Quem são os 'Kids pretos', grupo militar que teria a missão de prender Alexandre de Moraes
Grupo foi alvo da operação da PF que investiga tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Lula
Deflagrada nesta quinta-feira (8), a Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, para apurar os crimes de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito por membros do governo de Jair Bolsonaro, apontou que integrantes das Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos", estiveram envolvidos em um "planejamento minucioso" para impedir a posse de Lula na presidência da República.
De acordo com a PF, o plano envolveu uma reunião em novembro de 2022 com oficiais especializados em ações contra terrorismo, insurgência e guerrilha. Os "kids pretos" seriam os responsáveis por realizar as prisões de autoridades após a edição de um decreto de intervenção militar. Entre os alvos estaria o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que chegou a ser monitorado pelos investigados.
"Além de (Estevam Theóphilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército) ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado", destaca a decisão que autorizou a operação.
Os detalhes do plano foram relatados em mensagens encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que fechou colaboração premiada com a Polícia Federal.
Os "kids pretos" são militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em operações especiais. Hoje, eles formam um efetivo de aproximadamente 2,5 mil militares. A nomenclatura é um apelido informal atribuído aos militares de Operações Especiais do Exército Brasileiro, pelo fato de usarem um gorro preto.
Para ingressar no grupo, o militar deve passar por um curso de Ações de Comandos e de Forças Especiais, que é realizado no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói (RJ), no Comando de Operações Especiais em Goiânia (GO), ou na 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus (AM).
Segundo dados de reportagem da revista Piauí, publicada no ano passado, 26 ex-membros dos "kids pretos" integraram o governo Bolsonaro ao longo de seus quatro anos, incluindo nomes como o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos, que foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e da Casa Civil, e o general Eduardo Pazuello, que foi ministro da Saúde.
A atuação dos "kids pretos" também é investigada no âmbito da Operação Lesa Pátria, que apura se os militares agiram para iniciar e facilitar a invasão dos prédios dos Três Poderes no dia 8 de Janeiro.