guerra na ucrânia

Zelensky sugere que uma "grande reforma" na Ucrânia é necessária para renovar esforços de guerra

Prejudicada pela suspensão da assistência militar americana, forças ucranianas lutam para conter as ofensivas russas

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia - Thomas COEX / AFP

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que uma ampla reforma na liderança militar e civil da Ucrânia é necessária para reiniciar os esforços de guerra do país. A fala, realizada em uma transmissão no domingo à noite, indica que a reestruturação de seu governo é iminente — e que irá além da substituição do principal comandante militar, o General Valeriy Zaluzhny.

As tensões entre a liderança militar e civil, que se acumulam há meses, parecem ter atingido um ponto crítico na semana passada, quando Zelensky teria convocado o general para uma reunião e o informado de sua demissão. A decisão, porém, foi adiada, o que criou a sensação de indefinição no topo do governo em um momento precário na guerra.

"É necessário um novo começo. Tenho algo sério em mente, que não tem a ver com uma única pessoa, mas com a direção da liderança do país" disse Zelensky à mídia italiana Rai News.

Enfraquecidas, as forças ucranianas estão lutando para conter as renovadas ofensivas russas, com o epicentro dos combates ocorrendo em torno da cidade de Avdiivka, região oriental de Donetsk. Soldados russos, que têm aproveitado o céu coberto por nuvens espessas para evitar a detecção por drones de vigilância da Ucrânia, conseguiram invadir áreas ao norte da cidade nos últimos dias, segundo soldados ucranianos.

Eles estão ameaçando cada vez mais uma linha de abastecimento, além do controle da Ucrânia sobre a cidade. A queda de Avdiivka representaria a vitória mais significativa das forças russas desde que tomaram Bakhmut em maio, e abriria novas linhas de ataque na tentativa do Kremlin de apoderar-se da região de Donbass, no leste. Também poderia liberar recursos para o avanço russo ao norte, em Kharkiv.

Moscou reuniu mais de 40 mil soldados e centenas de tanques e veículos blindados perto de Kupiansk. A iniciativa foi interpretada por comandantes militares ucranianos como uma intensificação da tentativa de retomar o território em Kharkiv, que as forças russas perderam em uma ofensiva ucraniana há mais de um ano.

Prejuízo da defesa ucranianaA defesa ucraniana foi prejudicada pela suspensão da assistência militar americana. Legisladores republicanos na Câmara dos Representantes bloquearam repetidos esforços para oferecer novos fundos enquanto não há mudanças abrangentes no sistema de imigração americano. A falta de ajuda resultou não apenas na escassez de artilharia e outras armas, mas também tornou difícil o planejamento para o futuro.

Embora os legisladores ucranianos estejam envolvidos em debates acalorados sobre um novo projeto de lei que poderia levar ao alistamento de até 500 mil soldados, a discussão é complicada pelo fato de que os líderes ucranianos não sabem quais recursos estarão disponíveis para treinar e equipar essas tropas. Mesmo antes do impasse em Washington, a ajuda à Ucrânia diminuiu quase 90% entre agosto e outubro (em comparação com o mesmo período em 2022), segundo o Instituto Kiel para a Economia Mundial.

Republicanos e democratas do Senado divulgaram, neste domingo, um projeto de lei de US$ 118,3 bilhões que vincula US$ 60 bilhões em ajuda de segurança para a Ucrânia à assistência para Israel, bem como reformas na segurança da fronteira dos EUA. No entanto, Mike Johnson, presidente da Câmara que insistiu em vincular as questões díspares, afirmou que o projeto de lei já chegaria “morto” no órgão legislativo, controlado pelos republicanos.

Ao mesmo tempo, o ex-presidente Donald Trump tem feito campanha contra o acordo. Ele pressiona seus apoiadores no Congresso para bloqueá-lo. Já o presidente Joe Biden instou os legisladores a aprovarem a legislação, dizendo que “se não pararmos o apetite de Putin por poder e controle na Ucrânia, isso irá além da Ucrânia, e o custo para a América aumentará”.

Combates estagnados
As forças ucranianas estão em seu ponto mais fraco desde 2022. As frustrações de Zelensky com Zaluzhny aumentaram ao longo do último ano, à medida que os combates ficaram estagnados. Apesar disso, o líder ucraniano tem agido com cautela, consciente dos riscos de substituir o popular comandante militar. O general é respeitado por soldados comuns, e é considerado um herói por muitos no país por orquestrar a defesa da Ucrânia nos primeiros meses da guerra.

A demissão dele poderia alimentar preocupações sobre a instabilidade na liderança ucraniana, e certamente seria usada por propagandistas russos para retratar Zelensky como um tirano antidemocrático. No domingo, o presidente da Ucrânia afirmou que, “se quisermos vencer, todos devemos avançar na mesma direção, convencidos da vitória”.

Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional dos EUA, afirmou que a Casa Branca foi consultada sobre possíveis mudanças na liderança da Ucrânia e não opinará sobre decisões de pessoal. À CBS, ele disse que o assunto faz parte do “direito soberano da Ucrânia e do presidente ucraniano de tomar suas decisões”, e que os Estados Unidos não irão se envolver “nessa decisão específica”.