Alckmin e Mercadante defendem nova política industrial
Vice-presidente e presidente do BNDES participam de abertura do B20, na sede da Firjan
O vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, saíram nesta segunda-feira (29) em defesa da nova política industrial lançada semana passada pelo governo federal, em Brasília, ao tratar de temas geopolíticos na abertura do Negócios 20 (B20, na sigla em inglês). O B20 é um fórum que reúne representantes de empresas do G20, grupo diplomático formado pelos 20 países mais ricos do mundo. Com o Brasil na presidência rotativa do G20, o Rio sedia a abertura do B20, na sede da Firjan.
Em seu discurso, Alckmin enfatizou que o BNDES é "importante na agenda de competividade e de crédito", mas procurou desfazer a impressão de que o programa anunciado semana passada trará mais gastos com subsídios para a indústria. O vice-presidente, que é também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, destacou que haverá juros subsidiados numa parcela pequena de linhas de financiamento. A TR, taxa que reajusta a poupança, abaixo das de mercado, por exemplo, irá apenas para inovação tecnológica.
"O que queremos é indústria inovadora, sustentável, com descarbonização e exportação. A exportação dá um upgrade, muda o patamar das empresas em competividade" disse Alckmin.
Mercadante tocou no tema no discurso e em entrevista a jornalistas, após o evento inicial. O presidente do BNDES enfatizou que o cenário geopolítico atual tem impulsionado políticas industriais e protecionistas nos países ricos e industrializados, o que impõe aos países do chamado "Sul global" fazer o mesmo.
Segundo Mercadante, o Brasil fará isso com poucos subsídios, comparado com os países desenvolvidos – 48% das políticas industriais no mundo atualmente estariam sendo aplicadas pelos EUA, União Europeia e China, citou o executivo.
"Somos compelidos a ter política de estado de proteção comercial, mas não temos a mesma capacidade de fazer subsídios ou crédito subsidiado (que os países ricos têm)" disse Mercadante.
Para reforçar a ideia, após a abertura, o presidente do BNDES contou que teve reunião com uma multinacional que pretende construir plantas para fabricar "fertilizantes verdes", ao mesmo tempo, no Brasil e nos EUA, e os executivos da empresa relataram a quantidade de subsídios oferecidos pelo governo americano.
Mercadante também rebateu, em entrevista, as críticas ao programa de apoio à indústria anunciado semana passada. Frisou que 65% do pacote de R$ 300 bilhões, até 2026, terão juros de mercado e ressaltou que outros setores, como a agropecuária, têm mais subsídio do que a indústria -- Mercadante lembrou que os recursos do Plano Safra, de R$ 360 bilhões apenas neste ano, são subsidiados, valores superiores ao do programa para a indústria. E ressaltou que boa parte dos recursos já haviam sido anunciados e estão previstos no Orçamento.
Política monetária
O presidente do BNDES também refutou a possibilidade de que juros mais baixos do BNDES possam afetar a política monetária -- por essa crítica, feita por parte dos economistas, quando uma instituição pública oferece crédito a taxas abaixo das de mercado, essa parte dos empréstimos não reage à alta dos juros básicos; assim, para conter a oferta de crédito global, o Banco Central (BC) seria obrigado a elevar a taxa básica ainda mais.
"Qual o peso do BNDES no crédito total? 1,3%, não tem tamanho para interferir na política monetária" afirmou Mercadante, ressaltando que espera que o BC reduza a taxa básica Selic em mais 0,5 ponto percentual na reunião da próxima quarta-feira.
Também participando da abertura do B20, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, reforçou a defesa do programa lançado semana passada pelo governo federal. E rebateu as críticas de que essas políticas seriam antigas e ultrapassadas.
"O mundo inteiro está usando ferramentas do passado. Vamos fazer isso. Não tem nenhuma economia forte na histórica recente forte sem indústria" afirmou Alban.