Investigação

Jair Bolsonaro defendeu golpe sem armas em reunião com aliados em 2022

O diálogo do ex-presidente com os ministros estava em uma gravação ordenada por Bolsonaro

Presidente Bolsonaro discursa durante ato em desagravo ao seu aliado, deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), no Palácio do Planalto - PR

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu um golpe de Estado sem violência armada em uma reunião com ministros no dia 5 de julho de 2022. Ao mesmo tempo que incentivava a equipe a divulgar desinformações sobre o processo eleitoral, o ex-presidente disse que não era o caso de o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira "botar tropa na rua, tocar fogo e metralhar".

"Nós vamos esperar chegar 23, 24, pra se f****? Depois perguntar: por que que não tomei providência lá trás? E não é providência de força não, car****! Não é dar tiro. Ô Paulo Sérgio (ministro da Defesa), vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar. Não é isso, p****!", disse Bolsonaro.

O diálogo do ex-presidente com os ministros estava em uma gravação ordenada por Bolsonaro e que foi encontrada em um computador do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid. Na reunião, Bolsonaro reconheceu que as pesquisas eleitorais que indicavam uma vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estavam corretas e pediu que os presentes promovessem e replicassem desinformações e notícias fraudulentas sobre o processo eleitoral.



"Daqui para frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me ... demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado", afirmou o ex-presidente.

Para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a deflagração da Operação Tempus Veritatis nesta quinta-feira, 8, a gravação mostra o desvio de finalidade das funções do cargo de ministro de Estado que Bolsonaro estava exigindo.

"Nesse sentido, o então presidente da República exige que seus ministros - em total desvio de finalidade das funções do cargo - deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público", disse o ministro.

No relatório da operação também consta uma troca de mensagens em dezembro de 2022 entre Mauro Cid e o general Marco Antônio Freire Gomes, que era o comandante do Exército. O diálogo sugere que o ex-presidente editou o texto de uma minuta de decreto golpista para anular o resultado das eleições e prender Moraes.

Durante a busca na sede do Partido Liberal, a PF encontrou na sala de Bolsonaro um suposto pronunciamento que ele faria em rede nacional, detalhando os motivos e argumentos para a decretação de um estado de sítio e uso da Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Operação mirou assessores e ex-ministros de Bolsonaro

Ao todo, foram cumpridos nesta quinta 33 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva de pessoas próximas ao ex-presidente como assessores e ex-ministros.

Os alvos da operação estão proibidos de manter contato com os demais investigados e tiveram o exercício de funções públicas suspensas. Eles também não podem sair do País e tiveram os seus passaportes apreendidos. O documento de Bolsonaro foi confiscado na sede do Partido Liberal, em Brasília.

Em entrevista à Coluna do Estadão na quinta, Bolsonaro afirmou que está aguardando a orientação dos responsáveis pela sua defesa. "Estou à disposição dos advogados, o que eles decidirem fazer, eu faço. Estou sem clima. Estou em casa, não vou pescar, não vou fazer nada", disse. O ex-presidente também afirmou que não sabe o motivo da busca e apreensão e voltou a reclamar de uma perseguição por parte da Justiça.