Número de incêndios dispara no Pantanal em plena estação das chuvas
A suspeita é de que as chamas foram iniciadas por um fazendeiro; região há meses enfrenta calor extremo, com temperaturas superiores a 35ºC por dias seguidos
O clima deste ano começou pior do que o de 2023 no Pantanal. A Serra do Amolar (Mato Grosso do Sul), uma região estratégica para a biodiversidade, sofre com incêndios florestais desde o fim do mês passado. Segundo o Painel do Fogo, do governo federal, em janeiro ocorreram 115 incêndios, de diferentes tamanhos. Em 2023, foram 28 registros.
No Amolar, em plena estação das chuvas, o fogo começou em 27 de janeiro e se alastrou nos primeiros dias de fevereiro. Esses são os meses normalmente mais chuvosos do ano no Pantanal, mas o calor que não tem dado trégua e as chuvas abaixo do esperado favorecem o espalhamento do fogo, que se acredita ter sido iniciado por um fazendeiro.
Toda a região do Pantanal e dos vizinhos Bolívia e Paraguai há meses enfrenta calor extremo, com temperaturas superiores a 35ºC por dias seguidos, e está entre as que choveu abaixo da média histórica.
As chamas já consumiram 2.440 hectares de vegetação nativa e a fumaça atingiu os municípios de Corumbá e Ladário. A Serra do Amolar fica a cerca de 226 km de Corumbá, pelo Rio Paraguai, o que representa em navegação de cerca de 5 horas.
A suspeita é que um pequeno proprietário rural iniciou o fogo para limpar um baceiro (vegetação flutuante) e perdeu o controle.
O fogo está sendo combatido pela Brigada Alto Pantanal, mantida pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que coordena a operação, com apoio da Marinha do Brasil, Bombeiros de Mato Grosso do Sul e comunidades.
O Amolar é um centro de diversidade, com espécies exclusivas e raras. O temor é que o fogo alcance uma área de restauração, onde foram plantadas 25 mil mudas. Chuvas pontuais têm ajudado a apagar alguns focos.
Essa área do Pantanal não queimava desde 2020, época dos piores incêndios da história do bioma.
O combate do fogo do Amolar enfrenta desafios climáticos e logísticos. O calor extremo leva os brigadistas à exaustão. Somado a isso, é uma região de difícil acesso, onde é fundamental contar com o apoio de avião do Corpo de Bombeiros do MS e de um helicóptero da Marinha para levar água e equipamentos.
As comunidades do entorno da serra têm sido visitadas para a avaliação do risco de serem atingidas pelos incêndios.
É preciso criar aceiros para tentar conter o avanço das chamas e limpar o terreno tanto para tirar material orgânico que possa queimar quanto para abrir rotas de fuga para os animais. Na serra vivem espécies icônicas do Pantanal, como as onças pintada e parda, o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra.
A Serra do Amolar é uma das áreas mais ricas em espécies do Pantanal e tem ainda trechos com vegetação da Mata Atlântica e da Amazônia. É Reserva da Biosfera e Patrimônio Natural da Humanidade. A serra se estende de Corumbá (MS) a Cáceres (MT) por cerca de 80 quilômetros e chega a alcançar quase 1.000 metros de altura, se destacando em meio à paisagem da vasta planície pantaneira. Lá só se chega somente por via aérea ou navegando pelo Rio Paraguai.