Arezzo e Soma confirmam fusão, que vai criar gigante do varejo com faturamento de R$ 12 bilhões
Dona da marca de calçados e da Reserva fecha acordo com o grupo por trás de Animale, Farm e Hering
A Arezzo&Co, que além da marca de calçados femininos é dona da Reserva, e o Grupo Soma, que detém Animale, Farm e Hering, confirmaram nesta segunda-feira a fusão das empresas, criando uma gigante do ramo de vestuário no país. Na quarta-feira, as empresas haviam confirmado, em comunicados, que estavam negociando, mas que nada estava fechado. No domingo, chegaram a um acordo de fusão, revelou o jornal Valor.
A nova companhia resultante terá um faturamento combinado de quase R$ 12 bilhões, 22 mil funcionários e em torno de duas mil lojas. Desde que as primeiras informações sobre as negociações circularam, reveladas pelo site NeoFeed, as ações das duas se valorizaram. Pelas cotações de sexta-feira na B3, o valor de mercado das duas soma R$ 13 bilhões.
Em linhas gerais, analistas de mercado e especialistas em varejo veem a formação do conglomerado como positivo. As duas empresas vinham protagonizando aquisições no setor. Chegaram a disputar a Hering, que o Soma levou.
A alta das ações na semana passada veio acompanhada de relatórios que fizeram ressalvas sobre a complexidade da combinação de tantas marcas, mas as ponderações giraram mais em torno do tamanho dos ganhos com sinergias.
“Apesar de ser um negócio complexo, com várias marcas sob a mesma empresa, criando um gigante nos segmentos de vestuário/calçados (e com riscos de execução no processo de integração), poderia possibilitar a captura de sinergias em distribuição, desenvolvimento de produto, operações de franquia e produção”, diz um relatório do BTG Pactual.
Aquisições recentes
Nos últimos anos, as duas empresas vinham crescendo com aquisições, liderando a consolidação do setor. O Soma teve origem, justamente, numa fusão — entre Animale e Farm, em 2010. A Arezzo adquiriu a marca de vestuário carioca Reserva, em 2020. O Grupo Soma deu um passo além quando adquiriu a Hering, em setembro de 2021. Curiosamente, no início daquele ano, a indústria catarinense havia recusado uma proposta para se juntar à Arezzo.
Segundo os comunicados divulgados na quarta-feira passada, a fusão não envolveria dinheiro. Aconteceria “mediante a junção de suas operações e bases acionárias”. Mesmo ressaltando que nada estava fechado, as empresas informaram que, caso o negócio fosse confirmado, Alexandre Birman, hoje no comando da Arezzo&Co, seria apontado o CEO da futura companhia enquanto Roberto Jatahy, hoje CEO do Soma, ficaria à frente das marcas femininas.
A fusão tem sido bem avaliada no mercado por causa dos ganhos típicos de operações do tipo, como reduções de custos associadas ao compartilhamento de áreas administrativas e aumento do poder de fogo nas negociações com fornecedores e clientes.
— Se compararmos com a última grande fusão desse tipo no varejo, entre (as redes de farmácias) Raia e Drogasil, existe uma vantagem de dividir o bolo, somar e reduzir os custos de uma operação que é muito similar. Entre pontos fortes, têm maiores garantias, taxas menores (para crédito), redução de custos, maior liquidez de mercado e mais visibilidade internacional — disse Enrico Cozzolino, chefe de análise da Levante Investimentos.
Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, diz que fusão pode ajudar marcas das duas com ambições internacionais, como Schutz e Farm. Ulysses Reis, coordenador de varejo da Strong Business School, lembra que a formação de grandes conglomerados de marcas de moda avançou pouco no Brasil, mas é uma tendência já antiga em países desenvolvidos.
Concorrência da China
Só que, agora, vem num momento de acirrada concorrência com empresas asiáticas e após uma década de consumo fraco no Brasil.
—Todos estão muito assustados com a presença dos chineses — diz Reis, lembrando que o avanço do comércio eletrônico, no qual a Shein e outras asiáticas são fortes, é outro motivo para buscar escala.
Por outro lado, as principais ressalvas vêm das dificuldades de combinar tantas marcas sob a mesma direção.
— Quanto maior e mais complexa a fusão, mais isso se torna crítico. Estamos falando da unificação de culturas, da distribuição de responsabilidades e da harmonização entre os líderes dos negócios. E isso é difícil de saber a priori, porque depende de como será conduzido o processo — disse Serrentino, da Varese Retail.