Sagrado e profano de mãos dadas: blocos de Carnaval recebem bênção com água benta em Olinda

Concentração aconteceu no Largo do Amparo, no bairro do Varadouro, em Olinda

Padre Lima asperge água benta em bonecos gigantes, em Olinda - Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Blocos, clubes e agremiações de Carnaval se encontraram, na noite desta segunda-feira (29), no Largo do Amparo, em Olinda, de onde sairam em cortejo até a Paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe para o recebimento de uma bênção com água benta, simbolizando a união do sagrado e profano em mais uma edição do período mais colorido do calendário. Esse evento acontece desde 2019. 

Eu Acho é Pouco, Educandário Maria Gorete, Tá Maluco, Batuques de Pernambuco, Olha a Hora, Os Bolinhos na Folia, Elefante de Olinda, Ceroula, Bloco Afro Aráylê, Bloco Cordas e Retalhos, Cariri Olindense e La Ursa do Bonfim estão entre os grupos que marcam presença no evento.

Orquestras, passistas e bonecos gigantes também se destacam na programação da noite em Olinda.

O responsável pela bênção foi Dom André, da Paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe. Das janelas do espaço, ele abençoou os estandartes dos blocos e os bonecos gigantes, projetando um período carnavalesco de paz e respeito ao próximo.

Depois, ele desceu e aspergiu água benta ao lado do Frei Geraldo, do Convento do Carmo de Olinda, e do padre Lima, que representa a Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Novo. O monsenhor Osvaldo Lopes, vigário episcopal do município do Paulista, também acompanhou a bênção.

Portas abertas para outras religiões
Apesar de promovido pela Igreja Católica, o momento recebe e abençoa blocos e foliões de todas as religiões. Essa diversidade foi ressaltada por Dom André.

“Todo ano superam os números de blocos e também de pessoas. A gente oferece a bênção para que seja um Carnaval de paz, harmonia e respeito. Todos são convidados. Somos irmãos, independente do credo e da etnia”, diz.

Por um 2024 de mais respeito
Maíra Karê é uma prova disso. Ela esteve representando o Afoxé Babá Orixalá Funfun, que participa pela primeira vez do cortejo até a bênção dos estardantes. O bloco conta com cerca de 30 integrantes.

 

“Achei que seria importante, porque a gente é daqui de Olinda. Saímos nas ruas vestidos de branco e pedindo mais respeito, para que haja menos intolerância religiosa em 2024”, justifica, antes de revelar um dos desejos para o longo do novo ano.

“Que todo mundo se respeite, independente de religião”, conclui.

Sagrado
Esse apelo por paz é o mesmo de Maria Chaves, do Eu Acho É Pouco, que participa pela segunda vez.

“Qualquer ação coletiva que pede por paz no Carnaval é importante. É do sagrado. Esperamos ter desfiles muito animados e tranquilos, como foi nos anos anteriores”, relembra.

O Eu Acho É Pouco realizou o seu tradicional Baile Vermelho e Amarelo no mês passado, e neste domingo (28) organizou um ensaio aberto nas ladeiras de Olinda. No próximo dia 10, desfilará em Olinda pela manhã, e na terça-feira seguinte (13), pela tarde.

Também está prevista a realização de mais uma edição do Eu Acho É Pouquinho, a “versão kids” do bloco. Será na manhã do próximo dia 12.

O lado sagrado da noite desta segunda-feira também foi citado pelo padre Lima.

“Temos que aprender aquilo que Deus manifesta. Nada melhor que pedir a benção para Deus nos orientar para sermos pessoas do bem. Cada um segue aquilo do seu coração, mas Deus se faz presente nos movimentos bons da música e do frevo. Na antropologia, o ser tem que manifestar a alegria no físico, no trajar, no se comportar, no dançar… são coisas que às vezes não conseguimos ver naquilo que o outro manifesta. Fazemos essa ligação do profano com o religioso, mas é cultura com sentido de espírito de elevação em Deus”, diz.

Por mais um ano
Membro do Grupo Percussivo Batuques de Pernambuco, Guilherme Montarroyos lista os motivos responsáveis pela segunda vinda ao momento.

O grupo tem 130 pessoas e completará 20 anos em 2024.

“Começamos a participar desta benção dos blocos no ano passado, assim começamos nas ruas abençoados e com essa energia linda que vemos aqui. Traz uma questão de segurança e força, além da tranquilidade de um Carnaval de paz”, garante.