Entre o luto e as buscas: o duplo drama de uma família após os incêndios no Chile
O processo de reconhecimento dos corpos tem sido mais lento e tortuoso do que o esperado
Os dias têm sido longos para a família Orellana. Elizabeth morreu e Anastasia, sua única filha, está desaparecida. Enquanto aguardam a liberação do corpo da mãe, familiares distribuem fotos da adolescente de 14 anos cujos rastros se perderam em meio aos incêndios florestais no Chile.
O processo de reconhecimento dos corpos tem sido mais lento e tortuoso do que o esperado. As chamas na região de Valparaíso, no centro do Chile, deixaram 131 mortos.
Enquanto isso, o Serviço Médico Legal (SML) identificou 35 corpos, muitos dos quais estavam completamente desfigurados pelo fogo.
Os Orellana tiveram que esperar quatro dias pela confirmação de que os restos mortais carbonizados dentro de um carro eram de Elizabeth.
A dona de casa de 58 anos morreu na sexta-feira, em frente à casa que dividia com seu atual companheiro — que também não resistiu — e Anastasia.
No dia seguinte, Ariel Orellana, o terceiro de seus cinco filhos, subiu o cerro Quilpué, onde morava sua mãe, e encontrou dois corpos na frente da residência. "Um estava na van e outro um pouco mais longe. Ambos ficaram carbonizados", disse à AFP o cinesiologista de 34 anos.
Angústia contínua
Elizabeth vivia em um bairro de classe operária construído ilegalmente. No dia do incidente, muitos moradores dos cerros Quilpué, El Olivar e Villa Independencia ficaram presos nas chamas, tentando fugir à pé ou em seus carros por vias muito estreitas. O fogo acabou bloqueando as poucas saídas.
Segundo Ariel, o corpo de sua mãe só foi identificado pelos poucos dentes que restaram em sua arcada dentária.
"É horrível ver um familiar nas condições que vi minha mãe", lamentou ele.
Embora seu corpo tenha sido reconhecido, a liberação ainda deverá demorar alguns dias.
Enquanto isso, Carlos Orellana, pai de Anastasia, teve que ficar mais algumas horas no necrotério para realizar um teste de DNA e compará-lo com os dados de outras vítimas.
"Não só fomos com meus filhos identificar o corpo da mãe", mas "talvez com meu DNA pudéssemos identificar o corpo de Anastasia", diz o homem.
Apesar de tudo, Carlos e seus filhos não perdem as esperanças, animados por uma foto que receberam no sábado de uma menina com os cabelos longos e pretos "muito parecida com Anastasia" que estava fugindo das chamas, diz Ariel emocionado.
Junto com outros familiares, Ariel e Carlos distribuem fotos da jovem entre pessoas que moram a vários quilômetros ao redor da casa em ruínas.
"Tenho a esperança de encontrá-la viva porque encontramos dois corpos carbonizados e não encontramos um terceiro. O que nos leva a pensar que talvez ela esteja bem", adicionou Carlos.