NEGÓCIOS

Arezzo e Soma devem anunciar fusão bilionária hoje: o que esperar da nova gigante da moda brasileira

Dona da marca de calçados, que também controla a Reserva, está prestes a combinar os negócios com a companhia por trás da Animale, da Farm e da Hering. Faturamento anual combinado das duas chega a quase R$ 12 bilhões

Fachada de loja da Arezzo - Divulgação/Arezzo

Ao chegarem a um acordo para fundir seus negócios, a Arezzo&Co e o Grupo Soma darão origem a um conglomerado do varejo de moda. Juntas, as empresas têm um faturamento combinado de quase R$ 12 bilhões, 22 mil funcionários e em torno de 2 mil lojas.

Estarão sob a mesma direção algumas das mais famosas marcas da moda nacional, tanto de vestuário quanto de calçados, como Arezzo, Animale, Farm, Hering, Foxton, Cris Barros, OFF Premium, Maria Filó, Dzarm, Schutz, Anacapri, Vans (licenciada), Reserva e outras.

Desde que as negociações foram reveladas, na quarta-feira, dia 31, as ações das duas empresas se valorizaram, e analistas têm destacado os pontos positivos e os obstáculos da operação.

Veja os principais pontos do que está em jogo:

Conglomerado de moda
A nova companhia teria um faturamento combinado de quase R$ 12 bilhões, 22 mil funcionários e em torno de 2 mil lojas. Com a valorização das ações desde que as negociações sobre a fusão vieram a público, as duas empresas chegaram a sexta-feira com valor de mercado combinado de R$ 13 bilhões.

Ulysses Reis, coordenador de varejo da faculdade paulista Strong Business School, lembra que a fusão entre os dois grupos segue uma tendência já vista em países desenvolvidos, de formação de grandes conglomerados de moda, que ainda não tinha ocorrido no Brasil.

Ganho de escala reduz custos
Fusões e aquisições costumam trazer ganhos para as empresas por causa de reduções de custos associadas ao compartilhamento de áreas administrativas e aumento do poder de fogo nas negociações com fornecedores e clientes.

— Se a gente comparar com a última grande fusão desse tipo no varejo, que é entre (as redes de farmácias) Raia e Drogasil, existe uma vantagem de dividir o bolo, somar e reduzir os custos de uma operação que é muito similar. Entre pontos fortes, têm maiores garantias, taxas menores (para crédito), redução de custos, maior liquidez de mercado e mais visibilidade internacional — diz Enrico Cozzolino, sócio e chefe de análise da Levante Investimentos.
 

Reis, da Strong Business School, ressalta que melhorar nesses pontos é importante porque há dez anos o varejo de moda enfrenta uma demanda fraca.

— O varejo de moda vem perdendo poder dentro do mercado brasileiro desde 2014 – afirma o professor, lembrando que a fusão daria escala a marcas que já são muito fortes.

Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, acrescenta que a fusão, ao ser concretizada, pode ajudar marcas do grupo com ambições internacionais, como é o caso da Schutz e da Farm.

Empresa maior para enfrentar concorrência
Formar um conglomerado para ganhar escala e reduzir custos pode ser ainda mais importante no momento atual, por causa da concorrência de empresas asiáticas, diz Reis, da Strong Business School, dando um destaque especial para a chinesa Shein.

Como reação ao cerco que o governo federal fez contra sites asiáticos que usam remessas internacionais para vender pela internet para clientes no Brasil, a plataforma on-line de venda e roupas anunciou um investimento de R$ 750 milhões para produzir localmente por aqui.

—Todos estão muito assustados com a presença dos chineses — diz Reis.

A musculatura maior conquistada com a fusão também daria mais fôlego para a nova empresa competir ao mesmo tempo no varejo físico e no comércio eletrônico.

Reis lembra que, após a pandemia, as vendas on-line ganharam força no mercado de moda — o crescimento da Shein seria um sinal disso. E mesmo que a tendência seja usar múltiplos canais de venda ao mesmo tempo — a própria marca chinesa tem sinalizado que pretende fazer isso, abrindo lojas físicas —, a escala será importante para competir.

Digestão complexa
As principais ressalvas citadas por analistas e especialistas em varejo à fusão das empresas têm a ver com as dificuldades de combinar tantas marcas sob uma mesma direção.

— Quanto maior e mais complexa a fusão, mais isso se torna crítico. Estamos falando da unificação de culturas, da distribuição de responsabilidades e da harmonização entre os líderes dos negócios. E isso é difícil de saber a priori, porque depende de como será conduzido o processo — disse Serrentino, da Varese Retail.

Serrentino lembra que o Grupo Soma e a Arezzo&Co tiveram desafios recentes de fusão de cultura corporativa e negócios, respectivamente, com a Hering e a Reserva, marcas que foram compradas pelas companhias. Ele acrescenta que o alinhamento dos negócios será “absolutamente crítico” e é o que definirá se a fusão gerará valor.

Com quanto fica cada um
Um ponto essencial em operações de fusão e aquisição é quanto os donos de cada uma das empresas envolvidas no negócio terá da futura companhia combinada. No caso das negociações entre Arezzo&Co e Grupo Soma, não foram divulgados detalhes sobre isso.

Nos comunicados em que confirmaram a existência das negociações, as duas companhias informaram que uma “possível associação” entre elas “poderá envolver a unificação das bases acionárias em uma única companhia com governança compartilhada”.

Segundo o jornal Valor, que revelou o fechamento do negócio neste domingo, a fusão se dará por uma troca de ações, algo comum nas fusões entre companhias abertas negociadas em bolsa. Nesse tipo de operação, o ponto essencial é o “termo de troca”, ou seja, quantos papéis da futura companhia os acionistas de cada uma das empresas envolvidas receberão.

Ainda conforme o Valor, o acordo prevê que os acionistas da Arezzo&Co ficarão com 55% da futura companhia, enquanto os detentores de papéis do Grupo Soma ficariam com 45%. Essa divisão seria condizente com o fato de que o valor de mercado da primeira é maior do que o da segunda.

Além disso, os comunicados de quarta-feira passada informaram que o CEO da futura companhia, caso o negócio fosse adiante, como foi, seria Alexandre Birman, atual CEO da Arezzo&Co. Isso também é condizente com o fato de a Arezzo sair com uma fatia maior.

Incômodo de minoritários
Além dos fundadores das marcas — como Birman, da Arezzo; Roberto Jatahy, da Animale; Marcello Bastos e Kátia Barros, da Farm; e Rony Maisler, da Reserva —, as duas empresas têm grandes investidores como acionistas.

A maior gestora do mundo, a americana BlackRock, tem 5,33% do Grupo Soma, enquanto o banco Opportunity tem outros 6,51%. Na Arezzo&Co, o maior acionista depois da família Birman — que tem 39,4% do capital da empresa — também é a BlackRock, com 5,15%.

Na última quarta-feira, quando as negociações foram reveladas, o blog da coluna Capital, do GLOBO, registrou o descontentamento do sócio de uma gestora de recursos que tem papéis do Grupo Soma.