INQUÉRITO

Major das Forças Especiais pediu R$ 100 mil a Mauro Cid para custear ida de manifestantes a Brasília

Ex-ajudante de ordens Mauro Cid pergunta se R$ 100 mil seria suficiente, e major confirma estimativa de gastos com hotel, alimentação e material

Mauro Cid na CPI do DF - Reprodução/TV Câmara Distrital

Preso em operação da Polícia Federal que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira discutiu com o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o pagamento de R$ 100 mil para custear a ida de manifestantes a Brasília. A informação consta em diálogos obtidos pela PF na investigação.

No dia 14 de novembro, Rafael, conhecido como "Joe", troca mensagens com Cid e fala da necessidade de recursos financeiros. O coronel, então, solicita que o major faça estimativa de custos com hotel, alimentação e material e pergunta se a quantia de R$ 100 mil seria suficiente. "ok!! Em torno disso", responde Rafael, que é, em seguida, orientado por Cid a levar a Brasília pessoas do Rio, que a PF acredita ser a cidade do Rio de Janeiro. O diálogo é descrito na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação de hoje.

No dia 15, data das manifestações da Proclamação da República, Rafael enviou a Cid um documento protegido com senha intitulado "Copa 2022" e informou que está "com as necessidades iniciais". O coronel Mauro Cid, então, pergunta novamente sobre a estimativa do valor total, e Rafael reitera a quantia de R$ 100 mil. "Aquele valor de 100 se encaixa naquela estimativa", responde o major.

Em outro trecho, Rafael Martins pede orientação a Cid sobre o local para onde os manifestantes devem ir. "Ae... o pessoal tá querendo a orientação correta da manifestação. A pedida é ir para o CN [Congresso Nacional] e STF [Supremo Tribunal Federal]?? As FFAA [Forças Armadas] vão garantir a permanência lá?", pergunta o major, ao que Rafael orienta: "Cn e stf. Vão".

Para a PF, os diálogos e demais informações obtidas pela investigação "revelam fortes indícios de que o major Rafael Martins de Oliveira atuou diretamente direcionando os manifestantes para os alvos de interesse dos investigados, como STF e Congresso Nacional, além de realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos, com novos indícios de arregimentação e utilização de integrante das Forças Especiais (FE) do Exército especializados em atuação em ambientes hostis, negados ou politicamente sensíveis, para subverter o Estado Democrático de Direito".

De acordo com os investigadores, Rafael era o interlocutor de Mauro Cid "na coordenação de estratégias adotadas pelos investigados para a execução do golpe de Estado e para a obtenção de formas de financiar as operações do grupo criminoso".