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Braga Netto coordenou ataques a militares da cúpula que 'resistiam às investidas golpistas', diz PF

Investigações teriam demonstrado que ex-ministro da Defesa teria atuado para incitar membros das Forças Armadas

Ministro da Defesa, Walter Braga Netto - Isac Nóbrega/PR

A Polícia Federal aponta que o ministro da Defesa do governo de Jair Bolsonaro (PL), Walter Souza Braga Netto, atuou na tentativa de golpe de Estado, coordenando ataques a militares da cúpula das Forças Armadas que “resistiam às investidas golpistas, por respeitarem a Constituição Federal”. O oficial foi alvo de um mandado de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira.

Na decisão que deferiu o mandado contra Braga Netto, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, transcreve trecho de um relatório da PF que afirma que o general teria “se concentrado na escolha de alvos, para a amplificação de ataques pessoais direcionados a militares em posição de comando, que resistiam às investidas golpistas, em coordenação de condutas que identificam o núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado”.

No documento, a PF pontua que, para tanto, os ataques eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais e por meio de influenciadores “em posição de destaque perante a audiência militar”.

Para a PF, Braga Netto e outros oficiais teriam ainda se utilizado da alta patente militar por eles detida “para influenciar e incitar o apoio aos demais núcleos de atuação, por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas, para a consumação do golpe de Estado”.

Ao longo do despacho de Moraes, o magistrado ainda elenca uma série de conversas rastreadas pelos investigadores. Em uma delas, Braga Netto enviou uma mensagem a Ailton Barros o orientando a atacar o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, a quem adjetivou de "Traidor da pátria", e elogiar o almirante de esquadra Almir Garnier Santos.

Em outro trecho dos diálogos, Braga Netto teria encaminhado a Ailton um texto que teria recebido de um militar das Forças Especiais com a seguinte afirmação: "Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”.

De acordo com a PF, nesta manhã estão sendo cumpridos 30 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes e suspensão do exercício de funções públicas.

Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.

O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.

O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.

“Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado”, informou a PF, em nota.