Protestos se espalham na Europa, e manifestantes exigem plano de ação contra "concorrência desleal"
Portugal e Espanha aderiram ao movimento, e cerca de mil tratores ocuparam avenidas em Bruxelas antes de cúpula da União Europeia nesta quinta (1°)
A tensão entre os agricultores não diminuiu na União Europeia (UE). Na França, as manifestações continuam pelo 14º dia consecutivo, apesar das concessões da Comissão Europeia — e das cerca de 100 pessoas presas no país em decorrência dos protestos. Na Espanha, os sindicatos agrários mais importantes decidiram, na terça-feira, que voltarão às ruas para exigir um plano de ação. E, nesta quinta, Portugal também aderiu ao movimento.
Ainda nesta quinta, até mil tratores ocuparam avenidas em Bruxelas horas antes de uma cúpula dos 27 países da UE, informou a polícia belga. Embora os líderes europeus tenham discutido principalmente o pacote de ajuda à Ucrânia, o descontentamento no campo também já se infiltrou na agenda. Nas manifestações ocorridas nas últimas semanas na Europa, foram utilizados argumentos diferentes. Mas todos concordam que há uma ira contra a “incoerência das políticas europeias”.
Um dos principais pontos de tensão é o acordo que a UE e o Mercosul negociam há quase 20 anos e que, segundo os agricultores, prejudicaria diretamente o setor na Europa. O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, destacou a disposição de Paris em travar uma “batalha” com a Comissão Europeia contra a assinatura do acordo em sua forma atual. Líder da maior federação patronal da França, porém, Patrick Martin apoiou o acordo, ainda que tenha defendido “verificar” se os países envolvidos respeitam “um mínimo” de regras ambientais e sociais.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, é o foco da cúpula desta quinta-feira, e líderes tentam persuadi-lo a desbloquear a ajuda à Ucrânia. No entanto, ele tem usado os protestos para marcar pontos políticos antes das eleições europeias, e para angariar o apoio da extrema direita. Nesta quarta-feira, Orban disse a repórteres que é “um erro europeu que a voz do povo não seja levada a sério pelos líderes”.
Protestos se espalham na Europa
Na França, país que é o maior produtor agrícola da UE, responsável por 18% da produção, os agricultores já estão mobilizados há duas semanas contra o aumento dos custos de produção, regulamentações rigorosas impostas por Bruxelas e o que chamam de “concorrência desleal” do exterior. Nos protestos, ao menos quatro rodovias ao redor de Paris foram bloqueadas, e as manifestações continuam mesmo que o governo tenha feito uma série de concessões para tentar acalmar os ânimos.
Em Portugal, os agricultores organizaram reuniões e usaram tratores nesta quinta-feira, o que está dificultando o tráfego em algumas estradas e rodovias. Em Caia, perto da fronteira com a Espanha, 200 tratores se reuniram, informou a agência de notícias Lusa. O governo anunciou, nesta quarta, um conjunto de medidas no valor de mais de 400 milhões de euros (R$ 2,1 bilhões) para ajudar os agricultores.
A agricultura, a área mais subsidiada da UE, passará por mudanças profundas à medida que o bloco acelera sua transição para uma economia sustentável e a competição global se intensifica. O setor é fundamental para atingir a ambiciosa meta do Pacto Verde da região de zerar as emissões de gases de efeito estufa até meados do século, um objetivo que exigirá medidas como mais agricultura orgânica, melhorias no bem-estar animal e a introdução da precificação de carbono.
A Comissão Europeia apresentará sua meta de redução de emissões para 2040 na próxima semana, quando dirá que, até aquele ano, o bloco deve ser capaz de reduzir as emissões de gases de efeito estufa não relacionadas ao CO2 no setor em pelo menos 30% (em comparação com 2015). Nos próximos anos, a Europa também quer impulsionar a competitividade agrícola e adaptar sua Política Agrícola Comum para direcionar apoios aos que mais precisam. (Com AFP, Bloomberg e El País).