Vale deixa para depois decisão sobre troca de presidente
Conselho de Administração da mineradora teve reunião para tratar da sucessão nesta sexta-feira, mas encontro terminou sem deliberação. Novo encontro poderá ser convocado na próxima semana
Uma reunião extraordinária do Conselho de Administração da Vale nesta sexta-feira, dia 2, que tratou do futuro do atual CEO da mineradora, Eduardo Bartolomeo, terminou sem uma definição, disse uma fonte a par do assunto, que pediu para não se identificar.
Segundo essa pessoa, o relatório de avaliação de desempenho de Bartolomeo sugeriu que seja feito um processo seletivo para o cargo, com a possibilidade de que o próprio ocupante da cadeira de CEO participe.
Conforme essa fonte, a reunião desta sexta-feira se debruçou sobre a avaliação do atual CEO, mas não deliberou sobre a renovação do mandato ou sobre a troca no comando. A tendência é que haja uma nova reunião extraordinária na próxima semana. Esse novo encontro pode ser convocado a qualquer momento.
Como antecipou o blog da coluna Capital, do Globo, na última terça-feira, o relatório de avaliação do desempenho de Bartolomeo, feito por uma consultoria sob supervisão do Comitê de Pessoas e Remuneração da companhia – formado por quatro dos 13 membros do Conselho – apresentou prós e contras.
Entre os aspectos positivos, o destaque é a melhoria dos padrões de segurança nas operações, especialmente após a tragédia de Brumadinho (MG), onde o rompimento de uma barragem de rejeitos de uma mina da Vale deixou 270 mortos, cinco anos atrás.
Entre os negativos está justamente a falta de habilidade política. Como mais de um observador da gestão de Bartolomeo já disse ao Globo, a capacidade de relacionamento com políticos, de autoridades do governo federal aos governadores dos estados onde a Vale opera – e onde precisa obter licenças ambientais, por exemplo –, não se destaca no currículo do executivo.
Essa dificuldade de relacionamento vinha dando combustível às pressões pela troca de comando na Vale. Desde o ano passado, circula nos bastidores a informação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de que o ex-ministro Guido Mantega assumisse o cargo de CEO da mineradora.
No mês passado, o governo voltou à carga com as pressões a favor de Mantega. Como revelou o colunista do Globo Lauro Jardim, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chegou a telefonar para representantes dos principais acionistas da mineradora falando no nome de Mantega. Até que, na sexta-feira passada, circulou nos bastidores de Brasília a informação de que o Palácio do Planalto desistiu da indicação.
Política de sucessão
Uma definição sobre o futuro de Bartolomeo era esperada até o fim de janeiro, por causa da política de sucessão da Vale. Como divulgado pela companhia em novembro, o processo de sucessão do CEO “deve ser iniciado entre 6 e 4 meses antes do vencimento do prazo de gestão (mandato)” do atual ocupante do cargo. O mandato de Bartolomeo termina no fim de maio, ou seja, o prazo final para começar o processo deveria ser o fim de janeiro.
Mesmo assim, algumas pessoas que acompanham o processo vinham ressaltando, desde a semana passada, que o processo pode ser dado como iniciado. Na semana passada, por exemplo, houve reuniões do Comitê de Pessoas e Remuneração, para tratar do relatório de avaliação apresentado ao Conselho como um todo nesta sexta-feira.
Segundo uma das fontes ouvidas pelo Globo, além de expor prós e contra da gestão de Bartolomeo, o relatório de avaliação apresentado na reunião desta sexta-feira do Conselho sugere como opção a realização de um processo seletivo com a participação do atual CEO.
Conforme as regras da política de sucessão, o Conselho pode decidir pela renovação do mandato de Bartolomeo ou pelo "início do processo sucessório". Na segunda opção, "deve-se realizar a contratação de empresa de padrão internacional, reconhecida por sua expertise na seleção de executivos globais", mas o Conselho "deverá considerar os candidatos internos mapeados" para entrarem no processo de seleção.
Finalmente, "o Presidente da Vale será selecionado entre os nomes propostos em lista tríplice elaborada pela empresa de padrão internacional de seleção de executivos contratada", diz a política, divulgada pela Vale em novembro.