Ramagem admite possíveis "atividades ilícitas" na Abin, mas culpa ex-número 3
Deputado classificou investigações da PF como 'perseguição': 'Esse é o absurdo que se vê da pesca probatória', disse em entrevista ao portal Metrópoles
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) admitiu, em entrevista ao portal Metrópoles, a possibilidade de que tenham ocorrido "atividades ilícitas" na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), comandada por ele durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
A Polícia Federal (PF) vem apurando se a estrutura do órgão foi utilizada para espionar ilegalmente autoridades e adversários políticos do então presidente, em uma investigação que já cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao próprio Ramagem e ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-titular do Planalto.
Ramagem levantou suspeitas sobre a atuação de Paulo Mauricio Fortunato, diretor de Operações da Abin ao longo de sua gestão. Com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República, o servidor ascendeu e chegou a ocupar o terceiro posto na hierarquia da agência, até ser afastado das funções por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em outubro do ano passado. A medida se deu no âmbito do inquérito que trata do uso pelo órgão do programa espião FirstMile, revelado pelo Globo.
Durante uma das fases das operações desencadeadas pela PF, os agentes apreenderam 170 mil dólares em espécie na asa de Fortunato, o equivalente a pouco mais de R$ 800 mil. Na ocasião, ele argumentou que o montante seria referente a uma poupança familiar. Ramagem sustenta, sem apresentar provas, que as primeiras apurações internas a respeito da conduta do servidor ocorreram sob sua tutela.
— Foi na casa desse servidor que foram encontrados 170 mil dólares, quase R$ 1 milhão. Então, eu que fiz toda apuração, e que gerou a exoneração dele, e que se demonstra que pode ter atividades ilícitas lá dentro. Por que eu agora estou sendo investigado? Esse é o absurdo da perseguição. Esse é o absurdo que se vê da pesca probatória. Por quê? — questionou Ramagem, repetindo uma retórica largamente empregada por bolsonaristas.
Na entrevista, Ramagem negou ter fornecido informações confidenciais em favor de Bolsonaro ou sua família enquanto comandou o órgão de Inteligência. Ele também comentou o uso do FirstMile pela agência.
— Eu acredito que a utilização, em sua grande maioria, quase totalidade, pode ter sido para trabalho de inteligência. Correto. Tem oficiais de inteligência de bom trabalho — descreveu o parlamentar, acrescentando em seguida: — Acredito que uma minoria possa ter desvirtuado. A Agência Brasileira de Inteligência tem as atribuições de combater espionagem industrial, proteção do conhecimento sensível, proteção de estruturas estratégicas, como Itaipu...
Em janeiro, agentes da PF fizeram buscas no gabinete de Ramagem na Câmara dos Deputados e no apartamento funcional dele em Brasília. O depoimento do parlamentar está previsto para ocorrer no fim de fevereiro.