TECNOLOGIA

Microsoft se une a plataforma para criar serviço de notícias com ferramentas de IA

Semafor produz resumos a partir de conteúdos de publicações, como NYT e FT. Empresa de Bill Gates diz que quer buscar maneiras de apoiar os jornalistas, não substituí-los

Microsoft - Eva Hambach/AFP

A Microsoft está fazendo uma série de acordos com organizações de notícias para implementar ferramentas de inteligência artificial generativa na produção de conteúdo. Entre as várias colaborações está uma aliança com a plataforma Semafor para criar uma fonte global de notícias de última hora, que a gigante de tecnologia batizou de Signals, na qual jornalistas usariam ferramentas da Microsoft e da OpenAI, a empresa que criou o ChatGPT.

"Nosso objetivo é encontrar maneiras de apoiar os jornalistas, não de substituí-los", diz a Microsoft em nota.

"O Signals responde às mudanças profundas e contínuas no cenário da mídia digital e ao momento das notícias na era pós-mídia social, bem como aos riscos e oportunidades apresentados pela inteligência artificial", anunciou a Semafor ao apresentar o novo produto.

O Semafor Signals se baseia em diferentes fontes de mídia e resume seu conteúdo em pequenas publicações.

Ação movida pelo NYT
Na segunda-feira, por exemplo, o que ela publicou foram resumos de notícias que citam fontes como The Times, The Washington Post, Der Spiegel, CBS News e Financial Times, entre muitas outras.

Muitos desses meios de comunicação são pagos, enquanto o Semafor Signals oferece esse conteúdo gratuitamente.

Os acordos da Microsoft com vários meios de comunicação e organizações ocorrem em um momento em que a empresa, juntamente com a OpenAI, está enfrentando uma ação judicial movida pelo New York Times pelo uso não autorizado de seu conteúdo para treinar tecnologias de inteligência artificial.

"A Microsoft está lançando várias parcerias com organizações de notícias para adotar a IA generativa. Em um ano em que bilhões de pessoas votarão em eleições democráticas em todo o mundo, o jornalismo é fundamental para a criação de ecossistemas de informação saudáveis, e nossa missão, em parceria com o setor, é garantir que as redações possam inovar para atender a este ano e aos anos seguintes", disse a empresa liderada por Satya Nadella no comunicado em que anunciou a parceria com a Semafor.

A big tech diz que, por meio de suas parcerias, está ajudando as organizações a identificar e refinar procedimentos e políticas para o uso responsável da inteligência artificial na coleta de notícias e nas práticas comerciais.

Sua ideia, acrescenta, é ajudar a "treinar uma nova geração de repórteres nos melhores usos da IA e identificar maneiras pelas quais a IA pode ajudar a criar práticas comerciais eficientes e ajudar a construir redações sustentáveis para as próximas gerações".

Ferramentas para as redações
Os acordos são de natureza diferente. No caso da Semafor, ela fornecerá acesso a fontes locais, nacionais e globais confiáveis e à tradução de seu conteúdo.

Por sua vez, a Craig Newmark Graduate School of Journalism, da Universidade de Columbia em Nova York (CUNY), convidará jornalistas experientes para um programa gratuito no qual vão explorar maneiras de incorporar a IA generativa em seu trabalho e nas redações em um programa híbrido e altamente interativo de três meses.

Esse laboratório de jornalismo com IA será liderado por Nikita Roy, cientista de dados, empresário e apresentador do podcast Newsroom Robots, que explora as aplicações da inteligência artificial no jornalismo.

A Microsoft também fechou acordos com a Online News Association (ONA), que lançou um programa para ajudar jornalistas e diretores de redação a navegar pelo ecossistema de IA em constante mudança; com o GroundTruth Project, que envia jornalistas locais para redações de todo o mundo; e com a Nota, uma nova empresa dedicada a levar ferramentas de IA de alta qualidade para as redações para ajudar a melhorar suas operações, que já se expandiu para mais de 100 redações com o apoio da Microsoft.

A Nota lançará em breve uma nova ferramenta chamada Proof, que dará a jornalistas e editores conselhos sobre como atingir melhor o público com seu conteúdo por meio de legibilidade, análise de SEO, links e outros recursos.

Cada uma dessas organizações terá acesso à experiência, à tecnologia e ao suporte da Microsoft este ano e se comprometeram a compartilhar os resultados de seus projetos com o setor.

"Trabalhando diretamente com redações, universidades, jornalistas e grupos do setor, ajudaremos essas organizações a usar a IA para aumentar o número de leitores, simplificar tarefas demoradas da redação e criar operações comerciais sustentáveis. Nosso objetivo é apoiar redações prósperas e sustentáveis com a tecnologia de que precisam para realizar a função essencial de informar o mundo", diz a Microsoft.

Em defesa do jornalismo
O uso da inteligência artificial é tanto uma oportunidade quanto uma ameaça para as redações tradicionais. A Microsoft tenta tranquilizar sobre seus riscos com uma defesa do jornalismo e dos jornalistas, embora uma das possibilidades seja que grande parte do conteúdo anteriormente produzido por jornalistas seja gerado por ferramentas de inteligência artificial.

"As organizações de notícias locais, nacionais e globais dependem da capacidade de inovar de forma responsável com a tecnologia emergente para permanecerem competitivas. A sobrevivência das notícias baseadas em fatos está intrinsecamente ligada a democracias saudáveis, comunidades prósperas e engajamento cívico", ressalta a empresa, que observa que o jornalismo é essencial para combater a desinformação e as ameaças à democracia.

"No centro de todos esses compromissos estão os próprios jornalistas. Não há organizações de notícias saudáveis sem jornalistas que conheçam suas comunidades e seus problemas, que tenham relacionamentos profundos com líderes do governo e da vida cívica e que saibam como atingir suas comunidades. Esse trabalho é difícil, e nosso objetivo é encontrar maneiras de apoiar os jornalistas nessa missão, e não substituí-los", completa.