Kafka, o mais novo cancelado, por ter-se divertido com pornografia
No Brasil grande parte dos comentários entra em defesa do autor
As redes sociais acabam de eleger, na sexta-feira, dia 2, mais uma vítima de cancelamento - desta vez, se trata de um autor consagrado, prestes a completar seu centenário de morte. Ninguém menos que Franz Kafka. A campanha começou com uma postagem de uma internauta que se identifica como antipornografia, compartilhando o print de uma pesquisa do Google segundo a qual o escritor era viciado em conteúdos pornográficos, nunca se casou e frequentava bordéis.
A mensagem logo viralizou e ultrapassou as barreiras da língua inglesa. Não tardou para que as buscas do X, antigo Twitter, se enchessem de termos em português como "Kafka cancelado" ou "Kafka e pornografia".
Na versão brasileira da polêmica, grande parte dos comentários entra em defesa do autor. Para esses internautas, a crítica teria contornos de moralismo - afinal, nem sequer havia uma indústria pornográfica naquela época, ao contrário de hoje, quando altos investimentos são feitos em filmes eróticos e há questionamentos sobre abuso de mulheres em cena. Para alguns, trata-se de um anacronismo, por falar em cancelamento de um autor que viveu nos moldes da cultura de sua época, a Checoslováquia do início do século 20.
Quem provavelmente se divertiria com essa polêmica seria Roland Barthes, filósofo francês pai da teoria da "morte do autor". Seu estudo aponta que, a partir do momento em que uma obra vem ao mundo, ela é reinterpretada pelas várias leituras que recebe.