investigação

PF diz que houve 'planejamento minucioso' de 'kids pretos' do Exército para 'consumação' de golpe

Trama envolveu reuniões entre oficiais especializados, custeio de 'hotel e material' e 'orientações' sobre onde manifestações deveriam ser realizadas

Mauro Cid - Lula Marques/ Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) apontou que houve "um planejamento minucioso" de integrantes das Forças Especiais do Exército, os chamados kids pretos, para a "execução" de um golpe de Estado que visava impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a PF, o plano envolveu uma reunião em novembro de 2022 com oficiais especializados em ações contra terrorismo, insurgência e guerrilha; pagamento para o custeio de "hotel, alimentação e material"; e "orientações" de locais onde deveriam ser realizadas manifestações.

"Demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do Golpe de Estado", diz trecho da decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes que autorizou a operação da PF que apura organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

Os detalhes do plano foram relatados em mensagens encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que fechou colaboração premiada com a Polícia Federal.

Conforme as investigações, os oficiais de Forças Especiais se reuniram para discutir a trama golpista em 28 de novembro de 2022 - quase um mês após as eleições presidenciais. O encontro foi organizado pelo coronel do Exército Bernardo Romão Correia Neto, que na época era assistente do Comando Militar do Sul e é apontado como "homem de confiança" de Mauro Cid. Ele foi alvo de um mandado de prisão preventiva nesta quinta-feira (8).

Naquele mesmo dia, o militar enviou a Cid uma minuta intitulada de "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro", documento que "provavelmente" foi discutido na referida reunião para pressionar o então Comando do Exército a aderir ao golpe, diz a decisão de Moraes.

Outro militar alvo de prisão preventiva hoje foi o major Rafael Martins de Oliveira, conhecido como Joe, que também tem formação em Forças Especiais. Segundo a PF, ele era o interlocutor de Mauro Cid na "coordenação de diversas estratégias adotadas pelos investigados para execução do golpe de Estado".

Em 11 de novembro de 2022, o major pede "orientações" a Cid sobre locais onde deveriam ser realizadas manifestações e "se as Forças Armadas garantiriam a permanência das pessoas no local". Quatro dias depois, eles trocam mensagens sobre o "chamamento para as manifestações" do feriado do dia 15 de novembro de 2022 - nesse dia, ocorreu o maior ato em frente aos quarteis.

Nas palavras de Moraes, isso "demonstra" que os protestos convocados não se "originaram" de mobilização popular, mas "sim da arregimentação e do suporte direto do grupo ligado ao então Presidente Jair Bolsonaro como estratégia de demonstração de 'apoio popular' aos intentos criminosos".

A PF também captou conversas entre Cid e Martins tratando de recursos financeiros e da convocação de pessoas do Rio de Janeiro. O tenente-coronel sugere R$ 100 mil para o custeio de "hotel, alimentação e material" e pergunta se o valor é "suficiente", ao que o major responde que responde que sim.

"O teor dos diálogos acima, em cotejo com outros elementos de informação ao longo da investigação revelam fortes indícios de que o major Rafael Martins de Oliveira, atuou diretamente, direcionando os manifestantes para os alvos de interesse dos investigados, como STF e Congresso Nacional, além de realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos, com novos indícios de arregimentação e utilização de integrante das Forças Especiais (FE) do Exército especializados em atuação em ambientes hostis, negados ou politicamente sensíveis, para subverter o Estado Democrático de Direito", diz o despacho do Supremo.