverter as realidades da região.

“[O Irã] não está envolvido nas decisões dos grupos de resistência”, escreveu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, citado pela agência estatal IRNA, em resposta às alegações de que o ataque foi realizado por grupos armados apoiados pelo regime dos aiatolás.

Além do ataque na base militar na Jordânia, onde as forças americanas estavam estacionadas, o grupo reivindicou a autoria de uma série de ataques a posições na fronteira da Síria com a Jordânia. De acordo com o Pentágono, as forças americanas foram alvo de mais de 150 ataques desde meados de outubro

As forças americanas e aliadas no Iraque e na Síria foram alvo de mais de 150 ataques desde meados de outubro, de acordo com o Pentágono.