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Embalagem de alga, pulseira vegana: DiCaprio investe em relógios suíços de marca "sexy e sustentável

Lançada em 2020, pequena start-up ID Geneve já causa impacta no mundo europeu da relojoaria; preços chegam a R$ 28 mil

Leonardo Di Caprio investiu em relógios sustentáveis - Instagram//AFP

Couro vegetal e aço inoxidável reciclado derretido em forno solar estão entre os materiais que uma marca de relógios de Genebra está usando em sua busca para fabricar relógios de luxo sustentáveis. A ID Geneve, que vende peças por valores entre 3.600 e 5.000 francos suíços (R$ 20,5 mil a R$ 28,5 mil), já causou impacto no mundo da relojoaria suíça — e o burburinho ficou mais alto desde que o ator americano Leonardo DiCaprio entrou como investidor.

A pequena start-up ID Geneve foi lançada em 2020, prometendo fabricar relógios de alta qualidade com uma abordagem de produção circular, amiga do clima e do ambiente, utilizando materiais não tradicionais.

"Está fora de questão usar caixas feitas de madeira amazônica que serão deixadas acumulando poeira em um armário" disse Nicolas Freudiger, cofundador da empresa, à AFP.

Em vez disso, os 620 relógios que a empresa fabricou até agora foram apresentados em embalagens compostáveis feitas de algas, que podem ser dissolvidas em água e utilizadas como fertilizante de jardim.

Freudiger, formado pela Hospitality Business School de Lausanne e anteriormente empregado da Coca-Cola, teve a ideia de criar uma marca de relógios de luxo sustentável depois de participar de um seminário sobre economia circular.

"Alternativa de luxo com credibilidade"
Ele conversou sobre o assunto com o amigo de infância Cedric Mulhauser, relojoeiro formado na prestigiada marca Vacheron Constantin, e com um amigo designer, Singal Depery Moesch. Os três decidiram criar “uma alternativa de luxo com credibilidade”, disse Freudiger.

Para o seu primeiro modelo, Circular 1, utilizaram aço inoxidável reciclado a partir de sobras da fabricação de relógios e materiais médicos na região suíça do Jura. Eles também arremataram relógios não vendidos de marcas maiores, que haviam sido destinados à destruição, para pegar componentes.

Para as delicadas pulseiras, recorreram em parte a uma empresa italiana que utiliza bagaço de uva - o resíduo sólido deixado após a prensagem - e também a uma startup britânica que fabrica couro vegetal a partir de resíduos verdes recolhidos nos parques de Londres.

O trio também foi às montanhas dos Pireneus franceses para testar um forno solar, regressando com lingotes de aço reciclados, derretidos sem utilização de combustíveis fósseis.

Eles esperam em breve transferir essa parte da produção para a Suíça, em meio a planos para um novo forno solar na cidade de La Chaux-de-Fonds, no noroeste, nas montanhas do Jura.

Durante a feira de inovação ChangeNow em Paris, em março passado, o trio descobriu uma tecnologia desenvolvida por estudantes de Doutorado do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Lausanne (EPFL). Os estudantes, que lançaram uma startup chamada CompPair, dizem que a sua tecnologia permite a reparação simples e rápida de materiais de fibra de carbono utilizados em áreas como a aeronáutica, energia eólica e equipamentos desportivos.

ID Geneve e CompPair decidiram se unir, usando fibras de carbono recicladas provenientes de restos de produção de turbinas eólicas para fazer mostradores que podem ser reparados com uma pistola de ar quente, se estiverem arranhados ou amassados, sem a necessidade de usar produtos químicos.

Sustentável "sexy'
"Queremos mostrar que é tão sexy usar um relógio com tecnologia CompPair quanto um relógio feito com ouro rosa 18 quilates" disse Freudiger.

Por enquanto, estes relógios parecem atrair executivos de empresas e engenheiros especializados em materiais ambientais, que procuram “uma joia que reflita os seus valores”, disse ele.

Analistas dizem que a ID Geneve pode ter encontrado um nicho.

"Há definitivamente uma parte do mercado à procura deste tipo de produtos" disse à AFP Jon Cox, analista industrial da empresa de serviços financeiros Kepler Cheuvreux. "As pesquisas dizem consistentemente que... os consumidores de luxo querem produtos de origem mais sustentável".

A varejista de luxo britânica Watches of Switzerland concordou. “A próxima geração de compradores de relógios está mais consciente do que nunca com o meio ambiente”, disse a empresa, por e-mail.

Os relógios foram um sucesso na Europa e na América do Norte “com peças vendidas imediatamente após o lançamento”, afirmou.

Luca Solca, analista de bens de luxo da empresa de gestão de ativos Bernstein, elogiou a "tentativa muito limpa e elegante de se destacar" da empresa como uma novata numa indústria há muito já estabelecida.

Embora possa enfrentar uma concorrência crescente à medida que outras marcas, incluindo as grandes e já estabelecidas, sigam o exemplo, nessa altura a ID Geneve poderá "não ser mais tão pequena e poderá ter criado um nicho para si", disse ele.

A empresa está aumentando a produção, com o objetivo de fabricar mil relógios este ano.