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Líder do Hamas é aguardado no Egito para negociar trégua na Faixa de Gaza

Quase quatro meses de guerra destruíram a Faixa de Gaza, onde Israel também aplicou um bloqueio estrito ao fornecimento de alimentos, água, medicamentos e energia

Ismail Haniyeh, líder do Hamas, é aguardado no Egito negociar trégua na Faixa de Gaza - Said Khatib/AFP

O chefe do movimento islâmico palestino Hamas, Ismail Haniyeh, deve negociar nesta quinta-feira no Egito uma nova trégua na Faixa de Gaza, onde os combates e bombardeios de Israel continuam apesar de uma situação humanitária crítica. À noite, testemunhas relataram bombardeios israelenses perto do hospital Nasser, em Khan Younis, a grande cidade do sul de Gaza onde Israel acredita que os líderes locais do Hamas se escondem.

Israel anunciou há dias que cercou a cidade e, depois de derrotar os batalhões do Hamas na sua parte oriental, concentra agora as suas ações na zona ocidental. Cerca de 184 mil palestinos registraram-se para pedir ajuda humanitária depois de terem sido forçados a abandonar a região, disse a ONU, que falou de “intensos bombardeios” em toda Gaza e, especialmente, em Khan Younis.

O Ministério da Saúde do Hamas disse nesta quinta-feira que os atentados da noite passada deixaram 119 mortos na Faixa. Por sua vez, a agência palestina Wafa relatou violentos confrontos em Tubas, na Cisjordânia ocupada.

"À beira do abismo"
Quase quatro meses de guerra destruíram a Faixa de Gaza, onde Israel também aplicou um bloqueio estrito ao fornecimento de alimentos, água, medicamentos e energia. A população está “morrendo de fome” e “está à beira do abismo”, alertou na quarta-feira o diretor do programa de emergências sanitárias da Organização Mundial da Saúde, Michael Ryan.

Além disso, o território é "inabitável", com metade dos seus edifícios destruídos, afirmou num relatório a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. A situação corre o risco de ser agravada pela suspensão de doações de vários países à Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), depois de Israel ter acusado 12 dos seus funcionários de estarem envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro.
 

Nesse dia, combatentes do movimento islâmico entraram no sul de Israel e mataram cerca de 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses. Também raptaram cerca de 250 pessoas e levaram-nas para a Faixa de Gaza. Cem pessoas foram libertadas em uma primeira trégua em novembro, em troca com prisioneiros palestinos.

Em resposta ao ataque, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre para “aniquilar” o Hamas, grupo classificado como terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Esta operação já deixou 26.900 mortos, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islâmico.

Proposta de trégua
Para reforçar a negociação de uma segunda trégua, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, regressará ao Médio Oriente “nos próximos dias”, disse um alto funcionário daquele país. O líder do Hamas, normalmente baseado no Catar, deve estar no Egito nesta quinta-feira para abordar uma proposta de acordo formulada durante uma reunião em Paris entre o diretor da inteligência dos EUA, William Burns, e autoridades egípcias, israelenses e do Catar.

Uma fonte do Hamas indicou que o movimento islâmico está analisando uma proposta que consiste em três fases. A primeira incluiria uma trégua de seis semanas durante a qual Israel libertaria entre 200 e 300 prisioneiros palestinos em troca de 35 a 40 reféns. Além disso, entre 200 e 300 caminhões de ajuda humanitária poderiam entrar em Gaza todos os dias.

O Hamas exige um cessar-fogo completo como pré-condição para qualquer acordo, enquanto o governo israelense se limita a falar em uma pausa nos combates, mas não em terminar a sua operação em Gaza.

"Não retiraremos o exército da Faixa de Gaza nem libertaremos milhares de terroristas. Nada disso acontecerá", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na terça-feira.

Além da mediação de Estados Unidos, Catar e Egito, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, ofereceu-se para negociar a libertação dos reféns israelenses através de uma “comissão de paz”. A proposta responde a uma carta privada de Netanyahu, datada de 11 de janeiro, na qual o líder israelense lhe pedia que fizesse “todos os esforços” para interceder pelas pessoas detidas pelo Hamas.

“Considero uma prioridade avançar rapidamente para a cessação das hostilidades e iniciar conversações para a libertação de todos os reféns”, disse Petro, que apoia abertamente a causa palestina e acusa Israel de cometer “genocídio” em Gaza.