Ressurgem as esperanças de cessar-fogo entre Israel e Hamas em Gaza
Movimento islamista deseja negociar um "cessar-fogo completo" com Israel
A situação dos civis piora a cada dia na Faixa de Gaza, onde combatentes do Hamas e tropas israelenses travaram combates "muito violentos" nesta segunda-feira (29), embora haja esperanças de um cessar-fogo após quase quatro meses de guerra.
O movimento islamista deseja negociar um "cessar-fogo completo" com Israel antes de qualquer acordo sobre a libertação de reféns, afirmou à AFP Taher al Nunu, um alto funcionário do grupo, considerado como uma "organização terrorista" pelos Estados Unidos, União Europeia e por Israel.
Essas declarações surgiram depois que o Catar anunciou que transmitiria ao Hamas um quadro para alcançar um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns retidos no território.
O chefe da inteligência dos Estados Unidos, William Burns, reuniu-se no domingo em Paris com altos funcionários egípcios, israelenses e catarianos para esboçar um projeto de trégua.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou nesta segunda-feira que vê uma "esperança real" para um eventual acordo e disse que essas discussões em Paris resultaram em uma "boa proposta".
Mas no terreno, testemunhas relataram ainda combates "muito violentos" em Khan Yunis, a principal cidade do sul de Gaza, que Israel considera um bastião do movimento islamista.
Os confrontos ocorreram principalmente perto dos hospitais Naser e Al-Amal, que abrigam milhares de refugiados que fugiram dos combates no norte.
Em Israel, as sirenes de alerta soaram em Tel Aviv e no centro do país após o lançamento de foguetes de Gaza, conforme relatou um jornalista da AFP.
O braço armado do Hamas reivindicou os disparos em resposta às "massacres de civis" no território palestino.
Extensão do conflito
O conflito começou em 7 de outubro após o ataque do grupo palestino no sul de Israel, que deixou cerca de 1.140 mortos, na maioria civis, segundo um levantamento da AFP com base em números israelenses.
Catar, Egito e Estados Unidos, que atuam como mediadores desde então, negociaram um cessar-fogo em novembro, que permitiu a troca de cerca de 100 das cerca de 250 pessoas sequestradas em Israel por prisioneiros palestinos.
Segundo as autoridades israelenses, 132 reféns ainda estão em Gaza, incluindo 28 que teriam falecido.
Em resposta ao ataque, Israel prometeu "aniquilar" o movimento islamista e lançou uma ampla operação em Gaza, que deixou até agora 26.637 mortos, a grande maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
As preocupações de que o conflito se estenda pelo Oriente Médio ressurgiram após a morte de três soldados americanos em um ataque com drones na Jordânia, atribuído por Washington a grupos apoiados pelo Irã.
Esta é a primeira vez que militares americanos morrem no Oriente Médio desde o início do conflito.
Os Estados Unidos responderão "de maneira muito consequente", afirmou John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, à CNN.
No entanto, os EUA não buscam entrar em guerra com a República Islâmica, esclareceu. Teerã nega qualquer responsabilidade pelo ataque.
Grupos apoiados pelo Irã intensificaram as hostilidades em outros países da região, como Iêmen, Iraque, Síria e Líbano.
O ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, disse nessta segunda-feira que estava movendo alguns soldados destacados em Gaza "para o norte", na fronteira com o Líbano, onde ocorrem trocas diárias de tiros com o grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã e aliado do Hamas.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse nesta segunda-feira que estava movendo alguns soldados mobilizados em Gaza "em direção ao norte", para a fronteira com o Líbano, onde ocorrem trocas de agressões diárias com o grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã e aliado do Hamas.
Auditoria na UNRWA
Por outro lado, a União Europeia pediu à agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA) que "aceite uma auditoria realizada por especialistas externos independentes escolhidos pela UE".
A UNRWA, que fornece ajuda vital aos palestinos em Gaza, está no centro da tempestade pelo suposto envolvimento de 12 dos seus funcionários no ataque do Hamas em 7 de outubro.
A UNRWA abriu uma investigação na sexta-feira após as acusações de Israel, mas vários dos países que a apoiam suspenderam temporariamente o seu financiamento, incluindo os Estados Unidos e a França. A Nova Zelândia foi o último país a tomar esta medida nesta terça-feira (30, noite de segunda em Brasília).
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para garantir a continuação das suas operações, essenciais para a população.
Um total de 20 organizações humanitárias, entre elas Oxfam, Save de Children e ActionAid, expressaram sua indignação pela suspensão da ajuda em um comunicado conjunto.
"Vivemos da ajuda dada pela UNRWA. Se for suspensa, morreremos de fome e ninguém nos ajudará", disse Sabah Masabih, de 50 anos e moradora de Gaza.
O chefe da diplomacia israelense, Israel Katz, cancelou a reunião prevista para quarta-feira com o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, e pediu sua demissão.
Enquanto isso, a violência continua na Cisjordânia ocupada, onde cinco palestinos morreram por disparos israelenses nesta segunda-feira.
Desde o início da guerra, mais de 360 pessoas morreram na Cisjordânia pelas forças israelenses, segundo o Ministério da Saúde palestino em Ramallah.