Lula vê disputa entre PF e Abin e quer mais tempo para avaliar situação de diretor-geral
Situação mais delicada é de número 2 do órgão
Apesar do desgaste com as operações da Polícia Fedeal, a avaliação de auxiliares do Palácio do Planalto é que as investigações ainda não trouxeram elementos suficientes para quebrar a confiança que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem no diretor-geral da Agência Nacional de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa. Integrantes do governo, porém, não descartam que o próprio Corrêa tome a iniciativa de pedir demissão diante da divulgação de uma suposta estrutura paralela no órgão.
Segundo aliados, Lula tem vê uma disputa entre duas instituições, a Abin e a PF. O presidente não deve tomar uma decisão sobre o futuro da cúpula da Abin no calor dos acontecimentos, a não ser que surjam novos fatos, de acordo com auxiliares do presidente. Por enquanto, a situação mais delicada é de Alessandro Moretti, o número 2 da Abin.
Côrrea é um homem de confiança de Lula e tem uma relação histórica com o presidente. No primeiro governo do petista (2003-2006), o atual chefe da Abin, que é delegado da PF, implantou e comandou a Força Nacional de Segurança. No segundo mandato (2007-2010), foi diretor-geral da Polícia Federal.
Lula e Côrrea conversaram no fim da semana passada. O diretor-geral da Abin sustentou ao presidente que tem colaborado plenamente com as investigações da PF desde que assumiu o comando da agência e que os casos de espionagem ilegal só vieram à tona por esse empenho.
Mas apesar de verem que Corrêa mantém a sua credibilidade diante do presidente, ministros palacianos avaliam que a permanência de seu braço-direito Alessandro Moretti no cargo se tornou insustentável. Na semana passada, quando a operação foi realizada, Moretti estava de férias na Espanha e recebeu a orientação de retornar ao Brasil.
Moretti foi bancada no cargo por Corrêa. No ano passado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a adiar a sabatina de Corrêa no Senado por esse motivo. Durante o governo de Jair Bolsonaro, o atual número 2 da Abin chefiou o setor de inteligência da Polícia Federal.
Ao escolher Corrêa para comandar a Abin no primeiro semestre do ano passado, Lula deu carta branca para ele reformular o órgão e solicitou que a mudança tornasse o fluxo de informações de inteligência mais ágil. A ideia era que a estrutura que se reportasse diretamente ao gabinete presidencial, sem passar por filtro em ministérios.
Em nota divulgada na semana passada, a Abin disse que "é a maior interessada" na apuração dos fatos e que continuará a colaborar com as investigações. "Há 10 meses a atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) vem colaborando com inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal sobre eventuais irregularidades cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021. A Abin é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações", disse o órgão.