Da "rachadinha" a "Abin paralela": alvo da PF, Carlos Bolsonaro já foi investigado em outros casos
Filho de ex-presidente é suspeito de ter recebido informações obtidas ilegalmente pela agência
Alvo de operação da Polícia Federal (PF) na manhã desta segunda-feira por suposta participação em um esquema de monitoramento ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o vereador Carlos Bolsonaro (sem partido- RJ) já esteve na mira de investigadores por suspeitas de praticar "rachadinha" em seu gabinete e de ser o articulador de um esquema de divulgação de notícias falsas.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro está em seu sexto mandato consecutivo na Câmara Municipal do Rio. Ele é apontado como um dos destinatários das informações levantadas de forma clandestina pela Abin. A investigação teve início após O Globo revelar, em março do ano passado, o uso de um programa para monitorar celulares de milhares de pessoas durante a gestão Bolsonaro.
A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em vários endereços ligados a Carlos Bolsonaro, inclusive em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio. Também foram visitados pelos investigadores uma casa em Angra dos Reis, onde ele estava na companhia do pai, durante o fim de semana, e seu escritório político, em Bento Ribeiro, Zona Norte do Rio. A corporação apreendeu o telefone do vereador e mais três computadores que estavam na casa da família na cidade da Costa Verde.
De acordo com as investigações, o vereador é suspeito de receber informações da Abin por meio do deputado Alexandre Ramagem (PL), diretor da agência à época. Ramagem também é investigado e foi alvo de busca e apreensão na última quinta-feira.
'Gabinete do ódio'
O vereador já prestou depoimento à PF na condição de testemunha. À época, em setembro de 2020, o filho "zero dois" do ex-presidente foi citado na investigação sobre o "gabinete do ódio", que apurava a divulgação de mensagens em redes sociais com finalidades antidemocráticas.
Carlos é suspeito de atuar como chefe do grupo durante a gestão do pai na Presidência da República. O "gabinete do ódio" teria se instalado no Palácio do Planalto e atuava nas redes sociais para promover ataques e disseminar notícias falsas contra adversários do governo passado. Em depoimento, Carlos assumiu ter acesso às redes de seu pai, mas negou qualquer vínculo formal com o então governo federal.
Inquérito das fake news
O vereador também é investigado em pelo menos outras duas frentes no Supremo Tribunal Federal (STF): no inquérito das fake news e no das milícias digitais. Os dois casos são relatados pelo ministro Alexandre de Moraes.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu uma investigação sobre uma "rede de desinformação" bolsonarista em outubro de 2022. Na época, a Corte deu três dias para Carlos Bolsonaro explicar o uso político de seus perfis nas redes sociais.
Em entrevista ao podcast de direita Pod Atualizar, Carlos criticou as investigações em curso no STF, entre elas o Inquérito das Fake News, tratado por ele como "inquérito do fim do mundo".
— Esse inquérito das fake news, o inquérito do fim do mundo, que vai ser prolongado sem chegar a lugar nenhum, sem provar nada. Ficam o tempo inteiro nos acusando sem apresentar prova — disse em outubro do ano passado.
'Rachadinha'
O Ministério Público do Rio instaurou, em 2019, dois procedimentos para investigar denúncias de uso de funcionários fantasmas e aplicação do esquema de "rachadinha" no gabinete de Carlos, na Câmara Municipal do Rio. A denúncia foi protocolada com base em reportagem da revista "Época" publicada em junho daquele ano, que mostrava que o "zero dois" empregou sete parentes da sua ex-madrasta Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan.
À "Época", quatro funcionários admitiram que nunca chegaram a trabalhar para o vereador, embora tenham sido nomeados, o que configura como contração de funcionários fantasmas. Uma das principais investigadas pelo MP foi Marta Valle, professora de Educação Infantil e cunhada de Ana Cristina Valle, ex-madrasta de Carlos. Ela ficou lotada no gabinete entre 2001 e 2009, com remuneração que chegou a R$ 17 mil, somando os auxílios. À revista, ela negou ter trabalhado para o "zero dois", e a Casa informou que ela não tinha crachá como assessora.